Gazeta/Saude
Cristiane Peixoto
Mestre em Educação Física no Envelhecimento pela USP, membro do WTTC Masterminds Team e criadora do Método Águia
Um diagnóstico de Alzheimer sempre traz consigo uma sobrecarga emocional imensa, tanto para a pessoa acometida quanto para sua família. Dentre os mistérios que a medicina enfrenta, este exige habilidades múltiplas dos médicos, que precisam correlacionar dados clínicos com exames de imagem e biomarcadores para chegar a uma conclusão, muitas vezes, duvidosa. O fato é: a pessoa está apagando.
O processo é longo e pode se manifestar precocemente. Se a pessoa tiver uma boa escolarização e um bom desenvolvimento intelectual pode retardar a percepção dos sintomas, pois acaba compensando as ausências com sua reserva cognitiva. Esquece uma palavra, mas logo encontra outra para substituí-la em seu repertório linguístico. Quando se queixa a ponto de buscar avaliação médica, em geral, já está em estágios mais avançados.
Cuidar de uma pessoa que sofre da mais comum forma de demência é um grande desafio. Tudo passa a ter necessidade de supervisão: alimentar-se, vestir-se, tomar banho, tomar remédios. Tudo. Muitas pessoas passam por uma fase agressiva, recusando-se a “obedecer” a ordem do dia, tal como crianças que não querem interromper o jogo para ir tomar banho, só que crianças que você não consegue arrastar para o banheiro, nem persuadir ameaçando castigo.
A casa passa a ter adaptações. Há necessidade de ajuda profissional, cuidadores, plantonistas, pessoas que te garantirão um tempo para respirar e realizar suas responsabilidades profissionais e familiares. Custa caro. Mas, de tudo isso, a pior coisa para a pessoa com Alzheimer é a negação de sua verdade.
Se ele diz que hoje é terça-feira, adianta você dizer que é quarta? Se ele diz que a mãe ainda é viva, adianta você dizer que ela faleceu há décadas? Muito da agressividade destas pessoas está em não sentir segurança nem confiança em quem está por perto. Afinal, já tentou se colocar no lugar? Se todos ao seu redor insistirem em dizer que o sol é verde, você aceita passivamente?
A pessoa passa a esquecer um pouco mais, isso pode incluir você, filho (a). Será que alguém é preparado para ser esquecido por quem mais nos ama no mundo? Isso traz a necessidade de acreditar que o amor não fica em uma área passiva de deterioração em algum lugar do nosso cérebro, mas que ele impera inabalável, nas profundezas de um ser que transcende.
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