sexta-feira, 23 de junho de 2023

Ibovespa sobe 0,04% e engata 9ª semana de alta, maior sequência desde 2013

 



A aversão global ao risco derrubou as ações de empresas exportadoras de commodities, mas não foi suficiente para impedir o Ibovespa de encerrar o dia em alta de 0,04%, aos 118.977,10 pontos.


Assim, o índice conseguiu sustentar um ganho de 0,18% na comparação com a última sexta-feira, 16, e alcançou a nona semana consecutiva de valorização, na maior sequência desde as dez altas encerradas em agosto de 2016.


Os ganhos dos setores elétrico (+3,0%), imobiliário (+2,72%) e de consumo (+0,74%) puxaram a Bolsa brasileira nesta sexta-feira, 23, beneficiados pelo noticiário corporativo e pela queda firme dos juros futuros.


Em contrapartida, as baixas de Petrobras (-4,10% PN, -3,39% ON) e Vale ON (-1,01%) limitaram o desempenho e chegaram a manter o índice no negativo durante a maior parte da sessão.



Profissionais do mercado atribuem as quedas de Petrobras e Vale à piora da expectativa para o desempenho da economia global e, portanto, da demanda por commodities.


Esse ambiente de cautela se instalou após dados de atividade mais fracos do que o esperado nos Estados Unidos, Europa e Japão, que reforçaram temores de recessão um dia após os bancos centrais do Reino Unido, Turquia, Noruega e Suíça terem elevado juros.


Os contratos futuros do petróleo tiveram quedas de 0,50% (WTI) a 0,46% (Brent), em um dia já marcado por uma baixa de 2,34% dos preços do minério de ferro na Bolsa de Cingapura.


Em meio à aversão ao risco, os índices acionários de Nova York fecharam em queda generalizada - Nasdaq (-1,01%), S&P 500 (-0,77%) e Dow Jones (-0,65%) - e emitiram sinal negativo para o País.


Mesmo assim, 57 dos 86 papéis listados no Ibovespa conseguiram sustentar alta no dia, contra apenas 27 em queda. Ao final do dia, todos os principais índices setoriais da B3 mostravam ganhos, incluindo o Imat, de materiais básicos, que ganhou 0,07% apesar das perdas observadas na Vale.


“De maneira geral, o dia foi de recuperação para as ações, e quem segurou o Ibovespa foram Vale e Petrobras, que caíram por causa da piora no tom internacional”, diz o analista da Empiricus Research Matheus Spiess. “Ontem tivemos uma correção pautada em fatores macro e em um ambiente internacional que não tem ajudado, mas, hoje, voltamos à tendência natural, especialmente pela queda dos juros.”


Na véspera, o Ibovespa havia cedido 1,23% - com perdas em 76 dos 86 papéis -, seguindo dúvidas sobre o aperto monetário global e sobre o ritmo do afrouxamento no Brasil, após um comunicado mais hawkish do que o esperado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Para Spiess, os papéis que mais perderam na sessão anterior foram beneficiados pelo recuo dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) nesta sexta-feira.


As maiores altas do Ibovespa foram registradas em IRB Brasil ON (+7,29%), Assaí ON (+7,04%), SLC Agrícola ON (+6,51%), CPFL Energia ON (+6,24%) e Energisa Unit (+5,99%), com os papéis do setor elétrico beneficiados pela notícia de que o Ministério de Minas e Energia abriu consulta pública para discutir com agentes do setor elétrico a renovação de concessões a vencer de distribuidoras.


Na ponta negativa do Ibovespa, os destaques negativos foram Yduqs ON (-7,99%), Via ON (-4,42%) e Minerva ON (-4,41%), além dos papéis preferenciais e ordinários da Petrobras. Para analistas, há incerteza sobre o desempenho das commodities na segunda-feira, quando os mercados chineses voltam a abrir após um feriado.


