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quarta-feira, 18 de maio de 2016
Mesmo investigada, quadrilha de João Amorim continuava praticando crime
A juíza Monique Marchioli Leite aceitou o argumento do MPF (Ministério Público Federal) de que, mesmo com a investigação em andamento, a quadrilha chefiada pelo empresário João Amorim continuava praticando crimes. Os principais: lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio. A operação começou há quase um ano, julho de 2015.
De acordo com o portal de notícias G1, a TV Morena teve acesso, com exclusividade, a documentos que mostram os detalhes do esquema de lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio dos investigados na operação Lama Asfáltica em Mato Grosso do Sul. Esses documentos revelam os motivos que levaram a Justiça a decretar as prisões preventivas de oito investigados.
O relatório da Polícia Federal aponta João Amorim como o chefe da quadrilha que fraudava licitações, desviava recursos públicos e pagava propina a servidores que fiscalizavam as obras. O esquema também forçava empresas que venciam licitações de obras públicas a abrir mão dos contratos, ou a repassá-los para a Proteco Engenharia. Como exemplos, a polícia cita a obra do Aquário do Pantanal, entregue pela Egelte para a Proteco, e a construção da Via Morena.
A Moviterra, que venceu a licitação da avenida, rescindiu o contrato e depois retomou a obra, em consórcio com a empreiteira de João Amorim, mas com preço 40% maior.
Para os investigadores, João Amorim usava diversos artifícios para disfarçar a origem ilegal do dinheiro. Ele simulava locação de máquinas e equipamentos para várias empresas e fazia empréstimos entre pessoas de confiança e até parentes. Esses empréstimos, de milhões de reais, também eram realizados de uma empresa para outra, todas pertencentes ao empreiteiro.
Uma outra empresa dele aparece pela primeira vez na investigação: a ASE Participações e Investimentos. Dados da declaração de Imposto de Renda de Amorim no ano passado comprovam que a ASE emprestou R$ 24 milhões diretamente para Ana Paula Amorim, filha do empreiteiro, pegou emprestado R$ 8 milhões de Elza Araújo, secretária e braço direito dele, além de R$ 17 milhões da Proteco. No mesmo ano, a empresa repassou a João Amorim, como distribuição de lucros, R$ 21 milhões.
O próprio João Amorim emprestou mais dinheiro para Ana Paula. Segundo a investigação, pai e filha viviam emprestando dinheiro um ao outro. As transações chegaram a R$ 25 milhões em apenas um ano. Na conclusão dos investigadores, era uma forma de fazer o dinheiro girar por várias contas bancárias e dificultar o rastreamento da origem.
A defesa de todos os acusados negam o envolvimento deles no esquema.
Para os responsáveis pela operação Lama Asfáltica, as contas bancárias de Ana Paula Amorim centralizavam o recebimento do dinheiro sujo. O relatório diz que Ana Paula não frequentava essas empresas, é dona de casa. Todas são comandadas pelo pai. Até para assinar cheques, os documentos eram levados para ela pelos funcionários da Proteco, como mostra a conversa telefônica abaixo gravada pela PF com autorização da Justiça.
Ana Paula: Pai, é o seguinte. Ontem a Elza veio aqui e deixou vários cheques para mim assinar, frente e verso. É isso mesmo?
João Amorim: Isso mesmo, pode ficar tranquila.
Elza Araújo era a responsável pela coleta das assinaturas. Em conversa com a secretária do pai, em 2014, Ana Paula explica que assinou os cheques no hospital, enquanto acompanhava o parto de uma sobrinha, filha de Ana Lúcia, que passou cinco dias em prisão temporária na semana passada.
Ana Paula: Os cheques já estão assinados, tá?
Elza Araújo: Ótimo, eu peço para o Júlio passar para pegar.
Ana Paula: O Júlio é sem noção, né? Você sabe que o Júlio foi pegar a assinatura lá dentro da sala de parto da Lucinha...
Documentos comprovam que a Idalina Patrimonial, empresa que tem como sócias as três filhas de João Amorim, Ana Paula, Ana Lúcia e Renata, comprou a fazenda “Jacaré de Chifre”, em Porto Murtinho, por R$ 30 milhões.
As parcelas foram pagas de várias formas. Parte do pagamento foi feita pela LD Construções, de Luciano Dolzan, genro de Amorim, casado com Ana Paula. A LD é dona da Solurb, empresa de coleta de lixo de Campo Grande.
Segundo a PF, Luciano Dolzan é um laranja e o verdadeiro dono da Solurb também é João Amorim.
Outra parcela pela compra da fazenda, de R$ 4,99 milhões, foi paga com um cheque pessoal de Elza Araújo, secretária do empreiteiro, que também está em prisão domiciliar. Elza tem ainda 2% das cotas da Proteco e já havia emprestado, em 2011, R$ 6,8 milhões ao patrão.
Ana Paula Amorim Dolzan, que permanece em prisão domiciliar, aparece como dona de 11 empresas. Além disso, consta como sócia de dez fazendas. Segundo a investigação, compradas com dinheiro ilícito.
Prisões
João Amorim, apontado como chefe desse esquema, o ex-deputado federal Edson Giroto (PR), o empresário paulista Flávio Henrique Garcia e ex-diretor da Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos (Agesul), Wilson Mariano, estão na cela 17, que tem uma área de 56 m².
A cela tem quatro metros por 14 e ainda um banheiro de três por dois com chuveiro elétrico. O local é dividido por 24 presos que dá uma média de dois metros para cada um. Eles dormem em 12 camas tipo beliche, feitas de cimento.
A Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) permite que os presos tenham televisão e ventilador. Do lado de fora da cela, tem um espaço de cinco metros por 14. Parte é descoberta e tem grades, é onde eles podem tomar sol.
Além desses quatro presos que estão no Centro de Triagem, quatro mulheres investigadas também cumprem prisão preventiva, mas conseguiram o benefício da prisão domiciliar e estão em casa: Rachel Giroto, Mariane Mariano; Ana Paula Amorim e Elza Araújo.
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