Dormir permite ao cérebro limpar os resíduos acumulados no dia anterior graças a um mecanismo descoberto recentemente e que é ativo sobretudo durante o sono, demonstra um estudo publicado esta quinta-feira na revista Science.
Como um zelador que varre os corredores depois que as luzes se apagam, no cérebro ocorrem grandes mudanças quando dormimos que lhe permitem tirar o lixo e manter as doenças longe.
A descoberta pode fazer avançar a compreensão das funções biológicas do sono, explicaria porque passamos um terço da vida dormindo e permitiria encontrar tratamentos contra doenças neurológicas como o mal de Alzheimer, afirmam os cientistas autores deste estudo.
"Esta pesquisa mostra que o cérebro tem diferentes estados de funcionamento durante os períodos de vigília e de sono", explicou o doutor Maiken Nedergaard, da faculdade de Medicina da Universidade de Rochester, em Nova York, principal autor do estudo.
De fato, a natureza reparadora do sono resultaria da eliminação destes resíduos produzidos pela atividade neuronal que se acumulam no período de vigília acrescentou.
O mecanismo integrado no sistema sanguíneo impulsiona o fluido cérebro-espinhal através dos tecidos e o devolve purificado.
Em experimentos de laboratório feitos em ratos, os cientistas viram como o lixo celular era jogado para fora do cérebro através de vasos sanguíneos para o sistema circulatório do corpo e, finalmente, para o fígado, onde são eliminados.
A eliminação das toxinas no cérebro é essencial, visto que seu acúmulo na forma de proteínas tóxicas pode provocar doenças. Segundo os cientistas, quase todas as patologias neurodegenerativas estão vinculadas a um acúmulo de dejetos celulares.
Entre os dejetos eliminados nas cobaias de laboratório estavam a proteína beta amiloide, que quando se acumula é um gatilho para o aparecimento do mal de Alzheimer.
O processo é acelerado durante o sono porque as células do cérebro se retraem cerca de 60%, permitindo ao fluxo se mover mais rápido e mais livremente pelo cérebro, permitindo que os dejetos sejam eliminados mais facilmente.
Toda a operação acontece no que os cientistas chamam de glinfático, que parece ser 10 vezes mais ativo durante o sono do que durante a vigília e permite limpar a maior parte das toxinas responsáveis pelo mal de Alzheimer e outras doenças neurológicas.
"O cérebro tem energia limitada à sua disposição", afirmou Nedergaard. "É como organizar uma festa em casa. Você pode entreter os convidados ou limpar a casa, mas realmente não pode fazer as duas coisas ao mesmo tempo", explicou.
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