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segunda-feira, 1 de julho de 2019
Trailer: Toy Story 4 | Trailer 2 Dublado
A primeira pergunta que vem à mente em se tratando de Toy Story é se realmente a franquia precisava de um quarto filme, se tudo já não estava devida e belamente resolvido no terceiro de 2010 e pronto. A resposta depende mais do nível de apego de cada espectador aos personagens e longas da série do que das qualidades cinematográficas da obra do estreante Josh Cooley, que assume o posto de John Lasseter, responsável pelos originais, depois que este deixou a Pixar, abalado por acusações de assédio.
Woddy, Buzz, Jessie e companhia estão de volta, mas o filme é claramente do caubói que, agora que todos pertencem à garota Bonnie, não tem mais o mesmo prestígio, sendo muitas vezes preterido pelos outros e deixado no armário. O roteiro, assinado por Andrew Stanton (roteirista de todos os filmes da série) e a estreante no cinema Stephany Folsom, mantém a mesma estrutura que transita entre a aventura e o sentimentalismo, algumas vezes forçado e desnecessário, mas não a ponto de estragar o filme. Isso significa que Toy Story 4 pouco sai de sua zona de conforto, embora apresente novos personagens.
A principal novidade aqui é Garfinho, um garfo de plástico tirado do lixo por Woody e decorado por Bonnie em seu primeiro dia de introdução à pré-escola, que acaba se tornando o brinquedo preferido dela, embora o próprio não se considere um brinquedo e queira voltar para a lixeira a todo momento. Assim, o caubói terá de o salvar porque, para ele, a menina se afeiçoou demais ao novo amigo e não conseguirá ir à escola sem ele.
Woody, como já demostrou em outros filmes e isso é reforçado aqui, emerge como a bússola moral. Ele tem um senso de responsabilidade muito rigoroso, tanto com seus donos quanto com os outros brinquedos. Aparentemente, o caubói superou a separação de Andy e desenvolveu a política de que ele e seus colegas têm realmente um tempo limitado com seus donos e donas, e que sua função é criar bons momentos que serão lembrados por toda a vida. Quando a criança cresce, é hora de seguir em frente numa casa nova. São questões existenciais profundas que estão em jogo.
O sonho da maioria dos brinquedos é ser de uma criança. A ausência disso pode desenvolver comportamentos estranhos, como é o caso de uma boneca vintage chamada Gabby Gabby, relegada a um antiquário pois veio da fábrica com um defeito - o equipamento que lhe permitiria falar não funciona. Ela passa as tardes ensaiando os movimentos para um chá das 5 com sua possível futura dona, mas o esquecimento e o abandono a transformaram numa figura mesquinha e vingativa. É ela (e não o Garfinho) a grande personagem nova na série. Com ela, os brinquedos se mostram mais próximos dos humanos, dotados não apenas de generosidade e benevolência – tudo bem que a boneca Annabelle levou isso a um outro patamar. Ao mesmo tempo, ela traz outro elemento à crise existencial de Woody: nem todos brinquedos tem o carinho e a casa de uma criança.
Essa crise, aliás, é o ponto de partida de tudo: Woody é deixado em segundo plano e tenta não se abalar com isso, assim, Toy Story 4 se torna a jornada emocional dele rumo a uma elevação emocional na qual ele não precise de uma criança para ser feliz, mas que possa ser livre e de várias crianças, ao mesmo tempo. Quem lhe mostra isso é uma espécie de antiga paixão, uma Pastora de Ovelhas de porcelana que fazia parte de um abajur da irmã de Andy, e que foi levada embora anos atrás. Desde então, eles nunca mais se viram. O reencontro inesperado com ela mostra a Woody novos horizontes e aventuras.
Tecnicamente, como já se tornou padrão da Pixar, o filme é impressionante. Cada personagem – humano ou não – é repleto de detalhes e texturas que lhes dão dimensão. A pastora e seu trio de ovelhas são as mais admiráveis, trazendo até o tintilar típico das peças de porcelana. É o máximo de excelência a que uma animação possa chegar; para além disso, só um filme live-action. E, sejamos sinceros, ninguém quer gente de carne e osso atuando num Toy Story.
Alysson Oliveira
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