Foto: AFP e Maria Isabel Oliveira/Editora Globo
Na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), ontem, os diretores do Banco Central do Brasil (BC) reduziram a Taxa Selic em 0,5 ponto percentual para 11,25% ao ano, o menor patamar de juros desde março de 2022.
No comunicado da decisão, que foi unânime, o Copom indicou que o ritmo de queda da taxa básica de juros será mantido nas “próximas reuniões”.
Isso significa pelo menos mais duas reduções de 0,5 ponto percentual, nos encontros de março e maio, o que levaria os juros a pelo menos 10,25%. Nos EUA, Federal Reserve (Fed), banco central americano, decidiu manter a sua taxa de juros inalterada entre 5,25% e 5,5% pela quarta vez seguida, em outra decisão que também é sensível para os negócios no Brasil.
A coincidência das decisões dos dois bancos centrais é chamada por aqui de Super Quarta, mas ambos os resultados ontem não poderiam ter sido mais previsíveis. Foram exatamente como os analistas de mercado esperavam. O que significa que não devem fazer preço hoje.
No seu comunicado, o colegiado liderado pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, manteve as projeções inalteradas e o balanço de riscos simétrico, com riscos para a inflação em ambas as direções, além de reafirmar a importância da “firme persecução” das metas fiscais.Em uma das poucas mudanças de linguagem do comunicado em relação ao último, em dezembro, o Copom passou a dizer que as principais economias dão sinais de queda em núcleos de inflação.
— Copiou o guidance para próximas reuniões, manteve o balanço de riscos. Para o mercado, acho que foi um não evento — afirmou Denis Ferrari, gestor de renda fixa da Kinea Investimentos, à Bloomberg. — Havia quem esperasse que a projeção de inflação subisse para 2025, mas subiu administrados e diminuiu para livres, então no fim ela ficou parada.
Na visão do economista Luis Otávio Leal, do G5 Partners, o comunicado também reforçou a visão do mercado financeiro de que os cortes seguirão no ritmo de 0,5 ponto percentual ao longo do ano:
— Temos já mais dois cortes de 0,5 ponto garantidos, nas reuniões de março e maio. O comunicado foi praticamente uma cópia da decisão de dezembro.
O Banco Central pontuou que há dois fatores de risco que podem dificultar o cenário da inflação. Primeiro, “uma maior persistência da inflação mundial”. Segundo, “uma maior resiliência na inflação de serviços” no Brasil.
— O BC fez uma atualização do cenário muito modesta — avaliou Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital. — O único ponto que foi alterado foi reconhecer que o ano de 2025 já entra com maior peso no horizonte relevante.
Por outro lado, o BC entende que a desaceleração da economia mundial poderia ajudar na queda dos preços no país, além dos efeitos defasados da política monetária, já que a Selic permaneceu bastante elevada durante 2023, quando o IPCA terminou em 4,62%, dentro do intervalo de tolerância da meta de 3,25%.
As projeções de inflação do mercado financeiro estão em 3,81% para 2024, quando a meta é de 3%, também com intervalo de 1,5 ponto percentual de tolerância, o que daria conforto ao BC para a manutenção do ciclo de queda.
Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, há espaço para o BC seguir com quedas graduais nos juros, mas há riscos inflacionários:
— Por outro lado, o mercado de trabalho permanece aquecido, com dados fortes novamente, e desemprego em queda. No mínimo, o BC não precisa ter pressa com os cortes, ele pode ser gradual e tranquilo, para que os juros caiam mais ao longo do tempo. Não vemos ainda razão para mudança na orientação.
Nos EUA, o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou estar gerenciando riscos para não demorar demais para baixar os juros nem cortar a taxa cedo demais. A queda dos juros nos EUA importa para o Brasil porque pode liberar um fluxo maior de investimentos estrangeiros para economias emergentes como a nossa com a redução da atração dos títulos do Tesouro americano.
Powell ainda fez questão de ratificar que não espera ver o enfraquecimento do mercado de trabalho e da atividade econômica nos EUA, indicando um cenário de “pouso suave” na maior economia do mundo após o remédio monetário contra a inflação. Por outro lado, advertiu que ainda aguarda dados consistentes sobre os preços.
Para o economista-chefe da Daycoval Asset, Rafael Cardoso, o BC passou a ter uma visão mais otimista sobre a inflação mundial. Com o comunicado do Fed, Cardoso entende que aumentaram as chances de o ciclo de cortes no Brasil levar a Selic abaixo de 9%.
— Ainda que o comunicado tenha tido poucas novidades, quando a gente pega a decisão do Fed como base, a gente pode dizer que a probabilidade de o BC ir abaixo dos 9% aumentou. Por ora, mantemos nosso cenário de a Selic ir a 9%, mas aumenta a chance de ficar abaixo, se o Fed de fato começar logo o ciclo (de cortes) como sinalizou — disse.
O Globo
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