Após dois dias de maratonas de debates, a Câmara de Deputados da Argentina aprovou, nesta sexta-feira, o pacote de reformas do presidente ultradireitista Javier Milei, com 144 votos a favor e 109 contra, em meio a protestos do lado de fora da sede do Parlamento, reprimidos pela polícia com balas de borracha e gás lacrimogêneo. O resultado final da denominada "Lei Ônibus", entretanto, dependerá da votação "artigo por artigo" da proposta, na terça-feira, que já perdeu metade de seu conteúdo original durante as negociações.
Uma vez aprovado, o projeto de lei seguirá para o Senado, onde o governo tem apoio de apenas 7 dos 72 senadores, mas também espera contar com os mesmos aliados que conquistou na Câmara baixa para prosseguir com a votação. Contudo, caso o Senado introduza novas alterações, o texto terá que retornar à Câmara dos Deputados mais uma vez, abrindo uma nova rodada de discussões.
Após 28 horas e 9 minutos de debate e negociações intensas entre a oposição e o governo, a sessão para tratar da lei se tornou a mais longa da História da Câmara dos Deputados na Argentina.
Na véspera, a oposição peronista e de esquerda centrou suas críticas nas reformas propostas do Código Penal, que contemplam a criminalização dos protestos de rua e, sobretudo, nos "poderes delegados" que Milei demanda para introduzir mais reformas por via executiva, sem controle do Congresso.
— Tem que debater a quem se dá as faculdades delegadas: a um presidente que não acredita na democracia, que não reconhece o Congresso, que acusou os legisladores de cobrar subornos? — questionou a deputada opositora Paula Penacca.
Protestos do lado de fora
Esses são, também, alguns dos pontos que mais acirram os ânimos dos manifestantes na porta do Congresso.
Forças da polícia militarizada haviam antecipado que aplicariam o protocolo de restrições severas criado pelo governo ("protocolo antipiquete") às manifestações de rua. Os manifestantes e os jornalistas foram dispersados com balas de borracha, agredidos com cassetetes e gás de pimenta, até que as proximidades da região ficaram vazias.
O Globo
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