quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Plano contra dengue será lançado e vacina não é principal estratégia, diz Nísia

 

                                                   Folhapress

Ministra afirma que há limitações para produção de doses em larga escala e aponta imunizante do Butantan como aposta

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, disse nesta quarta-feira (28) que a vacinação contra a dengue ainda não será a principal estratégia de combate à dengue em 2025. Ela afirmou que o SUS (sistema Único de Saúde) não tem doses suficientes para realizar uma campanha ampla de imunização.


A fabricante Takeda e a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) discutem parceria para produção das vacinas Qdenga no Brasil, mas a ministra disse que a empresa não consegue "iniciar o processo de transferência de tecnologia" por causa de limitações para entrega em larga escala dos ingredientes da vacina. A pasta já comprou 9 milhões de doses do imunizante para distribuir no próximo ano, todas fabricadas no exterior.


Em nota, a Takeda disse que as tratativas para a parceria com a Fiocruz "seguem avançando". "No momento, não há qualquer impedimento por parte da Takeda para que essa parceria aconteça", afirmou a farmacêutica.


A ministra disse que a vacina que está sendo desenvolvida pelo Butantan se tornou a principal aposta do SUS. O imunizante de dose única mostrou, em estudos, uma proteção elevada (89%) contra os casos de dengue grave ou com sinais de alerta, independentemente de maior risco de hospitalização.


"A vacina é uma estratégia que vamos continuar a utilizar, mas não é a principal estratégia para 2025. Pode ser que venha a ser para 2026, a depender do desenvolvimento da vacina do Butantan", disse a ministra.


Nísia afirmou que a primeira etapa do plano nacional contra a dengue deve ser lançada na primeira quinzena de setembro. Nessa fase, a pasta deve apontar formas prioritárias de combate ao mosquito.


A declaração foi dada em um café da manhã com jornalistas nesta quarta-feira (28).


Uma das propostas da primeira etapa do plano é utilizar tecnologias como o Wolbachia. O método consiste na liberação do mosquito aedes aegypti com a bactéria Wolbachia, que impede que o vírus da dengue se desenvolvam no mosquito.


"Esse plano envolverá, além do controle de vetores, também o uso de tecnologias novas. Avançamos muito, vai ser detalhado no plano. São os controles de vetores, algumas [tecnologias] já mostraram excelentes resultados, como é o caso do Wolbachia", afirmou a ministra. "Mas não existe estratégia mágica, isso também quer dizer que você tem que combinar as estratégias."


Nísia declarou que ainda aguarda a consolidação dos dados de projeção da doença para o ano que vem para lançar a segunda parte do plano. O documento complementar deve apontar quais sorotipos da doença devem ser predominantes em 2025, além da estratégia de vacinação.


A ministra diz que ainda não está definido o público-alvo da vacina contra a dengue para 2025, tendo em vista que ainda é preciso avaliar o cenário epidemiológico e o número de vacinas compradas.


No entanto, a pasta deve continuar priorizando a recomendação da OMS (Organização Mundial de Saúde) de imunizar grupos 6 a 16 anos.


A estratégia de combate à dengue ainda será discutida em comitê técnico científico, além da pactuada na CIT (Comissão Intergestores Tripartite), órgão que reúne gestores do ministério, estados e municípios.


A vacina do Butantan ainda está em desenvolvimento e não tem registro na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). "Nesse sentido, diria que nossa aposta maior [vacina Butantan], mas falo isso com cuidado porque ainda nem foi submetido à Anvisa. [Ela] mostrou excelentes resultados em estudo clínico que já estão publicados", disse a ministra.


Neste ano, o Brasil registrou 6,49 milhões de casos, segundo o Painel de Monitoramento de Arboviroses do Ministério da Saúde, com 5.204 mortes até quarta-feira (28).


"Hoje, no mundo, você tem dengue em todas as regiões. Nada aponta para que a gente consiga reverter esse quadro de surgimento da doença em bases maiores", disse Nísia.


Em março, a ministra disse que o acordo entre a Takeda e a Fiocruz estava perto de ser assinado. "Já estamos no caminho, mas a data não vou divulgar agora, para isso ser feito com precisão", disse ela à época.


O laboratório público aponta em documentos internos, porém, dificuldades para a produção da vacina.


Em abril, a fundação afirmou que "trabalha no limite" e depende da construção de uma nova fábrica para conseguir atender a demanda do SUS. Em documentos obtidos pela Folha, a Fiocruz apontava que a sua estrutura atual exige cortar a entrega de outros imunizantes para produzir a Qdenga.


O ministério conseguiu 6,5 milhões da vacinas em 2024, suficientes para imunizar 3,25 milhões de pessoas no ano em que o Brasil enfrentou a maior epidemia de dengue.


Em junho, a fabricante disse que estava comprometida em buscar parcerias com laboratórios públicos para acelerar as entregas da vacina. "A busca por parcerias nacionais faz parte de um plano estratégico da Takeda para incrementar o fornecimento global da vacina Qdenga, atingir a meta de 100 milhões de doses por ano até 2030."


Em nota divulgada na quarta-feira (28), a Takeda afirmou que ainda dialoga com a Fiocruz. "As tratativas para uma Parceria de Desenvolvimento Produtivo da vacina da dengue, com a Fiocruz, seguem avançando conforme o rito regular desse processo, que visa a transferência de tecnologia."


"Diante da emergência da dengue, a grande demanda de quantitativo de vacinas não será equalizada por apenas uma entidade, seja ela a Takeda ou o Instituto Butantan. Por isso, acreditamos que a coexistência de diferentes vacinas é essencial para combater a epidemia a longo prazo", disse ainda a farmacêutica

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