quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Soja avança sobre os canaviais no campo paulista

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Receita média da cana foi de R$ 5.887 por hectare no Estado no ciclo sucroalcooleiro 2017/18

Quem transita pelas rodovias paulistas está acostumado a passar por quilômetros e quilômetros de lavouras de cana. Mas esse cenário uniforme dá sinais de mudança. Com a remuneração em baixa, a cana vem cedendo espaço para uma cultura mais rentável: a soja.


“Quem manda é a rentabilidade”, diz Gustavo Chavaglia, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja de São Paulo (Aprosoja-SP), que planta as duas culturas no Estado. Na última safra (2017/18), concluída em junho, a rentabilidade média da soja paulista foi de 41,2%, acima da média histórica (de 25% a 30%) e da média nacional de 40,8%, de acordo com cálculos da Céleres. A receita operacional média do grão no Estado foi de R$ 3.992 por hectare, conforme a consultoria.

Já a receita média da cana foi de R$ 5.887 por hectare no Estado no ciclo sucroalcooleiro 2017/18, encerrado em março, segundo cálculo baseado em dados do Conselho dos Produtores de Cana de Açúcar, Açúcar e Etanol do Estado de São Paulo (Consecana) e da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).

Apesar dessa receita mais atrativa, os custos para manter os canaviais são mais elevados, o que reduz a rentabilidade. De acordo com a Organização de Plantadores de Cana (Orplana), esses custos superaram em 15% a receita já na safra 2016/17. E a defasagem deve ter crescido na temporada passado, afirma Celso Albano, gestor executivo da Orplana.

Com custo menor e margem positiva, a soja, que no fim da década passada ocupava pouco mais de 500 mil hectares em São Paulo, se espalhou por quase 1 milhão de hectares em 2017/18, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), e boa parte desse avanço se deu em áreas antes cultivadas com cana.

Em geral, os produtores que estão optando por essa migração são aqueles prejudicados por atrasos de pagamento ou pelo fechamento de usinas, diz Manoel Ortolan, presidente da Cooperativa dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo (Copercana). Neste ciclo de 2018/19, mais seis usinas, que ainda estavam em atividade na safra passada, até agora estão fechadas.

“Uma usina é como uma ilha: só pode ter cana em volta se existir uma usina no meio. A soja, por sua vez precisa apenas de um armazém”, diz Chavaglia. Um movimento de substituição praticamente total da cana por soja está em curso na região de Araçatuba, ocupada há relativamente pouco tempo com canaviais em comparação com o histórico centenário de outras área do Estado.

Em 2017, quando a colheita de cana terminou, produtores tiraram as soqueiras de uma área de 1,4 mil hectares na região e abandonaram a cultura, diz Fernando Girardi, presidente da Associação dos Produtores de Cana de Araçatuba (APCA). “Eles plantaram milho safrinha e agora estão plantando soja”, afirma.

Atraídos por retornos mais rápidos, os produtores de Guariba também estão ponderando se não vale à pena semear soja no lugar da cana, de acordo com Bruno Rangel, presidente da Associação dos Fornecedores de Cana de Guariba (Socicana).

“A cana vem passando por uma situação difícil, então a tendência é ir diversificando ao longo do tempo”, afirma Valdomiro Calon, produtor da região de Jaú. Ele semeia soja e tem um confinamento de bois. E reforça que consegue se dedicar à oleaginosa, sem manter áreas de cana, porque construiu um armazém.

Mas o avanço da soja em São Paulo não está atrelado apenas à perda de rentabilidade da cana. O grão tem ganhado espaço também na renovação de canaviais.

A cada cinco ou seis anos, os canavieiros precisam retirar os pés de cana da terra para recuperar a produtividade da área. Antes do replantio, costuma-se plantar uma leguminosa, que beneficia o solo para o próximo ciclo de cana. Em geral, o amendoim é a leguminosa que cumpre esse papel, mas muitos produtores já estão preferindo a soja.

A NovAmérica, uma das maiores fornecedoras de cana para usinas em São Paulo, já planta soja e milho na área de 8 mil a 9 mil hectares que destina todo ano para reformar áreas de cana. “Comecei a usar soja na área de transição e fiquei encantado”, diz Roberto Rezende, presidente da companhia.

Também há usinas que oferecem aos fornecedores áreas para a renovação de canavial. “O produtor ganha porque não está pagando o arrendamento, e a usina ganha porque a soja fixa nitrogênio no solo, favorecendo a cana”, explica Cleverton Santana, gerente de levantamento e avaliação de safras da Conab.

De acordo com Valdomiro Calon, de Jaú, muitas usinas na região, como a Raízen, têm incentivado o plantio de soja na renovação de canavial. “A Raízen já falou que está dando preferência para a soja no lugar do amendoim. Porque o amendoim deixa uma doença que transmite para cana, e a soja não”.

Segundo ele, a empresa ofereceu 5 mil hectares para produtores da região semearem soja e renovarem o canavial. Procurada, a Raízen confirmou que incentiva a rotação de culturas para recuperação do solo.

Por ter armazém e ter parceria com a Cargill, Calon tem recebido mais soja dessas expansões de área. “Na safra 2017/18, recebi 30% a mais. Este ano, foram quase 300 mil sacas”, afirma o produtor.

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