sexta-feira, 28 de abril de 2023

Ibovespa interrompe série negativa e sobe 0,60%, aos 102,9 mil pontos

 

                                           Ibovespa voltou a subir nesta quinta-feira - Divulgação

Estadão


O Ibovespa conseguiu se firmar no positivo à tarde de ontem, acompanhando muito à distância a acentuação de ganhos em Nova York, que chegaram a 2,43% no fechamento (Nasdaq), em dia de reação a balanços como o da Meta, bem recebidos nos EUA e na Europa. 


Os resultados corporativos se impuseram à decepção com o PIB americano no primeiro trimestre e também à cautela quanto ao núcleo do PCE - métrica de inflação ao consumidor preferida do Federal Reserve, que volta a se reunir na próxima semana para deliberar sobre os juros de referência dos Estados Unidos.


Aqui, o desempenho de Petrobras (ON -2,66%, PN -2,43%), embora amenizado no meio da tarde em relação ao visto no início da etapa vespertina, impediu recuperação mais consistente do índice da B3, apesar dos ganhos bem distribuídos pelas ações e os setores de maior peso e liquidez. Vale ON subiu 2,12% mesmo com a frustração dos investidores quanto ao balanço do primeiro trimestre, divulgado na noite anterior. 


E os ganhos entre os grandes bancos atingiram 1,93% (Bradesco PN) no encerramento do dia. Destaque também para BTG Pactual (+3,35%), quinta maior alta da carteira Ibovespa na sessão, pouco atrás de Soma (+4,27%) e de Locaweb (+3,91%).



Assim, vindo de três perdas consecutivas, o Ibovespa subiu hoje 0,60%, aos 102.923,31 pontos, tendo oscilado entre 101.975,35 e 103.177,38, após abertura aos 102.309,98 pontos. O giro se manteve moderado nesta penúltima sessão do mês, a R$ 22,5 bilhões. Na semana, o Ibovespa recua 1,38%, limitando os ganhos acumulados em abril a 1,02% - ontem, estavam abaixo de 0,5%. No ano, cai 6,21%.


Em abril, Petrobras permanece como carro-chefe para o leve ganho do Ibovespa no mês, mas hoje as ações da estatal destoaram do desempenho moderadamente positivo do petróleo e do apetite por ações de primeira linha, em sessão na qual o dólar convergiu para baixo de R$ 5 - chegando a R$ 4,97 nas mínimas -, o que sugere fluxo de ingresso de recursos, observa Lucca Ramos, assessor de renda variável da One Investimentos. Em abril, Petrobras ON e PN ainda acumulam ganhos fortes, de 9,10% e 11,30%, respectivamente.


Os acionistas da Petrobras aprovaram hoje, em assembleia geral ordinária (AGO), a retenção de R$ 6,5 bilhões da segunda parcela dos dividendos referentes ao quarto trimestre de 2022. A proposta foi da União, acionista majoritária representada pelo governo federal. 


Com isso, a Petrobras pagará em proventos o total de R$ 35,8 bilhões, mas agora em três parcelas: em 19 de maio (R$ 17,9 bilhões); 16 de junho (R$ 11,4 bilhões); e 27 de dezembro (R$ 6,5 bilhões), reportam do Rio os jornalistas Denise Luna e Gabriel Vasconcelos, do Broadcast.


“Após três perdas para o Ibovespa, o dia foi de respiro mesmo com os resultados da Vale não tendo vindo tão bem”, diz Ramos, destacando a recuperação em papéis como os de 3R Petroleum (+11,91%) e MRV (+8,59%), na ponta do Ibovespa nesta quinta-feira. No lado contrário, Petz (-4,87%), Pão de Açúcar (-3,71%) e Sabesp (-3,13%).


“O mercado já abriu hoje em tendência de queda, precificando a princípio os resultados de Vale, ação com peso muito significativo no índice. Ainda pela manhã, vieram leituras importantes sobre o PIB americano, bem abaixo do projetado, e o PCE, cujo núcleo veio acima nessa leitura”, diz Helder Wakabayashi, analista da Toro Investimentos. “Depois, o Ibovespa reagiu, com ânimo um pouco mais comprador, e com o dólar dando também uma puxada, em queda”, acrescenta.