Nesta sexta-feira, o Ibovespa oscilou entre a mínima de 118 178,09 pontos (-0,64%) e a máxima de 119.386,09 pontos (+0,38%), em uma sessão que movimentou R$ 26,3 bilhões. O índice acumula ganho de 9,82% no mês e de 8,42% no ano.


Dólar

O dólar à vista emendou nesta sexta-feira, 23, a segunda sessão consecutiva de leve alta no mercado doméstico de câmbio, mas encerrou a semana abaixo da linha de R$ 4,80 e com desvalorização de 0,87%. Como ontem, o dia foi marcado por aversão ao risco e fortalecimento da moeda americana no exterior, após dados fracos de atividade na Europa e nos Estados Unidos - que ainda estão em meio a ciclos de aperto monetário - aumentaram os temores de recessão global. O real teve perdas bem mais modestas que seus principais pares, à exceção do peso mexicano.


Tirando uma queda pontual entre o fim da manhã e o início da tarde, quando desceu até mínima a R$ 4,7664 com relatos de fluxo comercial, o dólar à vista operou com sinal positivo no restante da sessão. Após máxima a R$ 4,8071 pela manhã, a moeda fechou cotada a R$ 4,7779, em alta de 0,12%. Termômetro do apetite por negócios, o dólar futuro para julho teve bom giro, ao redor de US$ 12 bilhões.


Com o recuo de 0,87% na semana, o dólar já acumula desvalorização de 5,82% em junho e opera nos menores níveis desde maio do ano passado. No mês, o real apresenta o melhor desempenho entre as moedas latino-americanas e as principais divisas de exportadores de commodities. No ano, porém, a moeda brasileira ainda exibe ganhos inferiores que os pesos mexicano e colombiano.


Analistas ressaltam que o real estava bem depreciado em relação a seus pares e conseguiu se recuperar em meio a uma melhora das expectativas para a economia brasileira, com crescimento acima do esperado e arrefecimento da inflação. Além disso, mesmo com a provável queda da taxa Selic no segundo semestre, os juros reais seguiram muito atraentes no curto prazo para operações de ‘carry trade’. Também contam a favor a sazonalidade favorável da balança comercial com a safra recorde e a diminuição da percepção de risco na esteira do avanço do arcabouço fiscal no Congresso.


Para o head de Investimentos da Nomad, Caio Fasanella, a postura cautelosa do Copom no comunicado da última quarta-feira, 21, quando manteve a taxa de juros em 13,75% e não deu um sinal explícito de corte de juros em agosto, contribui para o desempenho dos ativos domésticos ao mostrar compromisso com a estabilidade de preços.


Enquanto as economistas desenvolvidas desaceleram e ainda não terminaram o processo de aperto monetário, o Brasil exibe crescimento acima do esperado e, com a inflação mais comportada, se encaminha para início de ciclo de corte. “Estamos um passo à frente da Europa e dos Estados Unidos. Há claramente uma tendência de valorização do real por essa conjunção de fatores”, diz Fasanella.


O time de análise macroeconômica do Safra afirma que o real tem se beneficiado da “redução da incerteza fiscal e da recuperação do consumo das famílias nos próximos trimestres”, o que vai favorecer “ingresso de investimentos diretos no país contrabalançado eventual queda de fluxo em carteiras” com o ciclo de cortes da Selic. “A apreciação do câmbio favorecida pelo forte saldo comercial e a melhora do ambiente prospectivo para a economia brasileira nos levou a mudar a projeção de câmbio ao final de 2023 para R$ 4,90”, afirma.


No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar em relação a seis divisas fortes, em especial euro e iene - operou em alta firme ao longo do dia e superou a barreira dos 103,000 pontos. Na outra ponta da gangorra, commodities metálicas e petróleo recuarem, mas com perdas inferiores a de ontem. O contrato do petróleo tipo Brent para setembro fechou em baixa de 0,46%, a US$ 74,01 o barril, acumulando desvalorização de quase 3% na semana.


