terça-feira, 26 de outubro de 2021

Após seis meses, CPI da Covid vota relatório final nesta terça

 G1



A CPI da Covid vota nesta terça-feira, dia 26 de outubro, o relatório final elaborado pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL). A análise do parecer será o último ato da comissão, criada há seis meses para investigar as ações e omissões do governo federal durante a pandemia.


O documento com mais de 1,1 mil páginas pede o indiciamento do presidente Jair Bolsonaro por considerar que ele cometeu pelo menos nove crimes. O arquivo traz:


imagens do presidente provocando aglomerações,


declarações em que desdenha da vacina e incita a população a invadir hospitais e


o esforço pessoal de Bolsonaro, ao lado do Itamaraty, para articular com a Índia a compra de matéria-prima


para a produção de cloroquina – remédio ineficaz para a Covid.


O relator também detalha o atraso na aquisição de vacinas e a sucessiva falta de resposta às fabricantes, como à Pfizer e ao Instituto Butantan, que desde 2020 tentavam vender o imunizante ao governo brasileiro.


Calheiros ainda responsabiliza duas empresas (Precisa Medicamentos e VTCLog), e mais de 70 pessoas, entre as quais três filhos do presidente, ministros, ex-ministros, deputados federais, médicos e empresários. Ao todo, o relator aponta para o cometimento de mais de 20 infrações.


Veja todos os indiciados


Se aprovado, o documento será encaminhado a órgãos competentes, como o Ministério Público, para que deem continuidade às investigações e confirmem – ou arquivem – os pedidos de indiciamento.



Senadores também articulam para que o relatório seja usado como base para um novo pedido de impeachment de Bolsonaro elaborado por juristas.


Veja no vídeo abaixo os principais pontos do documento que será votado – pode haver mudanças até o início da sessão:


O que diz o relatório


O relatório de Renan Calheiros lista 13 tópicos da investigação. A lista inclui a oposição do governo às medidas não farmacológicas (como uso de máscara e distanciamento social), o colapso na saúde pública do Amazonas e também a atuação da operadora Prevent Senior.


O documento ainda aponta para a existência de um gabinete paralelo - composto por médicos, políticos e empresários - que aconselhava o presidente “ao arrepio das orientações técnicas do Ministério da Saúde”. Segundo o relator, partiu desse grupo a ideia da propagação do vírus “livremente entre a população”, a fim de que fosse atingida a “imunidade de rebanho” por meio da contaminação natural.


Conforme o relator, a CPI pôde comprovar:



o "evidente descaso" do governo com a vida das pessoas, comprovado no “deliberado atraso” na aquisição de vacinas;


a "forte atuação" da cúpula do governo, em especial do presidente da República, na disseminação de notícias falsas sobre a pandemia;


a existência de um gabinete paralelo que aconselhava o presidente com informações à margem das diretrizes científicas;


a intenção de imunizar a população por meio da contaminação natural (a chamada imunidade de rebanho);


a priorização de um "tratamento precoce" sem amparo científico de eficácia e a adoção do modelo como “política pública declarada”;


o desestímulo ao uso de medidas não farmacológicas - como as máscaras e o distanciamento social;


a prática, por parte do governo federal, de atos "deliberadamente voltados contra os direitos dos indígenas".



“Com esse comportamento, o governo federal, que tinha o dever legal de agir, assentiu com a morte de brasileiras e brasileiros”, afirma no texto o senador Renan Calheiros.


Crimes atribuídos a Bolsonaro


No caso de Bolsonaro, Renan Calheiros pede indiciamento pelos seguintes crimes:


epidemia com resultado morte;


infração de medida sanitária preventiva;


charlatanismo;


incitação ao crime;


falsificação de documento particular;


emprego irregular de verbas públicas;



prevaricação;


crimes contra a humanidade;


crimes de responsabilidade (violação de direito social e incompatibilidade com dignidade, honra e decoro do cargo)


“O presidente da República repetidamente incentivou a população a não seguir a política de distanciamento social, opôs-se de maneira reiterada ao uso de máscaras, convocou, promoveu e participou de aglomerações e procurou desqualificar as vacinas contra a covid-19. Essa estratégia, na verdade atrelada à ideia de que o contágio natural induziria a imunidade coletiva, visava exclusivamente à retomada das atividades econômicas”, escreve Calheiros no documento.


Segundo o relator, as ações de Bolsonaro durante a pandemia podem ser enquadradas em crime de responsabilidade — infração imposta ao presidente da República em caso de atos que atentam a Constituição, e que podem resultar em impeachment.


Isso porque, escreveu o relator, a atuação de Bolsonaro “mostrou-se descomprometida com o efetivo combate da pandemia da Covid-19 e, consequentemente, com a preservação da vida e integridade física de milhares de brasileiros”.



Entre os atos de Bolsonaro que, para Renan, “incontestavelmente atentaram contra a saúde pública e a probidade administrativa”, estão a "minimização constante da gravidade da Covid-19" e a criação de mecanismos ineficazes de controle e tratamento do coronavírus.


O relator afirmou ainda que Bolsonaro “foi o principal responsável pela propagação da ideia de tratamento precoce”.


“Em tempos normais, seria apenas um exemplo de desprezível charlatanismo pseudocientífico. Contudo, em meio a uma pandemia global, colaborou para gerar uma monstruosa tragédia, na qual alguns milhares de brasileiros foram sacrificados”, escreveu o relator.


10 nomes novos


Apresentado na última quarta-feira (20), o relatório de Calheiros trazia o pedido de indiciamento de 66 pessoas e duas empresas.


No entanto, senadores constataram que havia omissões de nomes considerados importantes para a responsabilização na pandemia, como o de servidores e ex-servidores do Ministério da Saúde, e de pessoas ligadas ao Amazonas.



Segundo o vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues, em reunião na noite desta segunda-feira (25), a cúpula da CPI definiu que serão acrescentados 10 nomes à lista de pedidos de indiciamentos.


Reação governista

Presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM) já afirmou “ter certeza” de que o relatório será aprovado. Formada por onze titulares, a comissão tem maioria alinhada ao parecer de Renan. No entanto, é esperado que senadores governistas marquem posição e contestem o documento.


Marcos Rogério (DEM-RO), que compõe a “tropa de choque” de Bolsonaro na CPI, apresentou um voto em separado no qual não pede nenhum indiciamento.


No documento, o senador defendeu a autonomia médica para justificar a prescrição de remédios sem eficácia e disse que “crimes gravíssimos” foram cometidos por alguns governadores, prefeitos e secretários”, de modo a poupar o governo federal na gestão da pandemia.


“Não foram encontradas quaisquer evidências sobre atos e omissões ilegais praticadas por autoridades e servidores da Administração Pública Federal, no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus”, escreveu o senador no parecer. Os aliados ao Palácio são minoria na comissão e, portanto, é considerada bastante baixa a chance de o relatório ser aprovado.



Eduardo Girão (Pode-CE) também apresentou um relatório alternativo sobre os trabalhos da CPI.


No documento, o senador diz que não foram encontradas evidências de atos e omissões ilegais praticados por autoridades e servidores do governo federal no enfrentamento à pandemia.


O parlamentar afirma também que, apesar de "indícios" de irregularidades, a CPI não foi capaz de investigar ações de gestores estaduais e municipais. O senador propõe a "extinção melancólica" da comissão, que, segundo ele, não cumpriu seu objetivo.

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