Foto: Rodrigo de Macêdo Mello/Revista Balburdia/USP
Um grupo de cientistas decidiu investigar a explicação para que morcegos frugívoros — aqueles que se alimentam unicamente de frutas açucaradas — não desenvolvem diabetes, doença que se tornou a nona principal causa de morte em 2019, segundo a Organização Mundial da Saúde. Os resultados do trabalho, conduzido por biólogos e bioengenheiros, pode agora abrir novos caminhos na busca por tratamentos para a doença em humanos.
Os pesquisadores usaram uma tecnologia que analisa o DNA de células individuais para comparar as instruções metabólicas exclusivas codificadas no genoma do morcego frugívoro jamaicano, Artibeus jamaicensis, com as do genoma do morcego marrom grande insetívoro, Eptesicus fuscus. A intenção era identificar com precisão a diferença genética entre os morcegos que comem frutas e os que comem insetos.
O principal alvo da análise foram os genes presentes nos pâncreas e no rim, órgão responsável pela origem de diversas doenças metabólicas. Os cientistas descobriram que os morcegos frugívoros jamaicanos têm mais células produtoras de insulina e glucagon do que os morcegos marrons grandes, além de DNA regulador que prepara as células pancreáticas dos morcegos frugívoros para iniciar a produção de insulina e glucagon.
Portanto, seriam esses dois hormônios os responsáveis por manter os níveis de açúcar no sangue dos morcegos frugívoros controlados. Ao mesmo tempo, Os rins dos morcegos frugívoros trabalham melhor removendo da corrente sanguínea as grandes quantidades de água vindas das frutas e, ao mesmo tempo, reter as baixas quantidades de sal das frutas.
“Ao aplicar novas tecnologias de caracterização de células nesses organismos não-modelos, ou organismos que os pesquisadores não costumam usar para pesquisas em laboratório, nós e um grupo crescente de pesquisadores mostramos que a natureza pode ser aproveitada para desenvolver novas abordagens de tratamento para doenças”, dizem os autores em publicação na The Conversation.
Mesmo que o estudo tenha apontado diversos caminhos terapêuticos em potencial para o diabetes, os cientistas afirmam que mais pesquisas precisam ser feitas para demonstrar se as sequências de DNA de morcegos frugívoros podem ajudar a entender, controlar ou curar o diabetes em humanos.
A análise de outros órgãos como o fígado e o intestino delgado também vai ajudar no futuro os pesquisadores a entender o metabolismo dos morcegos frugívoros e a elaborar tratamentos adequados. Atualmente, os pesquisadores querem entender se é possível usar as sequências de DNA reguladores dos morcegos em seres humanos. Por enquanto, o teste está sendo feito em camundongos.
O que a diabetes pode causar?
A diabetes, também conhecida pelo seu nome científico, Diabetes Mellitus, é uma doença desenvolvida a partir do excesso de açúcar na corrente sanguínea, chamado de hiperglicemia. Isso ocorre devido a uma produção insuficiente ou pelo mau funcionamento da insulina, hormônio responsável por levar a glicose para dentro das células e, assim, impedir o seu acúmulo no sangue.
Se não for controlado, o aumento das taxas de açúcar no sangue provocado pela doença pode levar a complicações no coração, nas artérias, nos olhos, nos rins e nos nervos.
No Brasil, segundo a última pesquisa Vigitel, em 2020, do Ministério da Saúde, 7,4% da população brasileira tem diabetes, o que equivale a 15,5 milhões de pessoas.
Por O Globo
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