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terça-feira, 3 de janeiro de 2017
Maior matança em presídios desde o Carandiru deixa 56 vítimas no Amazonas
FolhaPress Foto:Divulgação
Uma briga entre facções criminosas rivais seguida de rebelião no maior presídio do Amazonas deixou 56 mortos entre domingo (1º) e segunda-feira (2) em Manaus, capital do Amazonas.
O motim durou 17 horas, com algumas vítimas decapitadas. A matança é a maior em presídios do país desde o massacre do Carandiru, em 1992, em São Paulo, quando uma ação policial deixou 111 mortos na Casa de Detenção.
A rebelião em Manaus começou na tarde de domingo no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), localizado na BR-174. Na unidade havia 1.224 homens, o triplo da capacidade (454), segundo dados de dezembro.
Ela foi motivada por uma disputa entre as facções criminosas Família do Norte e PCC -e levou integrantes do governo federal a temerem retaliações pelo país.
O governo do Amazonas, comandado por José Melo de Oliveira (Pros), avalia que a rebelião foi comandada pela Família do Norte e que a maioria dos mortos era do PCC.
"Há uma guerra silenciosa que o Estado tem que intervir. Que guerra é essa? Narcotráfico. Uma facção brigando com a outra. Porque cada uma quer ganhar mais dinheiro que a outra, a briga é por dinheiro e por espaço", disse o secretário estadual da Segurança Pública, Sérgio Fontes.
Ele afirmou que a polícia não entrou no presídio "para evitar um Carandiru 2".
O juiz Luís Carlos Valois, titular da Vara de Execuções Criminais do TJ (Tribunal de Justiça) do Amazonas, afirmou ter ficado chocado.
"Uma pilha de corpos, alguns esquartejados, sem braço, perna e sem cabeça, uma cena dantesca. Nunca vi um negócio tão horrível", disse à Folha Valois, que foi ao complexo penitenciário no domingo para intervir junto aos detentos, após ser acionado pela secretaria da Segurança.
"PÉSSIMA"
A prisão, uma das 11 do Amazonas, havia passado por inspeção do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) em outubro e classificada como "péssima" para qualquer tentativa de ressocialização, com presos sem assistência jurídica, educacional, social e de saúde, além da ausência de detectores de metais e bloqueadores de sinal de celular.
Antes de consolidar um balanço com 56 mortos em Manaus, o governo estadual chegou a divulgar até 60 vítimas –número corrigido depois.
A maior quantidade de mortos em prisões depois do massacre do Carandiru havia sido, até então, em rebelião de 2004 que matou 31 na Casa de Custódia de Benfica (RJ).
A rebelião no Compaj também resultou na fuga de 112 presos e em reféns (74 detentos e 12 funcionários da Umanizzare, empresa que presta serviços no complexo), liberados na manhã desta segunda-feira sem ferimentos.
Pouco após o motim na unidade, outros 72 presos fugiram do Ipat (Instituto Penal Antônio Trindade), a 5 km dali.
A Secretaria de Estado da Administração Penitenciária, que administra o sistema penitenciário do Amazonas, isolou toda a área onde ficam as duas unidades prisionais.
Nas vias que dão acesso à rodovia BR-174, foram montadas barreiras policiais para auxiliar na busca. No final da tarde desta segunda o governo citava 40 recapturados.
O governador José Melo de Oliveira disse que utilizará os R$ 44,7 milhões de repasse que o Fundo Penitenciário do Amazonas recebeu do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen), na última quinta (29), para reformar a unidade.
O governo federal deve transferir presos ligados a facções criminosas para outras unidades prisionais no país.
Ao ser questionado sobre as medidas que serão tomadas, o secretário da Segurança Pública do Amazonas afirmou ser necessária a construção de novos presídios e o combate ao tráfico de drogas.
"Transferência de presidiário não seria eficaz nessa situação. Não temos condições de mantê-los separados. Temos quantidade limitada de presídios. Construir mais presídios seria uma boa opção."
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