quinta-feira, 5 de setembro de 2024

"Sofrência" chega à Capital com pinturas do acervo do Museu Internacional

 

                                             IMAGENS: DIVULGAÇÃO/ACERVO MIAN

Com abertura hoje(5), mostra no Centro Cultural José Octávio Guizzo apresenta 72 pinturas do acervo do Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil que retratam o cotidiano; curadoria de Ulisses Carrilho inspirou-se na música sertaneja

O projeto Arte nas Estações, idealizado pelo colecionador e gestor cultural carioca Fabio Szwarcwald, chega a Campo Grande nesta quinta-feira com a inauguração da exposição “Sofrência”.


Essa é a primeira de três mostras sequenciais que ocuparão os 200 m² de área expositiva do Centro Cultural José Octávio Guizzo, exibindo parte do acervo do Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil (Mian).


Sob a curadoria de Ulisses Carrilho, as exposições foram concebidas de forma integrada, trazendo um total de 262 obras de 25 artistas. Instalado no Rio de Janeiro entre 1995 e 2016, quando encerrou as atividades por falta de recursos, o Mian abrigou um acervo permanente de 6 mil pinturas de artistas de 120 países.


Considerado o maior do gênero em todo o mundo, o conjunto foi reunido ao longo de décadas pelo joalheiro francês radicado no Rio Lucien Finkelstein (1931-2008).



“Quando idealizei o projeto, meu objetivo era dar visibilidade a esta rara coleção e propor um olhar contemporâneo para esses artistas e suas produções, a partir de um diálogo entre eles e o mundo em que vivemos hoje”, diz Szwarcwald, diretor-executivo do Arte nas Estações.


Após o sucesso da primeira edição do projeto no interior de Minas Gerais, que atraiu quase 30 mil visitantes no ano passado, a segunda itinerância inicia-se em Campo Grande com a mostra “Sofrência”, que seguirá aberta à visitação até 20 de outubro. Em seguida, serão apresentadas as exposições “A Ferro e Fogo”, de 31 de outubro a 8 de dezembro, e “Entre o Céu e a Terra”, de 19 de dezembro a 20 de fevereiro de 2025. 


Em francês, o termo naïf significa “ingênuo, sem qualquer tipo de malícia”. No campo das artes visuais, a arte naïf identifica uma produção de caráter autodidata, daqueles que não tiveram acesso ao ensino formal de arte.


No entanto, os temas do universo popular, abordados por artistas como o mineiro Odoteres Ricardo de Ozias, mostram que a ingenuidade que transparece à primeira vista também é capaz de revelar camadas mais complexas e profundas da realidade social representada nas telas.


O curador afirma que se trata de um termo questionável e defende a sua utilização para desmontar a ideia de inferioridade e sublinhar o texto político que essas obras carregam.


“De naïf esses artistas nada tinham, eram politicamente engajados”, observa Ulisses. “Essas exposições são sobre saberes que precisam ser respeitados e que não fazem parte de uma norma”, argumenta.


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“Sofrência” reúne 72 obras que têm como matriz a figura feminina e retratam cenas de convívio social, ambientes domésticos e ruas das cidades onde florescem flertes, festas e trocas de olhares.


A narrativa é entremeada por versos da música sertaneja, que popularizou o termo que dá título à mostra em canções que falam de amores mal resolvidos.


“Em ‘Sofrência’, a veia poética feminina tem como ponto de partida a canção ‘Troca de Calçada’, em que a cantora e compositora Marília Mendonça traz para o eu lírico a voz de uma trabalhadora do sexo”, explica Ulisses.


A força da poesia popular se manifesta nas obras de arte e nos versos de outros grandes nomes do sertanejo, como Maiara e Maraísa e Cristiano Araújo, cujas letras das canções aparecem impressas nas paredes da exposição. Essas e outras faixas que inspiraram a mostra estão disponíveis em uma playlist criada na plataforma de streaming Spotify.


TONS DE VERMELHO

O projeto expositivo de “Sofrência” também ecoa uma estética pop ao convidar o público para uma experiência imersiva na área expositiva do Centro Cultural José Octávio Guizzo. 


A expografia de Janine Marques foi concebida para criar um “túnel de cor”, no qual paredes e chão em tons de vermelho vibrante envolvem o público. Já a fachada espelhada do edifício, que esteve fechado para obras durante um longo período, vai ganhar uma intervenção com filtro colorido.


O Arte nas Estações destaca-se não apenas pelo trabalho voltado à democratização da cultura e das artes visuais, mas também pelo legado construído por meio de suas iniciativas educativas.


Com programação ampla e inclusiva, o projeto afirma investir “na perspectiva social da arte”, promovendo atividades que visam a construção de saberes em parceria direta com as comunidades locais.


Em Campo Grande, o Arte nas Estações pretende engajar ainda mais a população local, “reforçando sua missão educativa e deixando um legado relevante para a cidade anfitriã”. 


Uma realização da Ikigai Produções e do Ministério da Cultura, o projeto é viabilizado com recursos da Lei Federal de Incentivo à Cultura, sob o patrocínio da Energisa (master), Copa Energia, BMA Advogados e Banco BV, além de uma série de apoiadores: Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS), Instituto Energisa e Fundo de Filantropia da Família Hees

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