A Embrapa lança nesta quinta-feira (14) a tecnologia que trata do consórcio de cana-de-açúcar com milho, chamada de Canamilho. O sistema permite resultados mais rápidos e rentáveis ao setor produtivo da cana-de-açúcar, para agricultores e usineiros, no Cerrado.
Basicamente no Canamilho o plantio da cana é antecipado para o início do período chuvoso, o que amplia a janela de plantio. Ao contrário do que ocorre com as culturais anuais no Cerrado, como soja e milho, cujo plantio é feito integralmente no início do período chuvoso, o da cana-de-açúcar é realizado no fim das chuvas, por volta do mês de março. Essa estratégia é utilizada pelos agricultores e usineiros para otimizar o desenvolvimento da planta, já que o rebrote inicial da cana é muito lento quando semeada em novembro/dezembro.
“O problema é que o período em que ela de fato começa a crescer coincide com o início da seca, o que acaba impactando sua produtividade”, explica o pesquisador da Embrapa Cerrados (DF) João de Deus, líder do projeto Consórcio cana-de-açúcar e milho para intensificação sustentável da produção de açúcar e etanol no Cerrado (Canamilho).
Uma das grandes vantagens da tecnologia é desafogar o plantio de março, já que traz para o início do período chuvoso o plantio de parte da cana que seria plantada só no fim das chuvas. A cana é plantada como se fosse cana de ano (12 meses), mas se comporta como uma cana de ano e meio (18 meses).
Além disso, o plantio em consórcio com a cultura de grãos anula qualquer risco de o produtor de cana não ter a área disponível para o plantio em caso de arrendamento, quando muitas das vezes a colheita da cultura que antecede o plantio da cana atrasa. A cana consorciada, considerada como cana de ano, apresenta rendimentos compatíveis com a cana de ano e meio.
O sistema alia ainda sustentabilidade à produção, por proteger o solo da erosão e intensificar o uso conjunto da terra. “Quando consorciada com milho no início do período chuvoso, a cana-de-açúcar apresenta excelente brotação, porém, paralisa o crescimento devido à competição por luz. Somente retoma o perfilhamento após a colheita do milho no fim do período chuvoso. Assim, a cultura é plantada de forma antecipada, mas fica em modo de espera até o fim do período chuvoso, quando o milho é colhido. Trata-se de uma visão inovadora em relação ao sistema de plantio de cana-de-açúcar utilizado no Brasil”, explica o especialista.
Experimentos implantados em Planaltina (DF), Dourados (MS) e Jaguariúna (SP) mostraram que a produtividade média do milho foi de 8,5 t/ha, sendo o maior valor de 14 t/ha e menor 5,7 t/ha. “Em nenhuma das situações a produtividade do milho consorciado com cana-de-açúcar foi menor do que o cultivo solteiro”, afirmou.
A média de produtividade de colmos de cana dos experimentos (130 toneladas/ha) e o açúcar total recuperável (ATR) da cana não foram afetados pelo consórcio com o milho. Nessa comparação, o sistema consorciado de cana e milho foi plantado no início do período chuvoso (outubro/novembro), com a colheita do milho em março do ano seguinte. A cana solteira foi plantada em sucessão ao cultivo de milho solteiro também em março.
A tecnologia do consórcio também é uma excelente opção para as usinas flex, nas quais o milho é utilizado para a produção de etanol. Além disso os produtores mais eficientes e menos emissores podem obter renda extra com créditos de descarbonização, como prevê a política RenovaBio.
A tecnologia pode ter uma boa adesão principalmente nas regiões que possuem clima de inverno mais bem definido. Alguns desafios, no entanto, precisarão ser superados para que o sistema possa ser plenamente adotado na região sul do estado sul-mato-grossense. Um desses entraves é a pouca aptidão para milho dessa região, por conta dos seus solos arenosos de baixa fertilidade, o que necessitará inicialmente de correção das áreas. De acordo com as análises socioeconômicas do sistema, referentes aos resultados avaliados em Dourados (MS) nas safras 2018/19 e 2019/2020, a renda bruta da cana de ano foi de R$ 1.693,00/ha. Já no sistema cana de ano com plantio em novembro, consorciada com milho-verão colhido em março, a renda bruta das duas culturas foi de R$ 6.898,00/ha.
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