Na reta final de seus mandatos na cúpula do Congresso e sem sinalização clara do governo sobre como se dará uma reforma ministerial, os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), já reorientaram a atuação política para focar nas bases eleitorais.
O presidente da Câmara ficou recluso depois da morte do pai, o ex-senador Benedito de Lira, e tem ficado ausente de Brasília. Apesar disso, ainda permanece focado nas articulações políticas e passou a viajar para cidades do interior de Alagoas para conversar com prefeitos e deputados estaduais aliados.
O movimento já faz parte da tentativa de se viabilizar como candidato a senador em 2026. O cenário neste começo de ano não tem sido fácil para Lira. Um dos principais sinais de dificuldades que o parlamentar deve enfrentar em sua base é o recente movimento de desfiliações de três prefeitos eleitos pelo PP em 2024, que resolveram ir para o MDB.
Além da rivalidade com o grupo do senador Renan Calheiros (MDB-AL), Lira tem como empecilho para seu futuro político discordâncias envolvendo o prefeito de Maceió, JHC (PL), que é seu aliado.
O presidente da Câmara não conseguiu indicar o secretário municipal de Infraestrutura. Além disso, uma possível saída de JHC para o PSD pode bagunçar a intenção de Lira ter uma chapa forte para concorrer ao Senado. A aliados, no entanto, o chefe da Casa legislativa nega qualquer desavença com o prefeito.
O cenário é dificultado pela crescente pressão na Câmara para que Lira seja contemplado na reforma ministerial e que substitua Carlos Fávaro no comando da pasta da Agricultura. O movimento conta até com apoio de setores do PT, que temem que deixar Lira solto no Congresso possa fazer com que ele lidere um grupo de deputados insatisfeitos.
Tempo de espera
Há também um reconhecimento no próprio partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que há deficiências no relacionamento com o Congresso e, por isso, a ida de Lira para o governo ajudaria na articulação política do Executivo.
— É preferível aguardar, para fazer (as trocas na Esplanada) com as Mesas (do Congresso definidas) — disse o deputado Claudio Cajado (PP-PI), vice-presidente do partido de Lira.
A ida de Lira para o governo tem dividido o partido. O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro, já mostrou contrariedade com a possibilidade do aliado assumir um cargo no governo Lula.
Apesar disso, parte da bancada da sigla na Câmara vê com bons olhos a possibilidade de o presidente da Casa virar ministro. O entendimento dessa ala do PP que deseja ter Lira no governo é que ele se tornou um político relevante demais para ser ficar na planície do Congresso.
Na última semana, o ministro da Relações Institucionais, Alexandre Padilha, se reuniu com Hugo Motta (Republicanos-PB), provável sucessor de Lira no comando da Câmara, e com o deputado Ricardo Barros (PP-PR). Segundo relatos, a conversa foi sobre a possibilidade de trocas em uma reforma ministerial, mas sem nada concreto definido. Um dos participantes do encontro disse que não há nada para anunciar ainda, mas que “as costuras estão em andamento”.
Do lado de Pacheco, o cenário de indefinição é similar, mas, diferentemente de Lira, o presidente do Senado tem procurado fazer acenos cada vez mais explícitos ao governo, principalmente sinalizando uma parceria envolvendo Minas Gerais e se mostrando do lado oposto à oposição a Lula no estado.
Pacheco elogiou a sanção, ainda que com vetos parciais, da lei que trata da negociação de dívidas dos estados. Isso aconteceu no momento em que governadores de oposição criticaram Lula por isso. Da mesma forma, o senador fez questão de se mostrar como uma antítese do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que trocou críticas com Lula pelo fato de se ausentar de um evento de lançamento de uma obra para Minas. Pacheco estava doente e também não participou do evento de inauguração, mas divulgou uma nota em que agradeceu ao governo federal pela obra.
Uma semana antes, o senador também elogiou Lula pela sanção da regulamentação da Reforma Tributária e em meio à crise da portaria que regulamentava a fiscalização de transações financeiras, criticou aqueles que disseminavam fake news contra o governo.
Integrantes do governo dizem que Pacheco tem buscado cada vez mais agir afinado com o Planalto e que virou um aliado importante de Lula. Também é citado o papel dele como possível candidato a governador de Minas, abrindo palanque para o petista em 2026 em um estado importante. Embora tenha evitado tratar do assunto, a ideia é que o senador do PSD seja o candidato contra um nome apoiado por Zema. Em um futuro mais imediato, há a possibilidade de ser contemplado com uma pasta na reforma ministerial — o partido hoje está à frente de três ministérios.
— Ninguém vai fazer isso por telefone. É uma decisão dos parlamentares — afirma o líder do PSD no Senado, Omar Aziz (AM), sobre o debate em torno dos espaços do partido no primeiro escalão.
Foco no Senado
Em paralelo a isso, Pacheco tem trabalhado para fortalecer o PSD no Senado. O partido tem maior número de senadores, mas mesmo assim resolveu apoiar Davi Alcolumbre (União-AP) para a presidência da Casa. Em troca, Pacheco e Alcolumbre tentam construir um acordo para que o PSD tenha o maior protagonismo possível nos outros espaços da Casa.
A expectativa é que a legenda ganhe o comando das comissões de Constituição e Justiça, com Otto Alencar (PSD-BA) e de Relações Exteriores, além de espaço na Mesa Diretora.
Procurados, Lira e Pacheco afirmaram via assessoria que seguem com as atividades do mandato e não fizeram comentários sobre o futuro político.
Por
Lauriberto Pompeu— Brasília
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