Reuters
Candidato da oposição contra Nicolás Maduro nas eleições solicitou asilo à Espanha após regime ordenar sua prisão
Edmundo González, rival do ditador Nicolás Maduro nas eleições presidenciais de 28 de julho, deixou a Venezuela em direção à Espanha, onde pediu asilo político, na noite deste sábado (7). Ele chegou ao país europeu neste domingo (8).
A informação foi divulgada pela vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, e confirmada pelo chanceler espanhol, José Manuel Albares, na madrugada deste domingo.
"Saiu do país o cidadão da oposição Edmundo González Urrutia que, depois de se refugiar voluntariamente por vários dias na embaixada da Espanha em Caracas, solicitou o processamento de asilo político a esse governo", escreveu Rodríguez nas redes sociais, acrescentando que, após negociação com Madri, o regime "concedeu o salvo-conduto necessário para o bem da tranquilidade e da paz política do país".
Já Albares informou no X que o líder embarcou em um avião da Força Aérea espanhola, e disse que seu governo "está comprometido com os direitos políticos e a integridade física de todos os venezuelanos".
O avião com o candidato de oposição venezuelano pousou na região de Madri às 16h do horário local (11h em Brasília), informou o Ministério das Relações Exteriores da Espanha.
"O avião da Força Aérea Espanhola que transporta Edmundo González para a Espanha acaba de pousar na Base Aérea de Torrejón de Ardoz (Madri)", anunciou o ministério em comunicado que informa também que o ex-diplomata viajou com a esposa.
O presidente do governo da Espanha, Pedro Sánchez, havia se referido a González na véspera como "herói que não será abandonado pela Espanha".
A saída de González da Venezuela se dá em um momento em que a perseguição contra a dissidência chega a seu ápice, com as forças de segurança do regime bloqueando o prédio da embaixada da Argentina em Caracas, onde seis integrantes da oposição estão asilados.
O regime revogou de forma unilateral a custódia do Brasil sobre a representação diplomática argentina.
Agentes de segurança encapuzados e patrulhas vigiam os arredores do edifício e verificam a identidade dos que passam pelo quarteirão em um posto de controle improvisado.
Segundo um dos asilados, Pedro Urruchurtu Noselli, o grupo está sem energia elétrica desde a noite de sexta (6). Às 20h do horário local no sábado (21h em Brasília), ele publicou em seu perfil no Instagram um vídeo em que dizia que se completavam 24 horas de "assédio contínuo à residência".
O local, sede da embaixada da Argentina em Caracas, estava sob a proteção do Brasil desde que o regime decidiu expulsar os diplomatas de Buenos Aires do país, um mês atrás.
No sábado, a ditadura comunicou que revogou unilateralmente a custódia, decisão que surpreendeu a diplomacia brasileira. A justificativa era de que o regime tinha evidências de que as instalações estavam sendo utilizadas pelos asilados para "planejar atividades terroristas" contra Maduro e Rodríguez.
Em nota, Brasília afirmou que permaneceria defendendo os interesses argentinos no local até que a administração de Javier Milei indicasse outro Estado para representar seus interesses em Caracas. Também ressaltou que a embaixada da Argentina é inviolável nos termos das Convenções de Viena, que regem as relações diplomáticas.
O caso é acompanhado com extrema preocupação no governo Lula —uma pessoa que acompanha o tema afirmou à Folha no sábado que havia um diplomata brasileiro no local.
O Brasil não reconheceu a reeleição de Maduro, mas tampouco disse entender que a oposição triunfou tal qual fizeram ao menos outros seis países, os latino-americanos Costa Rica, Equador, Uruguai, Panamá e Peru e os Estados Unidos.
O argumento da diplomacia brasileira é o de que é preciso preservar canais de comunicação com o governo em Caracas. Em uma entrevista na sexta, Lula declarou que não romperá relações com Maduro.
Edmundo González foi o adversário de Maduro nas eleições de 28 de julho. Diplomata aposentado, ele saiu do anonimato na Venezuela ao ser ungido candidato da oposição após o chavismo ter inabilitado María Corina Machado.
González não aparecia em público desde 30 de julho, quando participou de uma manifestação contra o regime.
O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, disse que González permaneceu por um tempo na embaixada dos Países Baixos em Caracas antes de transferir-se para a missão espanhola, o que ocorreu em 5 de setembro.
De acordo com a agência Reuters, o ex-premiê espanhol José Luis Rodríguez Zapatero foi um dos envolvidos nos dias de negociações com o regime que resultaram na saída de González da Venezuela.
Principal líder da oposição, María Corina Machado permanece resguardada em locais não divulgados, tendo aparecido em público apenas algumas vezes para participar de mobilizações.
Borrell defendeu, em um comunicado, que a Venezuela ponha fim à repressão contra líderes da oposição e libere todos os presos políticos.
Edmundo González foi convocado a depor repetidas vezes até que, na segunda passada (2), foi declarado alvo de um mandado de prisão, acusado de conspiração, usurpação de funções, incitação à rebelião e sabotagem.
As imputações se referem à iniciativa da oposição de divulgar as atas de votação do pleito na internet. Equivalentes aos boletins de urna brasileiros, essas atas têm como função garantir a lisura do processo eleitoral, e sua veiculação está prevista na lei venezuelana.
De acordo com os documentos tornados públicos, que segundo o grupo adversário do regime correspondem a 80% do total de atas geradas no pleito, González teria vencido a eleição presidencial com mais 67% dos votos, contra 30% de Maduro.
A ditadura afirma que Maduro foi o vencedor da disputa, tendo sido reeleito com 52% dos votos contra 43% de González, e que as atas divulgadas pela oposição são falsas. Mas não divulgou os documentos oficiais, a despeito de ampla pressão internacional.
Além disso, uma série de organizações internacionais que realizou checagens independentes das atas divulgadas no endereço eletrônico atestou que elas são verdadeiras.
Neste domingo, o Procurador-Geral da Venezuela, Tarek William Saab, ironizou a saída de González do país e disse em um vídeo que ela "finaliza a breve temporada de uma obra humorística".
Folha de São Paulo
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