Reuters
Um rapaz que já protestou contra o governo de George W. Bush, por causa das invasões norte-americanas no Afeganistão e no Iraque, torna-se um traficante de armas, pois, como diz, não é uma questão de ser “pró-guerra”, e sim “pró-dinheiro”.
O cinismo do personagem e sua mudança de posição até poderia parecer falta de verossimilhança, assim como tantas outras coisas na história dos dois jovens que enriqueceram fornecendo armamento para o exército dos Estados Unidos, se “Cães de Guerra” não avisasse logo de cara que é baseado em fatos reais, para provar o quanto a vida pode ser mais absurda que a ficção.
O filme, bem mais “sério” do que se possa imaginar pela divulgação e a carreira pregressa do cineasta Todd Phillips, marcada pela trilogia da ressaca “Se Beber, Não Case!”, inspira-se no caso verídico dos traficantes de armas, com um pouco mais de 20 anos e muita droga no bolso, Efraim Diveroli (Jonah Hill) e David Packouz (Miles Teller), relatado no artigo de Guy Lawson, “Arms and the Dudes”, publicado na revista “Rolling Stone”.
Contado sob a perspectiva de David, o longa mostra quando o massagista reencontrou o seu melhor amigo da época de colégio e de que maneira. Frustrado e com a namorada Iz (Ana de Armas) grávida, ele facilmente se junta aos negócios de colega, que lhe apresenta as brechas nas licitações para compra de armamentos pelo governo norte-americano, em meados dos anos 2000, que os fazem lucrar rios de dinheiro. “O dinheiro é feito nas entrelinhas”, como diz o ambicioso Efraim, em uma das frases que pontuam a narrativa, como se fossem capítulos.
A estrutura do roteiro de Phillips, escrito em parceria com Stephen Chin, utiliza um recurso que já se tornou repetitivo e que, aqui, não funciona a fim de estabelecer a devida tensão: colocar um acontecimento futuro logo na primeira cena e, então, voltar ao que aconteceu antes para o personagem chegar até ali. Também pesa a construção de Iz, como nada mais do que uma companheira de David.
Referências a filmes como “Scarface” (1983) são feitas em citações diretas – há também uma breve a “Apocalipse Now” (1979) –, através de Efraim, fã do filme que adotou alguns ensinamentos dele para a sua vida. Com perfil de um sociopata, o empresário é defendido muito bem por Jonah Hill, que usa o cinismo de seu personagem e o peculiar e hilário riso que coloca nele para fazer o público cair, junto com Miles Teller, em sua lábia. Nele está o maior chamariz de “Cães de Guerra”, que tem em sua ótima trilha sonora composta basicamente por clássicos do rock e alguns raps outro trunfo.
Mesmo que o diretor não se arrisque o suficiente na crítica à indústria armamentista, seu retrato da prepotência ianque, especialmente com os protagonistas em ambiente internacional, na Jordânia, Iraque e Albânia, possui o sarcasmo necessário para levar uma reflexão sobre o tema.
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