As crianças do Distrito Federal aprendem desde cedo, em aulas de história e passeios escolares, que os restos mortais de Juscelino Kubitschek estão no Memorial JK, no centro da cidade. E está correto. Mas no cemitério Campo da Esperança, principal cemitério do Distrito Federal, o fundador de Brasília também tem um túmulo. Apesar de seus restos mortais não repousarem lá, o local conserva a elegância e a atmosfera solene digna do homem que levantou uma capital federal em apenas três anos.
O túmulo de JK no Campo da Esperança se tornou uma nota de rodapé na história do presidente, a ponto de brasilienses de menos de 40 anos sequer saberem de sua existência. Mas ele continua lá, como parte de uma paisagem solitária e silenciosa. Na verdade, encontra-se no local mais nobre do cemitério, a Praça dos Pioneiros. O destaque da praça é um espaço todo em mármore, com pouco mais de 8 metros de largura por 5,5 metros de comprimento, cercado por correntes. No meio da campa larga, o espaço reservado ao corpo do presidente. Abaixo do seu nome, uma descrição simples, mas mais que suficiente: O Fundador.
Design familiar
Aqueles acostumados a verem o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal serão rapidamente arrebatados pela sensação de déjà vu ao visitarem o túmulo de Juscelino. Uma singela escultura à frente do jazigo do presidente, como um guarda permanente do descanso presidencial, é carregada de familiaridade.
Trata-se de um obelisco, de linhas curvas e suaves, que tem a função de porta-velas, mas caberia sem estranhamento algum na Praça dos Três Poderes. É claro, nada mais justo que o túmulo do fundador de Brasília fosse projetado por Oscar Niemeyer. Foi feito com sobras do mármore usado na construção de Brasília.
O funeral
O corpo do presidente mais importante da história de Brasília esteve no Campo da Esperança entre 1976 e 1981. O dia do seu enterro está na memória de muitos que viveram naquela época. Roosevelt Dias Beltrão, presidente do Clube dos Pioneiros de Brasília, conta com a clareza de quem acabou de viver o momento.
“Foi uma multidão danada. Largaram para trás o caminhão que levava e o caixão foi nas costas dos pioneiros. Desceram pela W3 Sul até chegar lá no cemitério. Não pesou pra ninguém porque tinha uma multidão que você nem imagina. Uma presença merecida, né? Nenhum presidente teve o carisma que ele teve, fez o que ele fez. Construiu Brasília sem dinheiro, prometeu, inaugurou”, lembrou. “Acho que [o túmulo] deveria ser mais valorizado”, observou.
Em depoimento gravado à época da inauguração do Memorial JK, local totalmente voltado a preservar a história do ex-presidente, a viúva de JK, Sarah Kubitschek, lembrou do dia em que entregou aos braços do povo o corpo do marido. “Vendo aquela multidão chorando e gritando o nome de Juscelino, eu tomei coragem e reparti com o povo aquele ser querido que nos pertencia. No tumulto da ocasião, levantei a minha voz e disse: levai-o, JK pertence ao povo. O enterro de JK ficou sendo a primeira manifestação concreta de que novos horizontes se abriam para a nação."
Beltrão também não economiza elogios para o projetista do túmulo presidencial. “Niemeyer acompanhou o Juscelino até depois da morte dele. Niemeyer era outra capacidade também, não é?”. Mas a permanência de JK no Campo da Esperança foi curta. A ideia de erguer um memorial em homenagem ao presidente, com a guarda dos seus restos mortais, foi de Sarah.
“Durante três anos ele repousou no Campo da Saudade, num túmulo modesto feito por Oscar Niemeyer. Mas eu tinha prometido erguer um memorial em Brasília, que era também um anseio do povo brasileiro”, contou a primeira-dama no depoimento. A área foi cedida pelo governador do Distrito Federal à época, Aimé Lamaison. No dia da inauguração, em 12 de setembro de 1981, os restos mortais exumados de JK foram depositados em um ataúde negro ao som do toque de silêncio do clarim de um fuzileiro naval.
Atualmente, no primeiro túmulo de Juscelino permanecem os restos mortais da própria Sarah Kubitschek e da filha do casal, Márcia, ladeando o espaço reservado ao presidente. Mas o local ficou completamente vazio por quase 15 anos, servindo como um monumento à grandeza do presidente preferido no coração dos brasilienses. Sarah faleceu em 1996, aos 87 anos, e Márcia em 2000, aos 56 anos.
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