Reuters
- Impacto das sobretaxas ainda é difícil de prever; CNI diz que elas podem afetar US$ 1,7 bilhão em exportações
- Claudia Sheinbaum apresentou proposta em meio à crescente pressão comercial de Trump
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avalia que o tarifaço recém-aprovado pelo Congresso mexicano não deve afetar a maior parte das exportações automotivas brasileiras, uma vez que ambos os países possuem um acordo de livre comércio nesse setor.
Em nota, o MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) e o Ministério de Relações Exteriores disseram que, apesar do alívio para automóveis e peças, o aumento das tarifas pode "erodir as preferências bilaterais existentes para outros setores e impactar negativamente o comércio e investimentos entre os dois países, a depender das listas finais publicadas".
O governo Lula ainda não divulgou uma estimativa do impacto que a elevação das alíquotas mexicanas deve gerar. A justificativa do Executivo é que as listas finais detalhando as majorações dos tributos ainda não foram publicadas.
A CNI (Confederação Nacional da Indústria) estimou o valor em US$ 1,7 bilhão.
O Brasil mantém um outro acordo comercial com o México. De acordo com pessoas ouvidas pela Folha, o alcance desse segundo entendimento é limitado, algo em torno de 12% do universo tarifário no comércio bilateral.
Além do mais, esse segundo acordo possui preferências menores, razão pela qual os produtos por ele alcançados devem ser impactados pelo tarifaço mexicano.
Autoridades brasileiras ficaram contrariadas com a decisão do governo Claudia Sheinbaum de enviar um projeto de lei com a elevação de diversas tarifas.
Não só pelos efeitos negativos sobre o Brasil, mas também porque a medida ocorreu pouco depois da visita do vice-presidente Geraldo Alckmin ao México.
Na ocasião, os governos se comprometeram a atualizar os acordos comerciais existentes.
Em recente carta ao presidente da CNI, Ricardo Alban, o vice-presidente Geraldo Alckmin disse que as preocupações brasileiras sobre o tema "foram apresentadas a autoridades políticas e técnicas mexicanas, enfatizando a importância de evitar medidas que prejudiquem o comércio bilateral".
"Mantive ainda comunicação direta com minha contraparte, na Secretaria de Economia [do México], formalizando, pelos canais apropriados, os pontos relevantes que entendi convenientes e oportunos", disse o Alckmin, segundo o documento obtido pela Folha.
Na quarta-feira (10), o Senado do México aprovou o aumento das tarifas de importação sobre Brasil, China e outros nove países com os quais os mexicanos não têm acordo comercial.
O projeto de lei, votado em meio à pressão comercial dos Estados Unidos, foi aprovado por 76 votos, 5 contra e 35 abstenções.
A medida levou uma série de indústrias no Brasil a buscar mais clareza sobre as consequências para seus negócios, sem entender a extensão das tarifas.
Além de China e Brasil, os países afetados incluem África do Sul, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos, Índia, Indonésia, Nicarágua, Tailândia, Taiwan e Vietnã.
As sobretaxas afetarão 1.463 classificações tarifárias em 17 setores como automotivo, têxtil, vestuário, siderúrgico, plásticos, eletrodomésticos, móveis e calçados, entre outros, principalmente produtos chineses.
Dessa relação, 316 classificações não têm cobrança de impostos atualmente.
Sheinbaum apresentou a proposta em setembro, em meio à crescente pressão comercial de Trump e acusações de que o México é a porta de entrada para produtos chineses nos Estados Unidos.
O México, juntamente com o Canadá, prepara-se para negociar a renovação do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (T-MEC) com os Estados Unidos, enfrentando novas exigências da Casa
Folha de São Paulo

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