O costume pantaneiro de caçar o porco monteiro, um animal domesticado e que foi introduzido no Pantanal, está ajudando a preservar outras espécies de animais silvestres.
Essa é a conclusão de um artigo publicado recentemente na conceituada revista Oryx por pesquisadores da Embrapa Pantanal e de instituições internacionais (Wildlife Conservation Society-Brasil, Universidade de Kent – UK e Royal Zoological Society of Scotland).
O hábito é protegido por lei, por ter fins de subsistência para a população local.
Dois potenciais problemas para a biologia acabaram virando solução para a conservação de espécies nativas do Pantanal: a atividade da caça e a presença de uma espécie invasora. Normalmente, essas seriam ameaças ao ecossistema, mas no Pantanal elas estão ajudando a conservar a fauna local.
A publicação leva o título “Espécie invasora e caça tradicional contribuindo para a conservação da vida silvestre: o caso de suínos selvagens no Pantanal”. É assinada pelos pesquisadores Arnaud Desbiez, associado ao Royal Zoological Society of Scotland, também professor da Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade do Instituto de Pesquisas Ecológicas (Escas/IPÊ); Alexine Keuroghlian, pesquisadora da WCS-Brasil, pelo pesquisador Ubiratan Piovezan, da Embrapa Pantanal, e pelo professor Richard Bodmer, da Universidade de Kent, na Inglaterra.
A equipe entrevistou e analisou a atuação de aproximadamente 100 caçadores de 71 propriedades, entre 2002 e 2005. Eles solicitaram aos caçadores para descrever suas práticas de caça, utilizando formulários ilustrados.
O estudo ainda coletou mais de 250 crânios de animais caçados, que foram avaliados em conjunto com as entrevistas. Os resultados mostram que o porco monteiro é o alvo principal da caça.
De acordo com o pesquisador Ubiratan Piovezan, da Embrapa Pantanal (Corumbá-MS), Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, no passado a caça ilegal era uma ameaça à fauna da planície.
“Atualmente a caça das espécies nativas do Pantanal praticamente não ocorre”, disse. “Provavemente o Pantanal é um dos poucos locais da região Neotropical onde a fauna silvestre e populações humanas coexistem e a caça de animais nativos não é uma prática comum”, complementa.
Essa é a notícia positiva: a caça não é um problema no Pantanal, já que os caçadores locais preferem o porco introduzido, que funciona como uma espécie substituta.
Além disso, os pesquisadores constataram que a oferta da carne do porco monteiro é constante, aceita culturalmente e prontamente disponível aos consumidores. A gordura obtida é usada para cozinhar alimentos e também para conservar carnes.
Mas o artigo lembra que os porcos também podem causar danos ambientais e que o efeito ecológico da presença da espécie ainda não é bem conhecido.
Não se sabe se os aspectos positivos da substituição das espécies nativas pelo porco na atividade de caça podem compensar os seus danos potenciais. “Até o momento parece que a introdução da espécie e a caça estão ajudando a conservar a fauna local”, afirmam.
“É importante lembrar que o impacto do porco monteiro precisa ser melhor definido, especialmente na ocorrência de mudanças climáticas e impactos antrópicos, como por exemplo, aumento de desmatamento e mudanças no ambiente aquático.
Tais alterações podem causar escassez de recursos que eventualmente poderiam causar competição com as espécies nativas. Nesta situação, será muito importante ter um manejo adequada dos animais exóticos”, disse Alexine.
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