Seguindo sua política de reciclar periodicamente seus produtos de maior sucesso, a Disney lança em versão musical e live-action “A Bela e a Fera”, exatamente 26 anos depois da bem-sucedida animação, vencedora de dois Oscar (melhor canção original e melhor trilha sonora).
Para confortar os saudosistas do filme de 1991, as músicas de Alan Menken e Howard Ashman voltam a ser ouvidas, agora pelas vozes de atores de carne e osso, em cenários que lembram muito um musical da Broadway (que também já foi produzido, 23 anos atrás). Na tela, um grande elenco divide o espaço com um formidável arsenal de efeitos especiais – cujo volume explica em parte o polpudo orçamento, estimado em 160 milhões de dólares.
Emma Watson tenta desligar-se de vez da Hermione de “Harry Potter” para viver Bela, a jovem que se sente aprisionada na mesmice de uma aldeia francesa, onde ela é tida como esquisita por seu apego aos livros. Apoiada pelo pai, Maurice (Kevin Kline), ela ignora a maledicência e esnoba energicamente o assédio do pretendente mais desejado do pedaço, o oficial Gaston (Luke Evans), sujeito vaidoso e egocêntrico.
O perfil independente de Bela, aliás, corresponde bastante bem à militância feminista na vida real de Emma Watson. Mas, na história, ela vai encontrar as limitações da lenda, caindo prisioneira da Fera (Dan Stevens, de “Downtown Abbey”) para salvar seu pai.
Entre os toques contemporâneos desta nova adaptação, um dos mais marcantes é a diversidade racial, notada desde a sequência inicial, de um baile, em que se explicam as razões de toda a maldição que recaiu sobre o príncipe desalmado transformado na Fera peluda por uma feiticeira (Hattie Morahan).
O grande desafio do filme de Bill Condon (“A Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 1”) era dar vida aos encantadores objetos da animação. Isto é resolvido pelos efeitos especiais, que não dão conta, no entanto, de elaborar rostos tão expressivos quanto se poderia esperar ao candelabro Lumière (voz de Ewan McGregor), o relógio Cogsworth (Ian McKellen), o bule de chá sra. Potts (Emma Thompson) e a xicrinha Chip (Nathan Mack). Ainda assim, eles funcionam como uma eficiente brigada aliada de Bela nos primeiros tempos de cativeiro no castelo sombrio da Fera.
Outro toque moderno foi a transformação do fiel escudeiro de Gaston, LeFou (Josh Gad), num personagem gay, que não perde uma chance de insinuar-se para ele, alegando o quanto as mulheres são ingratas, Bela mais do que todas. Mas foi uma sequência final de dança, em que ele termina como parceiro de outro homem que causou alvoroço na Malásia, onde o homossexualismo é proibido por lei, adiando a estreia do filme naquele país.
Fora isso, em todo caso, esta versão de “A Bela e a Fera” segue o figurino de conto de fada que apela mais para adolescentes e adultos do que crianças, particularmente os fãs românticos à procura da repetição das emoções já sentidas diante da história familiar. Essa, pelo menos, é a ambição das produções que aspiram a tornar-se clássicas. As bilheterias dirão se é o caso.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
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