terça-feira, 17 de maio de 2016

"Acabou encantado pela serpente", diz Delcídio sobre amizade de Bumlai com Lula





Alvo de uma verdadeira sabatinada feita por jornalistas, o ex-senador Delcídio do Amaral (sem partido), disse na noite desta segunda-feira (16) durante o programa Roda Viva da TV Cultura, que o empresário e pecuarista sul-mato-grossense, José Carlos Bumlai, preso na Operação Lava-Jato desde novembro do ano passado, acabou encantado pelas facilidades que possuía tendo o governo ao seu lado.

Fazendo menção ao ex-presidente Lula, a qual o cita como uma serpente, o ex-parlamentar, cassado por unanimidade na terça-feira passada, 10, falou sobre a interação entre eles e citou até um pequeno ciúme por parte do ex-governador de Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, responsável em apresentar os amigos.

"Conheço o Bumlai como ninguém, ele é da minha terra, de uma família boa, mas acabou encantado pela "serpente", pela ‘jararaca’ – termo usado por Lula quando fora levado para condução coercitiva – e pelas facilidades que o poder lhe dá. Ele conheceu Lula através do Zeca [do PT, ex-governador]. Foi na campanha de 2002, o Lula precisava gravar um programa sobre o agronegócio e o então governador sugeriu que fosse no MS. Lá ele apresentou os dois e acho que ficou até enciumado depois por conta da amizade que se formou. Lula e Bumlai tinha uma interação muito forte", disse.

José Carlos Bumlai é o principal controlador da Usina São Fernando, instalada em Dourados e que atualmente sofre diversos processos trabalhistas e também com pedido de falência por parte do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social), principal credor da empresa que tem dívida de mais de R$ 1,2 bilhão.

Na Lava-Jato, o pecuarista foi indiciado por crimes de corrupção passiva e gestão fraudulenta. Ele é suspeito de ter usado suas empresas para levantar empréstimos que depois foram repassados para pagamento de dívidas da campanha do PT, segundo apontam as investigações.

PETROBRÁS

Mas não foi só do convívio entre as partes que o ex-senador falou durante a entrevista concedida nesta noite.

Delcídio explicou como funciona a escolha do ‘homem de confiança’ na Petrobrás e disse que todos os presidentes sabem detalhadamente tudo o que acontece na estatal, que tem o nome citado constantemente em escândalos no atual quadro político nacional.

"Quem cuida da Petrobrás é o presidente! A direção da empresa sempre teve ligação direta com o presidente. Dizer que eles não sabem o que acontece lá dentro é achar que somos idiotas. Qualquer ação na Petrobrás sempre teve o aval do presidente", disse o ex-senador que teve ligação com os governos Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Lula e agora, por fim, Dilma Rousseff.

LAVA-JATO

"A estratégia do governo era deixar caminhar a operação, até porque acharam que só pegariam os congressistas. Quando se percebeu que a Lava-jato chegava ao Planalto, houve tentativa de obstrução da Justiça", contou Delcídio.

Aliás, o ex-senador foi preso por essa tentativa de obstrução, no dia 25 de novembro. Na época, a Polícia Federal conseguiu gravação feita pelo filho de Nestor Cervero, um dos diretores da Petrobras que negociava delação premiada, onde o sul-mato-grossense oferecia dinheiro e uma rota de fuga ao Paraguai para que não houvesse o depoimento.

LÍDER DO GOVERNO E AFASTAMENTO

Convocado pelo governo Dilma Rousseff (PT) para tentar acalmar a base aliada que se rebelava diariamente e também a oposição, que se encontrava cada vez mais forte, Delcídio aceitou se tornar líder do governo. "Ninguém queria assumir e eu fui".

Nesse contexto, o ex-senador contou que por diversas vezes avisou Dilma sobre a possibilidade da Lava-Jato atingir o seu mandato, mas foi ignorado. Os escândalos cresceram de tal modo que acabou causando o afastamento da presidente por 180 dias. Mesmo que o crime a qual é acusada é de ordem fiscal, Delcídio enxerga a operação desencadeada pela Polícia Federal como pano de fundo para o seu provável impeachment.

"Sempre avisei a Dilma sobre os rumos da Lava-Jato e o governo nunca acreditou que chegasse a esse ponto. Ela não foi afastada por conta das ‘pedaladas’ [manobra fiscal utilizada pelo governo], não, o pano de fundo desse afastamento é a operação Lava-Jato. As pedaladas foram a somatória. Junta-se essas situações com a falta de popularidade dela e a dificuldade de gestão, acabou causando o seu afastamento, e, olha, tenho certeza que não volta", contou.

Para que haja o impeachment de Dilma, são necessário, ao fim do processo, a votação favorável de dois terços dos senadores, equivalente a pelo menos 54 votos. O processo que resultou no afastamento da presidente foi aprovado por 55 parlamentares no Senado Federal.


Andriano Moretto

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