Folhapress
"Os riscos de contaminação das pessoas, em situações como essa, é altíssimo", diz o químico Rogério Machado, doutor em saúde pública e saneamento ambiental da Universidade Presbiteriana Mackenzie. "Ninguém pode voltar lá", alerta.
O "tsunami de lama" que destruiu centenas de casas, arrastou carros e caminhões e deixou ao menos dois mortos e cerca de 25 desaparecidos nesta quinta (5), deixou a população em alerta. O caso ocorreu em um subdistrito da cidade histórica de Mariana (a 124 km de Belo Horizonte), em Minas Gerais, após duas barragens de uma mineradora se romperem.
"O problema principal é não saber com precisão quantas pessoas estavam ali e foram atingidas. Porque, lamentavelmente, estão soterradas, muitas vezes, sem vida", afirma Machado.
Para o químico, a situação pode piorar ainda mais se não forem encontradas todas as pessoas, ou seus corpos, que desapareceram durante o acidente.
"Enquanto você não encontrar, os cadáveres vão apodrecer e aí os problemas para a saúde pública no local serão enormes, pois a terra ficará ainda mais contaminada com a decomposição humana e animal. Ali é um local péssimo para a saúde pública, muito perigoso", diz.
"Eu não sei com que substâncias aquela lama já estava contaminada previamente, se havia metais pesados, por exemplo, a contaminação é grave. Eles causam doenças que vão matando as pessoas aos poucos e sem mostrar sintomas imediatos", avalia Machado.
DOENÇAS
Em situações como essa, é comum que se proliferem doenças infecciosas, como hepatite, diarreias e leptospirose. No entanto, a contaminação da lama por resíduos de minério de ferro e de produtos químicos preocupa ainda mais profissionais da área da saúde.
"A primeira providência a ser tomada é sair do local o mais rápido possível. Em seguida, ter uma higiene com água limpa e sabão. O atendimento médico é imprescindível", afirma o dermatologista Reinaldo Tovo, chefe de equipe de Dermatologia do Hospital Sírio Libanês de São Paulo.
Tovo explica que, após a exposição à lama contaminada, os principais sintomas que as vítimas podem apresentar são reações alérgicas na pele, como irritações, vermelhidão, inchaços, pequenas bolhas, sensação de queimação e desconforto "principalmente nas áreas de dobras de pele, que ficam mais úmidas, como articulações e genitálias", diz.
A avaliação médica deve orientar se o paciente deve usar um medicamento local ou sistêmico, que vá agir no corpo inteiro. "Em situações assim, há sempre uma grande chance de ocorrência de doenças infectocontagiosa como as hepatites, leptospirose e diarreias, que são comuns em todas as enchentes que você tem, não só em barragens, mas transbordamento de rios, por exemplo", afirma.
Nesse caso, as pessoas podem apresentar sinais de insuficiência hepática, pele amarelada, diarreia, febre e mal-estar. Segundo o dermatologista, a umidade crônica piora o cenário, favorecendo infecções secundárias por fungos.
"As pessoas estarão alojadas num local úmido. Para evitar infecção por fungo, devem procurar manter o corpo limpo e bem seco, não ficar com os pés na água ou com tênis molhado, usar botas de borracha e manter secas as regiões de dobras do corpo", aconselha Tovo
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