Juros

Os juros futuros fecharam em queda firme, ao longo da estrutura a termo. O exterior teve grande contribuição para o desenho da curva, uma vez reforçado o receio de recessão global em meio a dados fracos de atividade nos Estados Unidos e Europa, divulgados hoje, somados a discursos e decisões “hawkish” dos bancos centrais nesta semana.


Internamente, notícias de bastidores pós-Copom envolvendo o Planalto e a diretoria do Banco Central agitaram as mesas de renda fixa e estimularam a percepção de que o Copom deve amenizar o tom do comunicado na ata da terça-feira. Ainda, o alívio dos prêmios esteve relacionado ao otimismo sobre a tramitação da reforma tributária. No balanço da semana, a curva perdeu inclinação com as taxas longas caindo ainda mais do que as dos demais trechos.


A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou em 13,005%, na mínima, de 13,069% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025, a 11,01%, de 11,13% ontem. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 10,395%, de 10,50% ontem. A taxa do DI para janeiro de 2029 cedeu de 10,78% para 10,67%. Na semana, as curtas e intermediárias recuaram em torno de 10 pontos-base e as longas, perto de 20 pontos.


Os juros futuros acompanharam o fechamento das curvas dos Treasuries e dos bônus europeus. Os índices de gerentes de compras (PMIs, em inglês) da zona do euro, Reino Unido e Estados Unidos vieram abaixo do esperado, ampliando o pessimismo sobre a economia mundial dadas as indicações de que o Federal Reserve vai voltar a subir os juros em julho e que o ciclo de aperto monetário pelos bancos centrais na Europa vai continuar.


Do lado doméstico, o mercado voltou a se animar com a possibilidade de o Copom começar a reduzir a Selic em agosto. Na precificação da curva, não só voltou a zerar a aposta de estabilidade em agosto, retomada ontem com o comunicado do Copom, como retomou as de corte de 50 pontos, que no fim da tarde apareciam com cerca de 20% de chance nos DIs, contra 80% de probabilidade de queda de 25 pontos. Para o fim de 2023, a curva projeta Selic perto de 11,75%.


Nos bastidores, o Broadcast apurou que membros da equipe econômica ficaram altamente incomodados com o fato de o comunicado ter pressionado ontem para cima a curva de juros. A visão é de que sem essa “intervenção” a curva continuaria cedendo de forma consistente desde o início da tramitação do arcabouço fiscal no Congresso, refletindo ainda surpresas boas nos dados de inflação. De acordo com a Bloomberg, integrantes do Copom teriam se movimentado para explicar ao Planalto e ao Ministério da Fazenda que o comunicado deixou sim a porta aberta para uma eventual queda dos juros em agosto e que as decisões são técnicas. Isso posto, o mercado passou a atribuir maior probabilidade de que o colegiado use a ata do Copom, na terça-feira, para uma correção de rota em resposta não só ao governo, como também ao mercado.


“O mercado está querendo acreditar que a porta está aberta para corte da Selic em agosto, especialmente porque o CMN (Conselho Monetário Nacional) deve endossar a meta de inflação de 3%”, disse o gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cássio Andrade Xavier, que vê um certo exagero neste grau de otimismo dos agentes, destacando que a indicação da curva já é de Selic abaixo de 9,5% no fim do ciclo no último trimestre de 2024. A reunião do CMN para discutir as metas de 2024, 2025 e 2026 será na quinta-feira, quando sai também o Relatório de Inflação (RI)


Outro combustível para o alívio nos prêmios, diz o gestor, são as apostas de evolução da reforma tributária no Congresso. O relator, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), apresentou ontem o texto da Proposta de Emenda à Constituição (PEC). O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tem reforçado que quer votar o texto no plenário da Câmara na primeira semana de julho.


Estadão conteúdo

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