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A inflação oficial de Campo Grande fechou 2023 a 4,76%, conforme índice aferido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e ficou em cima do teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) de 4,75%. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nacional atingiu o objetivo, fechando a 4,62%.
Este é o menor índice registrado na Capital desde 2019, ano pré-pandemia, quando o IPCA fechou em 4,65%. De acordo com os analistas ouvidos pelo Correio do Estado, este é um comportamento de desinflação, ou seja, de redução na média dos preços de diversos produtos e serviços.
Segundo o doutor em Administração Leandro Tortosa, o processo que está acontecendo no Brasil é o mesmo que está ocorrendo em diversas partes do mundo: uma inflação no pós-pandemia, com taxas de juros elevadas, seguida por uma queda na inflação e nos juros.
“A retomada econômica que se seguiu após o período mais agudo da pandemia [entre 2020 e 2021] chegou a registrar uma forte inflação anualizada de 12% em meados de 2021. O principal motivo para o controle da inflação foi a firme atuação do Banco Central do Brasil, que aumentou a taxa de juros da economia e de outros encaixes monetários [como compulsórios bancários]”.
Mestre em Economia, Lucas Mikael aponta que o comportamento dos preços dos alimentos desempenhou um papel crucial na contenção da inflação em 2023. O primeiro semestre foi marcado por uma supersafra agrícola no Brasil, o que favoreceu a produção e contribuiu para a redução dos custos dos alimentos.
“Outro ponto significativo na trajetória de desinflação em 2023 foi a redução nos preços de bens duráveis. Esses itens experimentaram uma alta demanda durante a pandemia, à medida que os trabalhadores alteraram seus hábitos de consumo. Com a recente substituição desses produtos, o grupo não experimentou um aumento real de preços ao longo do ano”.
DESTAQUES
Entre os grupos de bens e serviços que ajudaram a conter a inflação da Capital estão: alimentos e bebidas, que finalizou o ano passado em queda de 0,40%; artigos de residência, com alta de 2,68%; e comunicação, com alta de 2,90%. Já os “vilões” que puxaram o índice para cima foram: educação, alta de 8,35%; habitação, alta de 7,07%; e transportes, com alta de 6,90%.
Considerando os principais itens, o grande destaque foi para as carnes, que registraram queda de 13,23% em Campo Grande.
O mestre em Economia Eugênio Pavão avalia que houve uma aceleração da demanda nos últimos três meses do ano passado, não fosse isso, a Capital poderia ter tido inflação abaixo do cenário nacional.
“A habitação contribuiu para elevar o índice com os transportes, principalmente pela demanda por casas de aluguel, custo da construção em elevação e os combustíveis, com a utilização de uma política de preços interna, sem seguir a política internacional. Desta forma, o ano de 2023 em Campo Grande começou bem lento, acelerando no fim e trazendo a alta no último trimestre, com o aquecimento econômico [demanda]”, avalia.
Para o também economista Eduardo Matos, é importante ressaltar que o mecanismo utilizado pelo Banco Central, o aumento da taxa Selic, foi essencial para a manutenção e o controle da inflação.
“O que contribuiu bastante para isso foi um ciclo contínuo de aumento e, posteriormente, de manutenção da taxa básica de juros. A Selic foi enxergar uma queda somente na segunda metade de 2023, conseguindo segurar a inflação, que se deu por conta, primeiramente, da pandemia, que desestabilizou toda a cadeia global de suprimentos, e, em segundo lugar, foi agravada pela guerra no Leste Europeu”, ressalta.
“Com o aumento da taxa de juros e a restrição do crédito, o consumo ficou controlado, contribuindo para a redução dos preços ao consumidor”, complementa Tortosa.
CONSUMIDOR
Conforme os economistas, o impacto do índice inflacionário controlado se dá no poder de compra do consumidor, principalmente para aqueles que recebem remunerações mais baixas.
“A inflação afeta principalmente consumidores de renda mais baixa, pois esses grupos gastam uma parcela maior de sua renda em itens essenciais. Quando os preços desses produtos aumentam rapidamente, a capacidade de compra dessas pessoas é reduzida, levando a uma diminuição do padrão de vida”, considera Mikael.
Eduardo Matos ainda avalia que são os primeiros dados consolidados de uma reorganização macroeconômica do pós-pandemia. No contexto geral, para o consumidor, o maior impacto é o aumento do poder de compra.
“Quando a inflação é menor e está dentro do limite calculado, significa que o poder de compra do consumidor é satisfatório. Não somente analisando o IPCA, a retomada [da economia] provocou uma expansão no número de vagas de trabalho, então, essa retomada que enxergamos 2023 foi bastante positiva para o consumidor e para o trabalhador”, conclui.
FUTURO
De acordo com o Boletim Focus, análise semanal feita por analistas do mercado financeiro, a previsão para o IPCA deste ano se mantém em 3,9%, acima do centro da meta de inflação que deve ser perseguida pelo Banco Central.
Definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta é de 3% para este ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo, ou seja, o limite inferior é de 1,5%, e o superior, de 4,5%.
Para 2025 e 2026, a projeção da inflação também permaneceu no mesmo patamar, em 3,5% para os dois anos. Para 2025 e 2026, as metas de inflação estão fixadas em 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto porcentual.
Pavão frisa que, como já noticiado pelo Correio do Estado, a influência do clima na produção de alimentos pode impactar negativamente os preços durante o ano vigente.
“Neste ano existe a previsão de alta nos alimentos, em razão das intempéries. As safras serão influenciadas pelo El Niño, com perdas para os países produtores de grãos”, finaliza.
Mikael é outro economista que destaca a preocupação com a elevação dos preços dos alimentos em 2024.
“O El Niño, ao afetar as condições climáticas, tem o potencial de prejudicar a produção agrícola e a oferta de alimentos, resultando em aumentos nos custos de produção que podem ser repassados aos consumidores finais. Em contrapartida, a expectativa é de uma certa margem na inflação vinda do grupo de bens duráveis, considerando os efeitos ainda graduais da redução da taxa de juros”.
“Mesmo com as quedas da taxa Selic, é necessário um período para que a população reorganize suas finanças, para que os empresários realizem investimentos e para que a renda disponível comece a se recuperar”, afirma.
Mais otimista, Tortosa acredita que o índice será menor que o do ano passado.
“Caso nenhum evento extraordinário ocorra, como o surgimento de uma nova guerra, a inflação de 2024 deve seguir a trajetória e ficar menor que a de 2023. O mesmo deve ocorrer com a taxa de juros, que deve seguir a trajetória de queda e terminar o primeiro semestre deste ano abaixo dos dois dígitos”, finaliza.
Com o Portal Correio do Estado
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