O agravamento da crise na saúde na gestão de Adriane Lopes deixou unidades básicas de saúde, centros regionais e UPA’s (Unidades de Pronto Atendimento) sem remédios básicos indispensáveis e insumos para garantir o atendimento à população de Campo Grande. Em nota, o Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul alertou para o “iminente risco de colapso da rede municipal de urgência e emergência”.
O alerta ocorreu após vistorias in loco na rede municipal de saúde. O alerta do órgão federal significa que a Capital de Mato Grosso do Sul, responsável praticamente pelos casos de alta complexidade de todo o Estado, pode ficar sem condições de receber pacientes em estado grave, vítimas de acidentes e vítimas de violência, pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
“No exercício de sua função legal de fiscalização do exercício profissional da medicina e das condições adequadas para a assistência à saúde, o CRM-MS realizou inúmeras vistorias ao longo do último período, nas quais foram constatados baixo estoque e, em diversos casos, a completa ausência de medicamentos básicos indispensáveis ao adequado funcionamento dos plantões de urgência”, alertou o CRM/MS em nota pública para alertar a sociedade, os órgãos de controle e as autoridades.
“Soma-se a esse cenário a escassez de insumos fundamentais, como luvas, lençóis, cânulas e outros materiais essenciais à segurança dos pacientes e dos profissionais de saúde”, descartou. Esses produtos podem evitar a proliferação da infecção hospitalar, que pode levar os pacientes a morte.
“A situação é ainda mais agravada pelo recente decreto que suprimiu gratificações dos servidores da saúde, em especial dos médicos da rede municipal, medida que fragiliza as condições de trabalho, desestimula a permanência de profissionais na rede pública e compromete diretamente a qualidade da assistência prestada à população”, frisou, sobre o decreto de Adriane que cortou a gratificação paga aos médicos, profissionais de enfermagem e outros trabalhadores da saúde pela metade.
“Diante desse quadro, o CRM-MS entende ser seu dever institucional informar a população e as autoridades competentes acerca do iminente risco de colapso da rede municipal de urgência e emergência, bem como da possibilidade concreta de desassistência à saúde da população, caso providências efetivas e imediatas não sejam adotadas”, avisou.
A situação é agravada pela falta de um titular na Secretaria Municipal de Saúde. Desde setembro deste ano a pasta é comandada por um comitê formado por seis pessoas. E o pior, Adriane não sinaliza de irá nomear a nova secretária ou secretário de Saúde.
O colapso na rede municipal pode propiciar uma espécie de fim do mundo na saúde, já que a Santa Casa de Campo Grande, sem contrato com o município, também já avisou que não dispõe de medicamentos e insumos para garantir o atendimento adequado aos pacientes internados.
Falta de gestão agrava caos
“A nota do CRM-MS apenas torna pública uma situação que nós já vínhamos apontando há bastante tempo. O desabastecimento de medicamentos e insumos nas unidades de urgência e emergência não é um fato isolado, nem recente. Isso tem sido relatado por usuários, trabalhadores e conselheiros, e motivou uma série de cobranças formais que o CMS já encaminhou à Secretaria Municipal de Saúde”, afirmou o odontologista Jader Vasconcelos, presidente do Conselho Municipal de Saúde.
“O que o CRM reforça agora é exatamente o que estávamos dizendo: a falta de insumos compromete a segurança do paciente e coloca os profissionais em uma posição extremamente delicada, tanto do ponto de vista técnico quanto ético. E isso é grave. A legislação do SUS é muito clara ao afirmar que cabe ao gestor garantir condições adequadas de funcionamento”, destacou.
Ex-prefeito da Capital por dois mandatos, Marquinhos Trad (PDT) acusa a prefeita, que é missionária da Assembleia de Deus Missões, de ignorar a dor e o sofrimento. “É inadmissível que a prefeita Adriane Lopes trate um direito fundamental como se fosse favor, ignorando a dor, o sofrimento e a urgência de quem depende do SUS para sobreviver”, atacou.
“A verdade é simples: quem assume a responsabilidade de governar não pode abandonar a saúde como fez a prefeita”, lamentou o vereador.
Nem aliados e bolsonaristas poupam a chefe do Poder Executivo. “A situação da saúde realmente está caótica. Fizemos o requerimento e esperamos obter respostas quanto aos questionamentos levantados. Passou da hora de trocar o comando da SESAU por outro Secretário em definitivo, pois parece que tudo está relacionado à gestão”, lamentou André Salineiro (PL).
Ex-secretário municipal de Saúde, Jamal Mohamad Salem (MDB), também apontou que o colapso ocorre devido à falta de gestão. “Isso eu já estava esperando há mais de quatro, cinco meses atrás. Alertei a prefeita várias vezes, eles não tomaram providência nenhuma”, lamentou o emedebista.
O vereador também disse que existe crise financeira, mas a gestão poderia amenizar o problema. “Alguém precisa tomar providência, o Ministério Público, a Justiça”, alertou sobre as autoridades que poderiam cobrar medidas efetivas da prefeita.
O vereador Landmark Rios (PT) destacou que o município investe 34% do orçamento na saúde a ainda conta com investimentos do Governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do governador do Estado, Eduardo Riedel (PP). Ele ainda destacou que parlamentares enviam emendas para a prefeitura. “A prefeitura está com dinheiro em caixa, quais as razões do colapso? Não entra na minha cabeça o colapso anunciado pela Associação Médica”, espantou-se o petista.
Sesau nega risco de desassistência
A Secretaria Municipal de Saúde contestou o CRM/MS e negou desassistência na rede municipal de saúde. “A Secretaria Municipal de Saúde esclarece que não há desassistência na rede e que o reabastecimento de medicamentos e insumos está em andamento, com previsão de alcançar 90% de restabelecimento até a próxima quinzena”, informou a pasta, em nota.
“A Sesau mantém monitoramento permanente dos estoques e adota medidas como aceleração de licitações, reprogramação de itens desertos e acompanhamento rigoroso dos prazos de entrega, garantindo a regularização progressiva do fornecimento em toda a rede”, garantiu.
“Paralelamente, o Comitê Gestor da Saúde vem fortalecendo a gestão com revisão de contratos, reorganização de equipes, visitas técnicas contínuas e implantação de sistemas modernos de controle, como o e-SUS Farmácia, que aprimora o monitoramento dos estoques. O Município reforça que atua de forma técnica, responsável e contínua para assegurar o pleno funcionamento das unidades e a assistência à população”, rebateu.

Nenhum comentário:
Postar um comentário