quinta-feira, 6 de outubro de 2016

ESTREIA–Suspense argentino “No Fim do Túnel” cria tensão com roubo a banco


O diretor e roteirista argentino Rodrigo Grande parece levar a sério a máxima tchekhoviana que diz que se você mostra uma arma no primeiro ato, ela deverá ser disparada no terceiro. A arma não precisa ser necessariamente um rifle, pode ser até algo aparentemente inofensivo. É por meio dessa tensão que ele constrói o angustiante “No Fim do Túnel”, protagonizado pelo argentino Leonardo Sbaraglia.

O ator interpreta Joaquín, técnico de computação cadeirante, que mora sozinho no térreo de uma casa velha. No subsolo, que ele acessa por meio de uma plataforma, tem uma oficina onde conserta equipamentos. Precisando de dinheiro, resolve alugar o andar de cima. É quando aparece a espevitada Berta (Clara Lago), que se impõe na vida dele, com sua pequena filha, Betty (Uma Salduende), que há meses não diz uma palavra.

Além disso, quando está no porão, Joaquín ouve conversas da casa ao lado. Depois de alguma investigação, e com ajuda de uma microcâmara que ele passa por um buraco na parede, descobre que uma gangue está planejando roubar um banco, que fica bem ao lado. Por isso, estão construindo um túnel que passa exatamente por debaixo dos pés do técnico. O líder deles é o espanhol Galereto (Pablo Echarri), que comanda a escavação e o plano do roubo.

Grande começa seu filme de maneira discreta, construindo os personagens e armando as tensões –entre Joaquín e Berta, entre o protagonista e os ladrões, entre os próprios bandidos. Aos poucos, insere algumas reviravoltas, senão de todo inesperadas ou plausíveis, mas que funcionam bastante bem na narrativa, na construção do suspense.

Não se deve contar muito para não estragar a surpresa, mas a verdade é que nada é o que parece ser. Um dos grandes méritos do longa é não construir personagens heroicos -ninguém é inteiramente bom aqui, embora alguns possam ser inteiramente maus.

Sbaraglia, um dos melhores atores argentinos de sua geração, recentemente visto no brasileiro “O Silêncio do Céu”, é capaz de transmitir as angústias e contradições de seu personagem, num filme que tem tudo para inspirar um remake norte-americano –portanto, é melhor ver este, antes que Hollywood faça sua versão e estrague tudo.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

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