segunda-feira, 7 de abril de 2025

Mercados voltam a despencar após autoridades americanas endossarem tarifas de Trump

 


                                              Reuters


As ações de Wall Street enfrentam mais um dia de perdas acentuadas nesta segunda-feira (7), após a administração de Donald Trump indicar que as pesadas tarifas dos EUA serão mantidas, apesar dos receios de que possam levar a uma recessão econômica global.


Os futuros dos índices de ações dos EUA caíram 3,5% em negociações voláteis, enquanto os futuros do Nasdaq NQc1 caíram 4,4%. Esses contratos indicam como o mercado espera que os principais índices de ações —como o S&P 500 ou o Nasdaq— se comportem quando o pregão abrir. Neste caso, os investidores estavam apostando em quedas de 3,5% e 4,4%, respectivamente.


O mercado, portanto, antecipa mais perdas, em meio a um cenário instável, após já ter perdido quase US$ 6 trilhões em valor na semana anterior.


O Vix, popularmente conhecido como o "índice de medo" de Wall Street, ultrapassou 60 na manhã de segunda-feira, número mais alto desde agosto passado.


O índice é um indicador das expectativas dos investidores sobre a volatilidade no mercado de ações dos EUA nos próximos 30 dias. Um aumento acima de 30 é tipicamente associado a uma variação extrema e só ocorreu algumas vezes nos últimos anos.


O Vix subiu acima de 60 em agosto passado após o aumento das taxas de juros japonesas, provocando uma queda acentuada no mercado de ações do país e forçando reversões das "operações de carry trade" com ienes nos mercados globais.


A aversão ao risco também atingiu a Europa, com as ações em queda na abertura de segunda-feira. O índice Stoxx 600, o principal da Europa, caía 6,2%, enquanto o Dax da Alemanha tombava 10%.


O FTSE 100, da Bolsa de Londres, abriu em queda de 5,6%.


BOLSAS ASIÁTICAS DESPENCAM

Os movimentos ocorreram após quedas acentuadas nos mercados asiáticos. O índice Hang Seng de Hong Kong liderou os declínios, com recuo de 13,22%, maior queda desde 1997, durante a crise financeira asiática.


O segundo pior resultado do dia foi a desvalorização de 9,7% no índice de referência Taiex de Taiwan.


Os índices de referência da China e do Japão caíram mais de 7%. A Bolsa do Japão chegou a ter suas negociações paralisadas por dez minutos após abrir em queda de 8,4%.


Os bancos estavam entre as ações mais atingidas. O maior credor do Japão, Mitsubishi UFJ Financial Group, desabou 10,3%, enquanto o HSBC despencou 15% em Hong Kong. O DBS de Singapura caiu 9,6%.


A Bolsa da Coreia do Sul também passou por um circuit breaker (interrupção de dez minutos), após abrir em queda de mais de 5% —percentual que se manteve.


O índice Hang Seng chegou a cair mais de 9%, com ações das gigantes Alibaba e Baidu recuando mais de 12%.


PETRÓLEO CAI À MÍNIMA EM QUATRO ANOS

Os preços do petróleo atingiram a mínima de quatro anos na segunda-feira, enquanto os investidores se preocupavam com as perspectivas para a economia global após a política tarifária radical dos EUA.


O petróleo Brent, referência internacional, caiu 3,3%, para US$ 63,48 (R$ 370,41) o barril, no início do pregão em Londres, enquanto o WTI (West Texas Intermediate), seu equivalente nos EUA, caiu 3,7%, para US$ 59,67 (R$ 348,17) o barril.


Ambos os índices atingiram seus níveis mais baixos desde abril de 2021, com os investidores preocupados com o impacto de uma guerra comercial.


Uma decisão inesperada tomada na semana passada pelo cartel Opep+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados) de aumentar a produção de petróleo bruto aumentou as preocupações de que os mercados ficarão com excesso de oferta de petróleo no próximo ano.


TRUMP REAFIRMA TARIFAS E NÃO FALA SOBRE MERCADOS

No domingo, o presidente Trump postou em sua rede social que as tarifas são "coisas lindas de se ver". A jornalistas ele afirmou que "não pode dizer o que acontece com os mercados".


As quedas acontecem após mais de US$ 5 trilhões terem sido apagados do S&P 500 na quinta (3) e sexta-feira (4), no final de sua pior semana desde o início da pandemia, em 2020. A decisão de Donald Trump de alterar a ordem comercial global ao implementar pesadas tarifas sobre as importações dos EUA aprofundou as preocupações sobre a trajetória da economia mundial. A China anunciou, na sexta, tarifas retaliatórias de 34%.


No fim de semana, o secretário do Tesouro de Trump, Scott Bessent, desconsiderou a reação "de curto prazo" do mercado às tarifas agressivas do presidente, dizendo à NBC que a Casa Branca manteria sua posição.


"Nossos parceiros comerciais têm se aproveitado de nós", disse Bessent no domingo. Questionado sobre a possibilidade de negociar as tarifas de Trump, ele respondeu: "Vamos ver o que [outros] países oferecem e se é algo crível".


Seus comentários seguiram um alerta do presidente do Federal Reserve, Jay Powell, de que as tarifas estimulariam "maior inflação e crescimento mais lento".


Economistas do JPMorgan disseram, na sexta, que esperavam que a maior economia do mundo contraísse 0,3% neste ano "sob o peso das tarifas". Eles haviam previsto anteriormente um crescimento de 1,3% para os EUA.


Bancos e ações de tecnologia foram alguns dos setores mais afetados na semana passada, enquanto o dólar desvalorizava contra outras moedas importantes e os rendimentos dos títulos do Tesouro, que se movem inversamente aos preços, caíam à medida que investidores buscavam ativos considerados mais seguros. Os mercados de ações na Europa e Ásia também caíram acentuadamente, enquanto commodities, como cobre e petróleo, recuaram devido ao temor de uma guerra comercial global.


Na sexta-feira, foi registrada a quinta maior sessão de "reduções líquidas ativas" pelos investidores desde 2010, segundo o Morgan Stanley, com os fundos de ações long-short responsáveis por 80% das vendas líquidas.


A queda de mais de 10% do S&P 500 entre quinta e sexta é apenas a quarta vez nos últimos 85 anos —após o colapso de 1987, a crise financeira de 2008 e o início de 2020— que o índice caiu tanto e tão rapidamente, segundo o Deutsche Bank.



Alguns investidores acreditam que as ações continuarão a cair até que Trump indique que suas tarifas serão menos agressivas.


"A incerteza é a palavra-chave no momento e nem chegamos ainda ao pico da incerteza política", disse Dec Mullarkey, diretor-geral da SLC Management.


O investidor ativista Bill Ackman, que apoiou publicamente Trump durante a campanha eleitoral, postou no X que as "tarifas massivas e desproporcionais" correm o risco de "destruir a confiança em nosso país como parceiro comercial, como lugar para fazer negócios e como mercado para investir capital".


Ele pediu para que Trump pedisse uma "pausa" na segunda-feira.


"Alternativamente, estamos caminhando para um inverno nuclear econômico autoimposto, e devemos começar a nos preparar para isso", escreveu.

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