quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Saúde investiga suspeita de febre amarela em área urbana em Natal

FolhaPress

O Ministério da Saúde, o governo do Rio Grande do Norte e a Prefeitura de Natal estão investigando um caso suspeito de febre amarela em zona urbana. Exames preliminares de uma mulher que morreu em julho deste ano na capital do Estado tiveram resultado positivo para a doença.

Não há registro de transmissão do vírus da febre amarela em humanos em Natal desde 1930, e o último caso de transmissão urbana no país ocorreu em 1942, no Acre. Desde então, a doença atinge pessoas que visitaram áreas endêmicas, como a região amazônica.

O resultado do exame surpreendeu o Ministério da Saúde, o governo e a prefeitura, porque não há evidências epidemiológicas da circulação desse vírus na capital. A paciente também não visitou áreas de floresta nem países onde o vírus circula e não apresentou sintomas clássicos de febre amarela.

Para o infectologista da USP Esper Kallás, não faz sentido que tenha surgido um único caso. "É difícil argumentar sobre um exame sem ter os detalhes, mas é estranhíssimo um único caso, isolado, sem ser em surto, de transmissão local da febre amarela", disse.

O resultado do exame foi apresentado na quarta-feira (23). O laudo, elaborado pelo Instituto Evandro Chagas, no Pará, que é referência no país em exames do gênero, deu positivo para febre amarela.

Tanto a prefeitura quanto o governo pediram contraprova do exame ao Evandro Chagas e também ao Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo. Segundo as secretarias de saúde municipal e estadual, a paciente, a auxiliar de enfermagem Rita de Cássia da Silva Santos, 53, morreu no início de julho e apresentava sintomas de dengue.

Como o exame de sangue sorológico feito na época deu resultado negativo para o vírus da dengue, foram pedidos exames mais detalhados para o Instituto Evandro Chagas.

Segundo a prefeitura, nesta quarta-feira (30) haverá reunião por videoconferência de representantes do ministério, da prefeitura, do Estado e do Evandro Chagas para debater o caso.
Em nota, o Ministério da Saúde informou que foi notificado e que aguarda o resultado das investigações, "mas ressalta que não há evidências epidemiológicas que sugerem a transmissão do vírus da febre amarela no município".

Em 28 de junho, a paciente começou a apresentar sintomas, mas, diz a nota, eles eram "não compatíveis com febre amarela". O resultado dos exames laboratoriais "sugerem infecção pelo vírus da febre amarela". "No entanto, ainda é necessário complementar a investigação".

O ministério afirma, ainda, que não há outros casos suspeitos da doença no Estado. Além de exames complementares, outras medidas tomadas para esclarecer o caso foram investigação epidemiológica e estudo ecoepidemiológico - com coleta de insetos e do material biológico de primatas para pesquisa do vírus.

Procurado, o Instituto Evandro Chagas disse que o resultado do laudo foi enviado para o governo e a prefeitura, que solicitaram os exames, e que cabia aos dois decidir divulgar ou não seu conteúdo.

Ex-diretor do Evandro Chagas, o virologista Pedro Vasconcelos diz que a possível ocorrência de febre amarela no meio urbano "é algo de extrema gravidade, pois a letalidade da febre amarela é muito maior que a do dengue". "São necessárias medidas vigorosas e monitoramento contínuo para detectar precocemente outros casos", disse.

A DOENÇA

A febre amarela é uma doença infecciosa aguda febril, que pode levar à morte em uma semana se não tratada a tempo. Os principais hospedeiros são macacos.

Na cidade, o vírus é transmitido pelo mosquito Aedes Aegypti, o mesmo da dengue, chikungunya e zika, enquanto na mata os vetores são mosquitos Haemagogus janthinomys e Sabethes.
A única forma de evitar a doença é pela vacinação, que é recomendada a partir dos nove meses de idade.

Os sintomas comuns, além de febre, são dor de cabeça aguda, além de dores no corpo em geral, vômito e fraqueza. Em casos graves, o paciente pode ter febre alta e icterícia (cor amarelada na pele e branco dos olhos), característica que explica o nome popular da doença, e evoluir para choque e insuficiência de múltiplos órgãos.

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