Quando “contratou”, na última reunião do ano passado, mais dois aumentos de juros a um ritmo de 1 ponto porcentual, o Banco Central (BC) colocou a política monetária para rodar em piloto automático. Ainda assim, a reunião da última quarta-feira, 29, do Comitê de Política Monetária (Copom) atraiu as atenções pelas sinalizações que seriam ou não dadas para, principalmente, o encontro dos diretores do BC marcado para os dias 6 e 7 de maio.
Neste sentido, o comunicado do Copom veio sem grandes surpresas. Para a reunião de março, a próxima, o comitê segue antevendo a repetição do aumento de 1 ponto porcentual da Selic. Como esperado, o piloto automático não foi desligado. As sinalizações param, porém, por aí, com o Banco Central não assumindo um compromisso sobre o ritmo de alta da Selic a partir de maio.
Confirmou, assim, as expectativas de que a autoridade monetária buscaria “graus de liberdade” diante das incertezas com o início do governo de Donald Trump nos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que a economia dá os primeiros sinais de desaceleração, a inflação de serviços não dá trégua e a depreciação do câmbio, alimentada por incertezas fiscais, ainda não foi completamente transmitida aos preços pagos pelos consumidores.
Em grande parte, o mercado interpretou o comunicado do Copom como dovish – ou seja, suave – porque, além de não ter renovado a sinalização de aumentos da mesma magnitude nas duas reuniões à frente, o colegiado mudou a abordagem em relação à atividade doméstica. Também houve análises de que o documento veio com projeções moderadas para a inflação e uma avaliação relativamente benigna sobre os possíveis efeitos das tarifas prometidas por Trump, que podem levar a um cenário menos inflacionário para as economias emergentes por causa de seus choques sobre o comércio internacional.
Economistas de instituições como Itaú e XP Investimentos já cogitam a possibilidade de a Selic não subir tanto como o previsto, enquanto alguns analistas entendem que o Copom não deixou claro até mesmo se o movimento de maio será mais uma alta dos juros
Divergência
Contudo, há um grupo de economistas que entenderam o texto de outra forma, fazendo uma interpretação hawkish. O comunicado do “novo Copom” – agora com sete dos nove membros indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva – entrega argumentos para os dois lados. Ao mesmo tempo em que chama a atenção para a piora relevante das expectativas de inflação do mercado, ainda mais desancoradas, mantém em 4% a projeção de inflação do Copom no horizonte relevante de política monetária, agora o terceiro trimestre de 2026. Aponta dinamismo e resiliência da atividade, mas também inclui uma eventual desaceleração da economia doméstica maior do que o previsto entre os riscos de baixa da inflação.
“A sensação que fica é que a autoridade monetária já está pensando nas defasagens da política monetária”, resume a economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Natalie Victal.
Para a economista do BNP Paribas no Brasil, Laiz Carvalho, o comunicado veio um pouco mais dovish porque o Banco Central poderia ter dado uma sinalização mais forte de continuidade do ciclo de aperto monetário. Ela considera que a troca no balanço de riscos, incluindo a observação sobre a atividade econômica doméstica, parece ter sido feita muito cedo. “A desaceleração mais acentuada, que é citada no balanço de riscos, ainda deve demorar”, pondera.
Estadão
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