quarta-feira, 14 de abril de 2021

Hospitais apontam situação crítica no estoque de 'kit intubação' em Dourados

 


                                              Foto divulgação


O baixo estoque do chamado kit intubação, utilizado com pacientes em estado grave nas UTIs Covid, é um cenário preocupante na rotina de atendimento dos hospitais de Dourados. A situação, claro, não é diferente do que acontece no mundo em meio a pandemia de coronavírus, que acabou por aumentar consideravelmente e rapidamente a demanda pelos insumos. 


"Há falta de disponibilidade de fornecedores por causa da demanda. Nenhuma distribuidora tem previsão nesse momento. Interrompemos as cirurgias eletivas que utilizam os medicamentos desse kit. Estamos estudando protocolos e diluições de modo a racionalizar tais medicamentos, entre outras ações”, explicou o diretor financeiro e administrativo do Hospital Evangélico Mackenzie, Filipe Cunha.


Questionado sobre por quanto tempo a situação se sustenta no cenário em que está, ele disse ser “imprevisível” e que essa é uma preocupação geral, mesmo não sendo uma situação regional. “O princípio ativo do Midazolam está em falta no mundo”, destacou Cunha. 


O medicamento ao qual ele se refere é uma sedação da consciência muito utilizada em pacientes de UTI. Esse é apenas um dos insumos do kit intubação. No HE, estão ativos 33 leitos para atendimento de pacientes da Covid (particulares ou do SUS), sendo 15 deles de UTI.


No Hospital da Cassems (Caixa de Assistência aos Servidores de Mato Grosso do Sul), a assessoria de comunicação confirmou ao Dourados News a situação crítica e informou um controle ‘rigoroso’ do uso dos medicamentos. As cirurgias eletivas na unidade também estão suspensas por tempo indeterminado.


“O Hospital continua operando em sua capacidade máxima de atendimento, com ocupação de 100% dos leitos críticos disponíveis. A Cassems ressalta que para manter os estoques de bloqueadores neuromusculares, utilizados para intubação de pacientes, a unidade suspendeu todas as cirurgias eletivas, mantendo o atendimento apenas para procedimentos cirúrgicos de urgência e emergência. Novos lotes de medicamentos já estão sendo adquiridos e deverão chegar ainda nesta semana, mas o controle segue de forma rigorosa”, diz a nota. 


Lá, são 23 leitos ativos para atendimento de pacientes Covid, sendo 12 deles de UTI.


No Hospital Santa Rita, a situação não é diferente. Apesar de não dar muitos detalhes, a administração confirmou as dificuldades com o estoque de kit intubação, também pela falta geral de oferta no mercado, mas informou que providências estão sendo tomadas para aquisição desses insumos. 


Também procurada pelo Dourados News, a assessoria de comunicação da Prefeitura de Dourados disse em nota que “a Funsaud [Fundação de Serviços de Saúde de Dourados, responsável pela administração do Hospital da Vida e UPA] informou que existe uma quantidade suficiente nos estoques”.


Questionada sobre o que seria “suficiente” diante do cenário crítico relatado pelas outras unidades de saúde e também sobre como estariam os estoques da rede pública, a assessoria limitou-se a dizer “suficiente para atender a atual demanda da rede pública do município”, sem mais detalhes.


Até a publicação dessa reportagem, a assessoria de comunicação do HU-UFGD (Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados) não havia respondido ao contato por informações da unidade, que também é referência no atendimento a pacientes infectados pela Covid-19.


“Se acabar, não sabemos o que faremos, a verdade é essa”, diz médico


Coordenador de UTI no HU-UFGD, o médico intensivista Hermeto Macário Amin Paschoalick também falou com o Dourados News sobre a situação crítica relacionada ao kit intubação. O especialista também atende pacientes da UTI Covid em outras unidades de saúde, como Santa Rita, Cassems e Hospital da Vida.


Ele explica que a preocupação com a possível falta  dos medicamentos, que são usados no momento da intubação e durante o período mais crítico da doença pulmonar, enquanto o paciente precisa ficar no respirador, tornou-se uma angústia diária aos profissionais da saúde.


“Temos tentado já utilizar outros medicamentos que podem ajudar, tentando poupar [os insumos do kit intubação] para os casos mais graves. Sobre acabar, esperamos que não aconteça, porque mesmo nesse cenário crítico os hospitais têm conseguido manter uma quantidade suficiente ainda que de última hora. Mas, se acabar não sabemos como faremos, a verdade é essa. Temos alternativas, mas não é nada que temos certeza que vá funcionar. Então é uma situação muito preocupante”, explicou Paschoalick. 


O médico destacou ainda que há uma percepção geral de que estamos em um momento muito ruim da pandemia e que é possível que piore. Ele citou uma fila de mais de 30 pacientes esperando por leitos de UTI ontem (13) e com nenhuma previsão de disponibilidade.


“A minha opinião pessoal é de que é insuficiente abrir novos leitos. Porque mesmo que libere a fila, vão surgir mais pacientes. A necessidade mais urgente é de cuidados preventivos da população, mais vacinas e quem sabe até um lockdown”, avaliou.


Governo o Estado 


Ontem (13), o Governo do Estado divulgou agenda do governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e do secretário estadual de saúde, Geraldo Resende, junto ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para entre outras pautas, reivindicar o envio de 1,1 milhão de medicamentos do kit intubação.


Esse seria um aumento de 30% no quantitativo a ser enviado para o Estado, justamente por conta da escassez atual de insumos no mercado, com a falta de neurobloqueadores e sedativos para utilização nos leitos de UTI Covid.

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