sábado, 6 de dezembro de 2025

Morre Frank Gehry, que redesenhou a arquitetura com obras ferozes, aos 96

 

                                               Guillermo Martinez/Reuters

  • Vencedor do Pritzker se tornou gigante dessa arte nos EUA

  • Ele ergueu o Guggeinheim de Bilbao e e o Disney Concert Hall


Frank Gehry, um dos grandes talentos da arquitetura mundial, morreu nesta sexta-feira em sua casa em Santa Monica, nos Estados Unidos, aos 96 anos. Ele enfrentava uma doença respiratória.


O maior sucesso de Gehry foi o museu Guggenheim, em Bilbao. Situado no que antes foi uma cidade industrial em declínio na Espanha, este edifício exuberante, revestido de titânio, foi uma sensação internacional quando abriu, em 1997, e ajudou a revitalizar a cidade e a transformar Frank Gehry no arquiteto dos Estados Unidos mais reconhecido no mundo desde Frank Lloyd Wright.


Sua aparência alegre —composição de formas prateadas cintilantes que pareciam ter explodido do solo— apontava para a chegada de uma nova arquitetura, carregada de emoção.


Gehry, um dos primeiros arquitetos a compreender o potencial libertador do design feito no computador, passou a criar outros edifícios célebres —muitos considerados obras-primas—, que em sua bravura escultural e poder visceral igualaram ou até superaram a arquitetura barroca do século 17.


Entre eles estão o Walt Disney Concert Hall, em Los Angeles, com um interior semelhante a um casulo, concluído em 2003; o New World Center, uma sala de concertos em Miami repleta de salões de ensaio cilíndricas, inaugurada em 2011, e a Fundação Louis Vuitton, museu em Paris que parece feito de vidro.


Mas Gehry, que ganhou o prestigioso prêmio Pritzker de arquitetura em 1989, já havia feito seu nome muito antes. Ele irrompeu na consciência do mundo arquitetônico em 1978, com a construção de uma casa em Santa Monica, na Califórnia, que ele projetou e na qual viveu por quatro décadas —um bangalô barato, com estrutura de madeira, que o artista despedaçou e envolveu numa nova pele de compensado, metal corrugado e tela metálica.


A colisão crua e até violenta de formas parecia capturar as divisões políticas e geracionais que tensionavam a família e a sociedade americana desde os anos 1960, o que estabeleceu Gehry como uma força na arquitetura.


Nos anos seguintes, ele produziu várias outras casas cujas composições brutas evocavam estruturas em meio à construção. "Eu estava me rebelando contra tudo", afirmou Gehry em entrevista ao jornal The Times em 2012, ao justificar a sua antipatia pelos movimentos arquitetônicos da época, exemplificados pela Farnsworth House na pradaria de Illinois, um pavilhão modernista austero, plano, de aço e vidro projetado por Mies van der Rohe. "Eu não conseguiria viver numa casa assim", acrescentou.


"Teria que chegar em casa, limpar minhas roupas, pendurá-las de forma adequada. Achei que era esnobe e afetado. Simplesmente não se encaixava na vida."


Gehry depois expandiu o seu repertório com designs cada vez mais esculturais. Eles incluíam as formas contorcidas de estuque branco do museu de design Vitra, inaugurado em 1989, em Weil am Rhein, na Alemanha, e duas torres cilíndricas unidas num abraço balético em Praga —edifício de 1996 chamado Casa Dançante, ou Ginger e Fred, em homenagem à dupla de dançarinos Ginger Rogers e Fred Astaire.


Para alguns, seu trabalho era mais de escultura do que de arquitetura. Outros o viam como emblemático de uma cultura global que reduzia a arquitetura a uma marca. Gehry, cujo nome era reconhecido em todo o mundo, às vezes era tido como uma estrela.


Mas a ferocidade emocional de seu trabalho podia parecer capacitadora, como se a arquitetura tivesse redescoberto uma parte de si mesma que havia sido perdida após décadas de funcionalismo sombrio e clichês pós-modernistas. E o foco generalizado nos exteriores deslumbrantes de seus edifícios podia distrair dos objetivos mais profundos de Gehry —criar uma arquitetura que não fosse apenas impactante, mas democrática em espírito e evocativa da desordem da vida humana.


Ele nasceu Frank Owen Goldberg em 28 de fevereiro de 1929, numa família judaica, numa região operária de Toronto, no Canadá, filho de Irving e Sadie Caplan Goldberg. Seu mundo desmoronou por volta da década de 1940, quando seu pai sofreu um ataque cardíaco e eles mudaram para Los Angeles, fugindo do inverno.


Como arquiteto, Gehry foi um talento tardio. Após uma breve passagem pelo Exército, casou-se com Anita Snyder, de quem se separou em 1966, e ingressou na Universidade do Sul da Califórnia, onde estudou cerâmica. Ele mudou para arquitetura depois que um professor o apresentou a Raphael Soriano, um pilar do modernismo do pós-guerra no sul da Califórnia. Foi também nesta época que ele adotou Gehry como sobrenome, segundo ele para escapar do antissemitismo.


Gehry ainda trabalhava em projetos como uma loja de 7.600 metros quadrados para a Louis Vuitton, em Beverly Hills. O arquiteto deixa a mulher Berta Isabel Aguilera e os quatro filhos, Samuel, Leslie, Alejandro e Brina.


Nicolai OuroussoffNova York | The New York Times

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