“A Bolsa conseguiu sair do negativo para o positivo na sessão. O PIB americano mostrou que a elevação de juros empreendida pelo Fed trouxe efeitos para a economia, em desaceleração. Como notícia ruim tem virado notícia boa, a leitura de copo meio cheio é de que a política monetária americana está surtindo efeito, com o mercado ponderando se o Federal Reserve poderá fazer uma pausa ou se ainda elevará os juros mais um pouco, antes de parar”, diz Matheus Willrich, especialista em renda variável da Blue3 Investimentos.


Em outro desdobramento fundamental para a sessão desta quinta-feira, as grandes empresas de tecnologia dos Estados Unidos, como a Meta, vieram com bons resultados, acrescenta Willrich. “Por aqui, os números da Vale decepcionaram, mas grande parte disso já estava precificada numa ação que acumulava perdas”, acrescenta o analista.


À tarde, na agenda de indicadores domésticos, destaque para a divulgação do Caged de março, acima do esperado, “mostrando um mercado de trabalho ainda aquecido apesar da desaceleração da geração líquida de vagas em relação a fevereiro”, diz Patrícia Krause, economista-chefe da Coface para América Latina. “Em termos de abertura dos dados, o destaque segue com o setor de serviços, mostrando resiliência em linha com a atividade econômica mais recente, que tem perdido força com o aperto nas condições de crédito”, acrescenta a economista.


Dólar

Já em baixa firme pela manhã com diminuição dos riscos fiscais na esteira da decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) favorável ao governo e de sinais de entrosamento entre o Banco Central e o ministério da Fazenda, o dólar à vista acentuou o ritmo de queda ao longo da tarde desta quinta-feira, 27, e voltou a romper o piso psicológico de R$ 5,00.


Esse movimento se deu em linha com o ambiente mais propício ao risco no exterior, que impulsionou divisas emergentes e de países exportadores de commodities. Termômetro do comportamento do dólar frente a seis moedas fortes, o índice DXY - que havia subido com força pela manhã após divulgação do PIB dos EUA do primeiro trimestre abaixo do esperado e da aceleração do índice de preços de gastos com consumo (PCE) - praticamente zerou os ganhos ao longo da tarde.


Com renovação de sucessivas mínimas nas duas últimas horas de negócios, a moeda desceu até R$ 4,9707 (-1,71%). No fim da sessão, o dólar recuava 1,52%, cotado a R$ 4,9802 - menor valor de fechamento e abaixo de R$ 5,00 desde o último dia 18 (R$ 4,9759). Após o tombo de hoje, o dólar passou a acumular desvalorização de 1,74% em abril. O real apresentou hoje o melhor desempenho frente à moeda americana entre as divisas globais mais relevantes.


Operadores relataram forte pressão vendedora no mercado futuro de câmbio, com desmonte de posições defensivas e início de rolagem de contratos, na véspera da formação da última taxa Ptax do mês. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para maio teve bom giro, na casa de US$ 14 bilhões.


“Tivemos uma forte redução de hedge cambial quando o dólar tocou R$ 4,90 neste mês e hoje estamos vendo um pouco da retomada desse movimento. Havia gordura para queimar depois que o dólar atingiu R$ 5,08”, afirma o diretor de produtos de câmbio da Venice Investimentos André Rolha, para quem a moeda pode voltar a se aproximar de R$ 4,90 se não houver ruídos do lado fiscal.


O desempenho exuberante da moeda brasileira é atribuído, sobretudo, a uma redução de prêmios associados ao risco fiscal, após a decisão do STJ favorável ao governo, com autorização da cobrança de IRPJ e CSLL sobre benefícios fiscais de ICMS. Estima-se que isso possa reforçar a arrecadação em R$ 90 bilhões, contribuindo para que o governo alcance as metas previstas na proposta do novo arcabouço fiscal.


Embora o julgamento do STJ tenha sido suspenso por decisão liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça, a pedido associação do agronegócio, a decisão animou os investidores. A liminar de Mendonça deve ser apreciada no plenário do STF na próxima semana.


“A percepção de que a decisão de ontem do STJ ajudará no esforço fiscal do governo é um dos fatores por trás do movimento de hoje do dólar”, afirma o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, ressaltando que “há meses” tem dito que os fundamentos macroeconômicos apontam para uma valorização da taxa de câmbio. “Temos que nos acostumar aos ruídos, que não alteram a tendência, mas trazem volatilidade à moeda”.


