quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Ninguém está acima das leis, diz Maduro após ordem de prisão a opositor

 

                                              AFP

Ditador chama Edmundo González de covarde; EUA e outros 9 países da América Latina condenam ameaça de detenção


O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, falou sobre a ordem de prisão contra Edmundo González na noite de segunda (2), logo após o Ministério Público do país pedir a detenção de seu principal adversário nas eleições presidenciais do final de julho.


"Ninguém neste país está acima das leis e das instituições, como pretende esse senhor escondido, o covarde Edmundo González Urrutia", afirmou o líder do regime durante seu programa semanal na televisão estatal. "O Ministério Público o citou três vezes e ele não compareceu, pois diz que não reconhece o Ministério Público. Em que país isso acontece?"


A ordem de captura era esperada desde a última sexta-feira (30), quando González deixou de comparecer, pela terceira vez, a uma audiência que ocorreria no âmbito de uma investigação sobre a denúncia de fraude no pleito por parte de opositores.


Ainda na segunda, o porta-voz do líder afirmou à agência de notícias Reuters que ele não havia sido notificado de qualquer mandado de prisão.


González não comentou a diretiva —ele não aparece em público desde 30 de julho, quando participou de uma manifestação contra o regime e, desde então, vem limitando sua atuação às redes sociais por temor de represálias.


Compartilhou no X, no entanto, uma publicação da coalizão pela qual concorreu nas eleições, a Plataforma Unitária Democrática (PUD), sobre o assunto. "O que o país precisa é das atas eleitorais, não de ordens de prisão", dizia a mensagem.


Em outras ocasiões, o líder afirmou que o Ministério Público atuava como um "acusador político" e que seria submetido a um processo "sem garantias de independência ou devido processo legal" caso respeitasse a intimação.


González entrou na corrida contra Maduro como um candidato tampão após a principal líder opositora do país, María Corina Machado, ser inabilitada politicamente, e a primeira opção para substituí-la, Corina Yoris, não conseguir se inscrever.


Atualmente, ele é acusado de desobediência das leis, falsificação de documentos públicos, conspiração, usurpação de funções e sabotagem —crimes que, em teoria, podem resultar na pena máxima de 30 anos de prisão.


As acusações estão relacionadas à publicação das atas da votação colhidas pela oposição no dia do pleito. Os documentos, disponíveis em um site e revisados por diversas organizações internacionais independentes, indicam que González venceu com mais de 7,3 milhões de votos (67%), contra 3,3 milhões de Maduro (30%).


Embora conteste a veracidade das informações, o regime ainda não divulgou as atas que comprovariam a vitória de Maduro com 52% dos votos.


Países que já vinham criticando a condução do regime na crise política voltaram a se pronunciar depois da nova ofensiva contra González.


"Rejeitamos de maneira inequívoca e absoluta a ordem de prisão", afirmaram Costa Rica, Argentina, Equador, Guatemala, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai em comunicado conjunto. "A ordem de apreensão cita vários supostos crimes que não passam de mais uma tentativa de silenciar González e ignorar a vontade popular venezuelana."


Os Estados Unidos, que no início do mês passado reconheceram o líder opositor como legítimo presidente eleito, fizeram coro ao grupo e anunciaram sua união "à crescente lista de aliados internacionais que condenam" a emissão do mandado contra o opositor.


"Em vez de reconhecer a sua derrota eleitoral e preparar-se para uma transição pacífica na Venezuela, Maduro ordenou agora a prisão do líder democrático que o derrotou de forma esmagadora nas urnas", afirmou o chefe da diplomacia americana para a América Latina, Brian Nichols, na rede social X.


Mais tarde, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, afirmou em entrevista coletiva que o país analisa opções para mostrar ao ditador "que suas ações ilegítimas e repressivas na Venezuela têm consequências".


Além deles, o Chile também se manifestou nesta segunda. A chancelaria do país disse que "rejeita energicamente a ordem de detenção" e "qualquer forma de repressão contra opositores ao regime ditatorial na Venezuela".


"O governo do Chile faz um apelo para que sejam respeitados os princípios democráticos, bem como os direitos humanos e as liberdades fundamentais de todos os venezuelanos", afirmou a pasta. O presidente chileno, Gabriel Boric, é o mais vocal crítico do regime de Maduro entre os líderes de esquerda da região.


Folha de São Paulo

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