Luciano Candisiani
Algumas das imagens mais recentes dos incêndios no Pantanal têm a força de transportar o espectador, ainda que à revelia, para uma espécie de parque temático com obras do escultor polonês Frans Krajcberg (1921-2017), artista reconhecido por ter dado um sentido estético e de denúncia a troncos e galhos que recolhia após a destruição do fogo em outros biomas de estados como Minas Gerais e Bahia.
Uma exposição com fotografias de Lalo de Almeida e de Luciano Candisani mostra esse e o outro lado da moeda no território pantaneiro.
A maior planície alagável do planeta tem ocupado o noticiário não por sua biodiversidade e por sua beleza exuberante, mas pelo risco de desaparecimento dessas sob a ameaça da seca e do fogo. Desde 2020, quando o bioma foi atingido pelos piores incêndios de sua história, que consumiram quase 30% de sua extensão, os episódios de risco de repetição da tragédia não foram poucos. Por isso, todo e qualquer alerta é sempre mais que bem-vindo.
Programada para entrar em cartaz, em São Paulo, no Instituto Tomie Ohtake, a partir do dia 8/3, a mostra “Água Pantanal Fogo”, com curadoria de Eder Chiodetto, reúne, no total, 80 obras dos dois fotógrafos e seguirá aberta para visitação até 12 de maio, de terça-feira a domingo, das 11h às 19h. A entrada é franca, e a mostra tem patrocínio do Itaú e da CSN.
Para além da denúncia, vai um convite à comoção, à beleza e à busca pela conscientização ambiental na mensagem da exposição. O instituto fica no Bairro de Pinheiros.
“Água Pantanal Fogo” levará ao público os contextos antagônicos que integram a paisagem pantaneira.
Dessa forma, Lalo de Almeida terá exposta sua produção fotográfica diante do fogo que assolou o Pantanal durante os incêndios de 2020, enquanto Luciano Candisani levará ao público seu trabalho feito durante cheias locais, com imagens que constituem um acervo iconográfico de suma importância.
RENDA REVERTIDA
Almeida, com fotografias que rodaram o mundo, teve sua série de fotografias “Pantanal em Chamas” premiada na categoria Meio Ambiente, no World Press Photo. Candisani, por sua vez, é um dos maiores nomes de sua área de atuação, tendo trabalhado em 40 países, incluindo as regiões geladas do Ártico e da Antártica, e fazendo parte do coletivo The Photo Society, grupo exclusivo de fotógrafos com matérias completas publicadas na edição principal da revista National Geographic.
Uma das maiores iniciativas para combate às chamas está na formatação das Brigadas Pantaneiras, programa do SOS Pantanal que será o grande beneficiário de uma articulação do Documenta Pantanal para arrecadação de recursos por meio da exposição e da venda de seis quadros dos fotógrafos Lalo de Almeida e Luciano Candisani.
As seis imagens que estarão à venda na exposição “Água Pantanal Fogo”, com renda totalmente revertida em prol das Brigadas Pantaneiras, foram doadas por Lalo e Luciano, que são apontados pelo curador Eder Chiodetto como “cronistas visuais que frequentemente buscam parcerias com cientistas e pesquisadores”.
ÁPICE DA FOTOGRAFIA
“Para obter o resultado exposto nessa mostra, criam logísticas complexas e se expõem a vários tipos de perigo. É em trabalhos como esses, que aliam idealismo, paixão e militância, que a fotografia alcança seu ápice, tornando-se uma janela aberta a revelar as idiossincrasias e o sublime do mundo”, afirma Chiodetto.
Não é a primeira vez que o Documenta Pantanal articula uma ação em prol da preservação da maior planície alagada do planeta. Em 2021, o coletivo multidisciplinar promoveu o evento Artistas Pelo Pantanal, quando 45 obras, em diversas linguagens, foram doadas por 42 artistas visuais, alcançando uma arrecadação de R$ 2 milhões.
À época, participaram da iniciativa obras de artistas como Adriana Varejão, Araquém Alcântara, Carlito Carvalhosa, Elisa Bracher, Jac Leirner, João Farkas, José Bento, Laura Lima, Leda Catunda, Luciano Candisani, Luiz Zerbini, Regina Silveira, Santídio Pereira e Sérgio Sister e Vik Muniz.
De acordo com Mônica Guimarães, coordenadora do Documenta Pantanal, “está no escopo do Documenta ações que possam auxiliar trabalhos em prol da preservação do Pantanal.
O bioma continua a queimar, e nesse ano ainda tivemos incêndios em plena cheia, o que é muito preocupante e óbvio reflexo das condições climáticas. Essa é uma extensão da ação que fizemos em 2021 e que continuaremos a fazer com todos os artistas que se dispuserem a ajudar o Pantanal”.
AS BRIGADAS
Atuantes desde 2020, as Brigadas Pantaneiras, programa a ser beneficiado com as doações, têm um propósito claro: prevenir e responder aos focos de incêndio. São 24 brigadas treinadas e equipadas, espalhadas entre fazendas e comunidades, que têm um papel crucial nas operações de prevenção e de combate coordenadas pelas instituições competentes.
Até outubro de 2023, as brigadas foram responsáveis pela diminuição em 89% da área queimada em suas áreas de atuação, com redução de 76% dos focos de calor das mesmas, protegendo um território de mais de 650 mil hectares.
Esses números podem se tornar ainda mais expressivos com expansões planejadas. Para isso, cada doação contribuirá diretamente para cobrir os custos de logística e a operação dos brigadistas, que enfrentam riscos diários para proteger a fauna, a flora e o equilíbrio ecológico do Pantanal.
De acordo com Leonardo Gomes, diretor-executivo do Instituto SOS Pantanal, “com essa incrível exposição temos o olhar de dois grandes fotógrafos sobre dois elementos imperativos na formação do Pantanal. Além de trazer visibilidade às belezas e às preocupações em torno da água e do fogo, o recurso arrecadado com a venda das fotos fortalecerá um outro elemento crucial para o bioma, o pantaneiro”.
“O valor será utilizado na manutenção de equipamentos, na capacitação e no aprimoramento das brigadas de incêndio, em uma perene e fundamental ferramenta de adaptação às mudanças climáticas, além das melhorias no sistema de monitoramento remoto, que chega por telefone a dezenas de comunidades nos diversos pantanais”, afirma Leonardo Gomes.
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