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Diretor de Distante (2002), Climas (2006), Três macacos (2008), Era uma vez na Anatólia (2011) e Sono de Inverno, que lhe deu a Palma de Ouro em 2014, o cineasta turco Nuri Bilge Ceylan compôs neste novo e potente trabalho um incisivo mergulho num núcleo familiar, exibido no Festival de Cannes 2018 e na Mostra Internacional de São Paulo 2018.
A partir da volta para casa de Sinan (Aydin Dogu Demirkol), numa cidadezinha do interior, depois da formatura na universidade, explodem as contradições de uma família disfuncional, sofrendo as consequências do vício no jogo do pai, o professor Idris (Murat Cemcir).
Como sempre, a narrativa evolui com sutileza, revelando-se aos poucos através de um excelente trabalho de câmera (de Gökhan Tiryaki) e em diálogos profundos, explorando não só as vicissitudes familiares, como os dilemas de uma juventude que, mesmo dispondo de um diploma universitário, não encontra trabalho, muitas vezes tendo de engajar-se na polícia ou no exército por falta de opções. O filme turco traça assim o retrato de novas gerações sem saída, que foram objeto também do competentíssimo russo Verão, de Kirill Srebrennikov, e, numa outra chave, do sul-coreano Em Chamas, de Lee Chang-dong, todos eles parte da competição em Cannes 2018.
O denso roteiro de A Árvore dos Frutos Selvagens, da autoria de Ceylan, Ebru Ceylan e Akin Aksu, comenta também as divisões de pensamento dentro da comunidade religiosa, num longo diálogo entre dois imans e o protagonista Sinan, numa sequência que os acompanha na descida de uma montanha, de intensa beleza visual, inclusive. É o tipo do filme de que se poderia falar muito, ainda mais que se estende ao longo de 3 horas e oito minutos – e também que se pode assistir muitas vezes para descobrir novas camadas. Os atores também são extraordinários.
Neusa Barbosa
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