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quinta-feira, 4 de julho de 2019
Filme : Um Homem Fiel
Cineweb
Em seu segundo longa como diretor, Um homem fiel, o francês Louis Garrel prova que sua estreia competente nessa cadeira não foi mera sorte de principiante. Ele assume novamente o posto de protagonista, dividindo a cena com Laetitia Casta e Lily-Rose Depp, como as duas mulheres da vida do personagem, Abel.
O roteiro foi escrito pelo próprio Garrel e contou com colaboração do veterano Jean-Claude Carrière, que certamente trouxe a gravitas ao filme, uma trama de amor, encontros e desencontros, além de reviravoltas que mudam seu tom. O homem fiel é certamente uma homenagem aos filmes da Nouvelle Vague, especialmente aos de François Truffaut, protagonizados pelo jovem Antoine Doinel. Ao contrário dos filmes de seu pai, Philippe Garrel, nos quais amar é inevitavelmente sofrer, o jovem diretor coloca o amor como um catalizador do amadurecimento (especialmente emocional) de suas personagens, encontrando o que pode haver de mais positivo nesse sentimento. Se há qualquer espécie de dor, ela não é eterna, e serve como o estopim para se seguir em frente, transformado.
Abel é um jornalista que logo na primeira cena recebe uma notícia bombástica: sua namorada, Marianne (Casta), está grávida. Ele fica todo feliz, mas logo vem a decepção: o pai é um amigo deles, Paul, com quem ela irá se casar dali a alguns dias. O protagonista reage de maneira relativamente madura, sofre, mas não arma um escândalo, não briga, não grita. Fica meio catatônico até, e a ex-namorada até comenta que ficou feliz com a reação tão madura dele.
O filme salta uma década, e Paul (que nunca está em cena) acaba de morrer, Abel e Marianne se reencontram no cemitério, e voilá, estão juntos novamente em pouco tempo. Mas antes que as coisas se ajeitem entre eles, o filho dela, o pequeno Joseph (Joseph Engel), acusa: minha mãe envenenou meu pai com a ajuda do amante dela, que é médico. Tudo já está complicado o bastante quando a irmã de Paul, Eve (Depp), confessa que, desde a adolescência, era apaixonada por Abel. “Apaixonada” nem é a palavra certa aqui – ela é obcecada mesmo.
O protagonista está, basicamente, dividido entre o amor de uma possível psicopata e uma mulher doentiamente apaixonada. A escolha é difícil, e Garrel lida de maneira leve, muitas vezes cômica, com todo o absurdo da situação, sem cair na caricatura, especialmente por conta do trio central bem afinado, tornando os caminhos mais inesperados do filme totalmente plausíveis dentro dessa narrativa.
A fotografia de Irina Lubtchansky (filha de William Lubtchansky, que fotografou diversos filmes de Philippe Garrel) ressalta uma Paris que parece perdida numa fenda no tempo entre os anos de 1960 e o presente – o que sintetiza bem o filme, cujo espírito vem embebido na Nouvelle Vague mas procura o diálogo com os jovens do presente.
Alysson Oliveira
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