quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Músicos russos querem conquistar fãs no exterior

Depois de cantar The Party is Over, Valeriya, uma estrela pop russa, fez uma declaração cujo alvo eram os executivos da indústria fonográfica reunidos em uma recente conferência em Cannes, França: "a música não tem fronteiras".


Para gente como Mick Jagger ou Madonna, pode ser que isso seja verdade. Mas apenas alguns poucos artistas russos conseguiram cruzar as fronteiras musicais entre seu país - onde o mercado é dominado por atrações nacionais - e o Ocidente.

Agora, Valeriya e outros roqueiros russos estão tentando mudar essa situação por meio de um esforço de adaptação de seus repertórios às audiências internacionais. Enquanto isso, as gravadoras russas tentam atrair cautelosos parceiros ocidentais a acordos que permitam promover a venda de seus produtos na Rússia.

Em termos gerais, as vendas de música caíram em 21% na Rússia no primeiro semestre do ano passado, de acordo com a International Federation of the Phonographic Industry (IFPI), associação setorial das gravadoras internacionais. O declínio provavelmente se acelerou no segundo semestre do ano, à medida que a crise econômica mundial se intensificava.

O mercado russo de música há muito vem sendo prejudicado pela pirataria. A maior parte dos CDs vendidos no país são cópias não autorizadas, e o mercado de música em forma digital é inexistente. Por conta disso, os artistas russos dependem em larga medida de apresentações ao vivo, para ganhar dinheiro.

Para tentar faturar no país apesar da pirataria, as gravadoras ocidentais estão começando a experimentar com um modelo de negócios que vem sendo a norma na Rússia há alguns anos, sob o qual uma única empresa cuida de agenciar artistas, gerir o marketing e cumprir outras funções, além de distribuir discos e servir como editora musical.

E para os artistas russos, vender seu trabalho fora do país se tornou um imperativo de negócios. "Não quero ficar parada", disse Valeriya, cujo nome verdadeiro é Alla Yurievna Perfilova, em encontro com jornalistas em Cannes. "Meu repertório é muito competitivo, e a audiência pode sentir algo novo".

Valeriya não é o primeiro astro pop russo a transpor as fronteiras do país. Mas ela é uma cantora estabelecida, de 40 anos, que costuma ser descrita como a versão russa de Madonna. Assim, ela e os responsáveis por sua carreira estão pensando ambiciosamente, planejando um ataque em múltiplas frentes ao mercado britânico e ao norte-americano.

Pelo final do mês, sua gravadora, a Nox Music ¿dirigida por Josef Prigozhin, seu terceiro marido- planeja enviar cópias de um dos singles de Valeriya, Wild, a 300 casas noturnas e DJs dos Estados Unidos, a fim de testar a reação da audiência à sua música.

Vladimir Voronkov, responsável pelas operações da Nox Music fora da Rússia, disse que desejava organizar uma turnê de Valeriya nos Estados Unidos, conseguir que ela fosse entrevistada em talk shows e até mesmo publicar uma tradução de sua autobiografia.

"Quanto mais botões você aperta, mais resultados consegue", ele disse. "Vamos nos esforçar em todas as áreas". Falar é fácil. A despeito de uma campanha publicitária que valeu a Valeriya capas de revistas e reportagens nos jornais dominicais britânicos, a Nox Music ainda não encontrou distribuidor no Reino Unido para seu mais recente lançamento, Out of Control.

Valeriya não é a única artista russa que está tentando encontrar o sucesso no mercado britânico. Leonid Rudenko, um DJ de Moscou, planeja lançar um single de dance music, Everybody, no Reino Unido, segunda-feira, pela gravadora independente Ministry of Sound.

Outro aspirante russo ao sucesso internacional é Sergey Lazarev, ex-astro em uma boy band que iniciou carreira solo com o nome de Sergey. Sua gravadora na Rússia, a Style Records, recentemente fechou acordo com uma agência britânica, a 2 Point 9.

"É muito, muito difícil lançar um artista no Reino Unido, mesmo um artista britânico", disse Billy Grant, diretor executivo da 2 Point 9. "A idéia é trabalhar para a criação de um disco que possa ser lançado em outros territórios do mundo".

Os artistas russos em geral trabalham com gravadoras independentes porque as grandes companhias ocidentais de música continuam cautelosas quanto a fazer negócios na Rússia.

Sem o apoio de uma grande gravadora, os músicos russos encontrarão dificuldades para conquistar destaque no Ocidente, disse Artyom Troitsky, um crítico e produtor de música russo. Ele disse que as perspectivas para Valeriya no Ocidente eram "desanimadoras".

Troitsky disse que em um mundo repleto de música pop produzida de forma esmerada mas em larga medida derivativa, em termos de criatividade, os artistas russos deveriam conquistar maior destaque. "Seria divertido", ele disse, "que o país famoso por Tschaikowsky conquistasse destaque por algo mais que Madonnas de terceira categoria ou Robbie Williamses de segunda categoria".

Mas há observadores mais otimistas. "Temos a sensação de que a comunidade internacional está pronta para receber um artista russo", disse Ilya Buts, diretor editorial da versão russa da revista Billboard.

Tradução: Paulo Migliacci

The New York Times

Nenhum comentário: