segunda-feira, 8 de julho de 2019

Suspeitos de forjar sequestro de avião são liberados após temporária






O piloto Edmur Guimara Bernardes de 78 anos que alegou ter sido sequestrado junto com um avião em Paranaíba no dia 18 de junho, e Idelvan Oliveira, de 53 anos, vigia do hangar que disse ter ficado amarrado em um banheiro enquanto a decolagem acontecia, foram liberados na madrugada deste domingo, dia 07 de julho, após o final do prazo de prisão temporária, que já havia sido prorrogado.

Eles foram detidos no dia 27 de junho em um operação da Polícia Civil e trazidos para Campo Grande, onde permaneceram em uma cela na Delegacia Especializada de Repressão a Roubos e Furtos (Derf) até este sábado (6), quando findou o prazo da prisão.

De acordo com a delegada responsável pelo caso, Ana Cláudia Medina, decorrido o prazo de 5 dias da prisão temporária, no dia 1° de julho foi solicitada a prorrogação para que fossem investigadas inconsistências do caso. A polícia trabalha com a hipótese de que Edmur e Idelvan tenham forjado o sequestro para que o piloto fosse ao Paraguai a fim de transportar lideranças de uma facção criminosa até a Bolívia:

"O piloto levou uma tarde inteira para fazer um retrato falado de duas pessoas que teriam ido no avião e deu os detalhes todos falsos, depois descobrimos que ele comentou que teria mentido o tempo todo. O vigia disse ter ficado amarrado em uma sala com um fio de mouse sendo que nem computador existe no local. Ele disse ter encontrado a chave desse cômodo, mas a porta não tranca por fora", explica. Ela agora aguarda a perícia nos telefones de ambos.

O advogado de defesa da dupla, José Roberto Rosa, afirmou ao G1 que não havia necessidade de ficarem mais tempo detidos: "Contando com o período da prorrogação, a polícia teve tempo suficiente para verificar as inconsistências alegadas. O piloto é um senhor de 78 anos e não há informações sobre quanto teria recebido para supostamente forjar o sequestro ou de quem seria esse contato dele na facão criminosa. A prisão temporária estava bem embasada mas a juíza do caso entendeu o que a defesa alegou, de que não havia elementos para uma prisão preventiva".

Segundo Rosa, a decisão da juíza determinando a soltura assim que findasse o prazo da prisão saiu neste sábado (6) em torno de 19h. Ele avisou a esposa de Idelvan que veio de Paranaíba para buscá-lo e retornou à cidade. Edmur, por não ter familiares no estado, permanece em Campo Grande aguardando a chegada de um filho do interior de São Paulo que deveria vir buscá-lo neste domingo. "Os próximos trâmites devem ser por carta precatória", relata o advogado.

Entenda o caso

No dia 18 de junho o vigia Idelvan registrou um boletim de ocorrência em Paranaíba relatando de ter sido abordado por dois homens comunicando que um avião seria levado do aeroporto de Paranaíba e que o piloto, Edmur, estava sendo rendido em casa para pilotá-lo. O avião modelo Cessna 182 Skylane, que estava no hangar do qual Edmur é sócio segundo o advogado Rosa, pertence a um empresário. A aeronave decolou no início da manhã sem informações sobre o destino.

Dois dias depois, o piloto Edmur foi localizado em Cáceres (MT), onde procurou a Polícia Federal relatando ter sido sequestrado por homens de uma facção criminosa e obrigado a ir com a aeronave até o Paraguai, e de lá para a Bolívia, de onde teria conseguido fugir após uma distração dos supostos sequestradores com o avião que tinha combustível suficiente para ir até a cidade em MT. De lá, ele retornou com a aeronave para o aeroporto de Paranaíba.

Contradições

A Delegacia Especializada de Combate ao Crime Organizado (Deco), da qual Medina é titular, esteve no dia 24 de junho em Paranaíba para reproduzir as versões apresentadas pelo vigia e piloto, reconstituição da qual ambos participaram. Os policiais também ouviram testemunhas.

O equipamento de GPS do avião confirmava rota parecida apresentada pelo piloto, saindo do Brasil, passando por Paraguai e Bolívia. Porém, de acordo com a polícia, existem contradições. Uma delas é que os dois apresentaram versões diferentes das imagens colhidas pelo sistema de câmeras do hangar - segundo a defesa, Edmur alegou ter decolado às 6h30 mas câmeras de segurança filmaram-no em solo às 6h51.

Outro detalhe que causou estranheza entre os policiais é o fato do vigia, que é funcionário público da prefeitura, dizer que foi trancado pelos bandidos no banheiro, mas em outra parte do depoimento ele apontou outro local usado pelos criminosos para mantê-lo preso.

A versão do piloto

Segundo o depoimento que o G1 teve acesso, Edmur disse que foi rendido por bandidos encapuzados que identificaram-se como integrantes de uma facção criminosa. Ele afirmou que foi obrigado a entrar na própria casa e, de lá, conduzido por eles até o aeroporto. No local, teria sido forçado a levar a aeronave para uma fazenda no Paraguai.

Ele declarou ainda que os bandidos disseram saber sobre as chaves do hangar e que precisariam de um avião que tinha pousado na noite do dia 17 de junho. Ainda conforme a polícia, o piloto contou que, no dia do crime, por volta de 06h30 (de MS), decolou com destino ao Paraguai, onde permaneceu o dia inteiro em uma propriedade rural.

Na manhã do dia seguinte, por volta de 06h20, dois suspeitos que o renderam e um terceiro homem de nacionalidade paraguaia foram no mesmo avião para uma propriedade na Bolívia. Segundo o advogado de defesa, os sequestradores teriam dito que ficaram com a aeronave e o piloto deduziu que eles "iriam se livrar" dele, por isso aproveitou uma distração para fugir por volta de 14h30 e voou até Cáceres, onde pousou às 17h15.

A delegada Medina afirmou que piloto e vigia seguem sendo investigados pela Deco. "Não é porque essas prisões venceram que isso diminuiu ou aumenta a culpa dessas pessoas. Tem inconsistências graves que nos apontam que eles montara um cenário fantasioso para a polícia", finaliza. O caso segue em segredo de justiça.

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