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Cientistas do Instituto de Radiologia Mallinckrodt, da Universidade de Washington em St. Louis, nos Estados Unidos, descobriram uma associação entre um tipo específico de gordura corporal, conhecida como oculta ou visceral, e uma maior concentração de proteínas no cérebro ligadas à doença de Alzheimer. De acordo com os pesquisadores, essa relação foi encontrada até 20 anos antes do surgimento dos primeiros sintomas da doença.
O estudo em que detalham o achado foi apresentado nesta segunda-feira na reunião anual da Sociedade de Radiologia da América do Norte (RSNA, da sigla em inglês). Para os cientistas, os resultados são suficientes para defender que mudanças no estilo de vida destinadas à redução dessa gordura influenciam o desenvolvimento do Alzheimer e podem prevenir o diagnóstico.
“Esse resultado crucial foi descoberto porque investigamos a patologia da doença de Alzheimer já na meia-idade, nos anos 40 e 50, quando a doença está em seus estágios iniciais, e possíveis modificações, como perda de peso e redução da gordura visceral, são mais eficazes como meio de prevenir ou retardar o início da doença”, afirma a principal autora do estudo, Mahsa Dolatshahi, pesquisadora do instituto, em comunicado.
No trabalho, 80 indivíduos com idade média de 49,4 anos, sem problemas cognitivos, foram analisados. 57,5% dos participantes eram considerados obesos. Os responsáveis pela pesquisa realizaram tomografias cerebrais, ressonâncias magnéticas do corpo e avaliações metabólicas dos voluntários.
Além disso, foram feitas ressonâncias magnéticas do abdômen para medir o volume de gordura subcutânea, que é mais aparente pois fica sob a pele, e a chamada gordura visceral, que é também conhecida como oculta por se alojar entre os órgãos, sendo de mais difícil percepção.
Eles relacionaram os indicadores à presença de beta-amiloide e a tau no cérebro, proteínas cujo acúmulo forma placas no órgão que são ligadas ao desenvolvimento do do Alzheimer. Os resultados mostraram que níveis mais altos de gordura visceral estavam relacionados ao aumento dos biomarcadores.
“Nosso estudo mostrou que a maior quantidade de gordura visceral estava associada a níveis mais altos das duas proteínas patológicas características da doença de Alzheimer - amiloide e tau. Até onde sabemos, nosso estudo é o único a demonstrar essas descobertas na meia-idade, quando nossos participantes estão a décadas de desenvolver os primeiros sintomas da demência resultante da doença de Alzheimer”, continua a pesquisadora.
Além disso, as análises também encontraram uma relação entre maior resistência à insulina e menor HDL (colesterol conhecido como “bom”) com um alto teor de beta-amiloide no cérebro. “Uma das principais implicações de nosso trabalho é que o gerenciamento do risco de Alzheimer na obesidade precisará envolver o direcionamento dos problemas metabólicos e lipídicos relacionados que geralmente surgem com o aumento da gordura corporal”, avalia o autor sênior do estudo, Cyrus A. Raji, professor do Instituto de Radiologia Mallinckrodt.
Ele acrescenta que, embora estudos anteriores já tenham estabelecido uma relação entre obesidade e risco aumentado para o Alzheimer, o novo “vai além do uso do IMC para caracterizar a gordura corporal de forma mais precisa com a ressonância magnética e, ao fazê-lo, revela informações importantes sobre por que a obesidade pode aumentar o risco da doença”.
Um dos mecanismos pelos quais esse aumento da gordura visceral atua no risco pode ser explicado justamente por um outro estudo conduzido pelo mesmo grupo de cientistas e também apresentado na reunião da RSNA. Nele, os pesquisadores observaram que os voluntários com maior teor de gordura visceral apresentavam um menor fluxo sanguíneo cerebral.
“Esse trabalho terá um impacto considerável na saúde pública porque quase três em cada quatro americanos estão com sobrepeso ou obesos. Sabendo que a obesidade visceral afeta negativamente o cérebro, abre-se a possibilidade de que o tratamento com modificações no estilo de vida ou medicamentos apropriados para perda de peso possa melhorar o fluxo sanguíneo cerebral e, potencialmente, diminuir a carga e reduzir o risco da doença de Alzheimer”, avalia Raji.
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