A motivação da renúncia foi a indicação de Fausto Ribeiro como novo presidente do banco por Bolsonaro
FOLHAPRESS
O mercado não se surpreendeu com a renúncia de dois conselheiros do Banco do Brasil por discordarem da interferência do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na instituição.
Deixaram o BB nesta sexta-feira (2) o presidente do conselho, Hélio Magalhães, e o conselheiro José Guimarães Monforte. Ambos foram indicados ao banco pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
A motivação da renúncia foi a indicação de Fausto Ribeiro como novo presidente do banco por Bolsonaro. Segundo Magalhães, Ribeiro não passou pelo crivo do conselho.
Para analistas, a debandada não deve ter grande impacto nas ações do banco no pregão da próxima segunda (5). "O baque com a intervenção na Petrobras foi muito forte. O mercado caiu na realidade com relação ao intervencionismo do governo ali. Foi o divisor de águas", diz Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messem Investimentos.
Em fevereiro, a Petrobras perdeu R$ 102,5 bilhões em valor de mercado após Bolsonaro anunciar que mudaria o comando da estatal. O Banco do Brasil teve desvalorização de R$ 12,7 bilhões.
Desde então, o mercado já esperava a saída de André Brandão, então presidente do BB. Ele renunciou o cargo em março.
Brandão foi criticado por Bolsonaro devido ao plano de reestruturação do banco anunciado em janeiro, com previsão de fechamento de agências e abertura de programa de demissão voluntária. "Os episódios colocaram em xeque a agenda liberal reformista, de privatizações, do governo. É o contrário do que o governo se propôs a fazer", afirma Bertotti.
Até hoje, BB e Petrobras não recuperaram o valor de mercado que tinham antes da intervenção na petroleira, o que deve reduzir os efeitos da saída dos conselheiros do banco no mercado.
"É possível que a gente veja uma correção na segunda, mas já está embutido no preço do banco. Estatais são mais descontadas por conta desses desaforos que não fazem sentido", afirma Alberto Amparo, analista da Suno.
O BB tem mais da metade do financiamento do agronegócio e mais de 20% dos depósitos à vista do país, mas é o mais desvalorizado dentre os bancos na Bolsa.
"Esse desconto maior reflete a percepção de risco político mais elevado para a instituição, que foi intensificado neste ano, devido ao receio de que venha a sofrer algum tipo de ingerência por parte do Estado que possa afetar de forma negativa seus resultados futuros", diz Paloma Brum, economista da Toro Investimentos.
Além disso, o mercado deve refletir a forte criação de empregos nos Estados Unidos no pregão de segunda. Segundo dados divulgados nesta sexta (2), foram 916 mil novas vagas em março, resultado melhor do que economistas esperavam.
"Existem várias outras coisas ocorrendo no mundo que irão afetar abertura do mercado na segunda. Isto posto, o governo federal deve evitar ao máximo interferência em estatais, pois é um vetor ruim para o risco Brasil no médio prazo independente da reação de curto prazo dos preços", afirma Daniel Miraglia, economista-chefe do Grupo Integral.
"A interferência do governo em empresas estatais acontece e é uma ilusão achar que ela vai deixar de existir. Mas, quando ela passa a incomodar os conselheiros e diretores é algo mais preocupante", afirma Marina Braga, analista de alocação na BlueTrade.
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