Em debate no Senado sobre a taxa de juros com presença dos titulares da Fazenda (Fernando Haddad) e do Planejamento (Simone Tebet), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que é preciso “reconhecer grande esforço do governo com real possibilidade de estabilizar a dívida”.


“Campos Neto já havia dito que o arcabouço tira o risco de crescimento explosivo da dívida. Essa decisão do STJ é na margem um sinal positivo pode ajudar o governo a cumprir a meta fiscal, o que contribuiu para a queda do dólar”, afirma o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, que a manutenção de taxa de câmbio abaixo de R$ 5,00 ainda não é sustentável, dadas as dúvidas no front fiscal.


Juros

Os juros futuros de curto e médio prazos fecharam em alta e os longos, com viés de queda. Apesar do tombo do IGP-M de abril, a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) e o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) surpreenderam para cima, alimentando a convicção sobre a manutenção da Selic em 13,75% no Copom da próxima semana e limitando o espaço para a flexibilização das taxas até o miolo.


Os longos tiveram alívio com a valorização do câmbio e a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ontem, favorável ao governo no julgamento sobre benefícios fiscais, a despeito da pressão dos Treasuries e do leilão do Tesouro com lote e risco mais elevados.


A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,24%, de 13,21% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 11,84% para 11,94%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 11,72%, de 11,70%, e o DI para janeiro de 2029, com taxa de 12,03%, de 12,07%.


A agenda e o noticiário interno estabeleceram um jogo de forças que segurou as taxas relativamente perto dos ajustes durante todo o dia, mas com alternância de leve sinal positivo e negativo até o trecho intermediário. Os longos, por sua vez, percorreram a jornada com queda moderada, na contramão da abertura da curva americana.


O contágio por aqui foi limitado, em boa medida, pela queda do dólar, que à tarde voltou a furar o nível dos R$ 5, para fechar em R$ 4,9802. Além disso, a decisão do STJ trouxe alívio na perspectiva fiscal, dado que o alcance das metas estipuladas no arcabouço é visto como muito dependente da geração de receitas.


A corte decidiu ontem, por unanimidade, autorizar a cobrança de IRPJ e CSLL sobre benefícios fiscais de ICMS. De acordo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a decisão permite a arrecadação de R$ 90 bilhões para a União. A decisão, porém, não terá eficácia, no curto prazo, em função de uma liminar do ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF).


O economista-chefe do Banco Original, Marco Caruso, afirma que, além da receita advinda, há um segundo ponto que pode ter favorecido o recuo das taxas. “Se pensarmos que as empresas serão taxadas, pode haver desaceleração na atividade, o que em tese reduz a inflação”, comentou.


Na agenda, a deflação do IGP-M de abril, de 0,95%, ficou perto do piso das estimativas, que iam de -1,04% a -0,41%, com mediana de -0,71%, sob impacto da melhora do câmbio e queda de preços das commodities. Pelo lado da atividade, o volume de serviços de fevereiro subiu 1,1% na margem, perto do teto das projeções (1,0% a 1,2%, com mediana de +0,5%).


Para os analistas da Levante, os indicadores mostram que a inflação desacelera e a atividade econômica se recupera, embora aquém do seu potencial. “Aos poucos, mais devagar do que seria desejável, a economia brasileira está voltando aos trilhos”, comentaram.


À tarde, a agenda trouxe ainda contas do Governo Central. O déficit de R$ 7,085 bilhões em março veio bem pior do que a mediana das estimativas (-R$ 4,70 bilhões).


No Caged, as 195.171 vagas criadas em março superaram o teto das previsões, que iam de 23.407 mil a 161.244 vagas em março, com mediana positiva de 96.473. “Com ajuste sazonal, a geração de postos é estimada entre 250 mil e 300 mil, é muito forte”, afirma Caruso.


Hoje no Senado, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a citar que a inflação brasileira tem desacelerado de forma lenta, com os núcleos ainda altos. Reforçou ainda que as “projeções do BC pioraram e estacionaram em nível alto e distante da meta”. Ele participou, juntamente com os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento) de um debate sobre juros, mas com declarações na mesma linha daquelas feitas na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) na terça-feira.


O Tesouro veio com um lote grande de prefixados nesta quinta-feira, o último o mês, de 17 milhões de LTN e 1,3 milhão de NTN-F, ante 11 milhões e 1 milhão, respectivamente, na semana passada. O risco em DV01 ficou em US$ 691 mil, de US$ 418 mil no leilão anterior, segundo a Necton Investimentos.

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