terça-feira, 26 de março de 2024

Esposa de ex-chefe da Polícia Civil preso sacou R$ 760 mil em espécie em 2 anos

 

                                           Ex-chefe da Polícia Civil Rivaldo Barbosa no IML, em Brasília (Foto: Brenno Carvalho)


No relatório de investigação sobre a suposta participação de Rivaldo Barbosa no homicídio da vereadora Marielle Franco, a Polícia Federal afirma que, com a quantia adquirida por meio dos esquemas ilícitos, o delegado aumentou seu patrimônio.


Por meio da análise bancária e de Relatórios de Inteligência Financeira do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), é mencionado que sua mulher movimentou mais de R$ 2,5 milhões em dois anos, sacando mais de R$ 760 mil em espécie.


No documento, a PF afirma que, diante “das suspeitas de movimentações atípicas e de lavagem de dinheiro” por meio de duas empresas em nome de Rivaldo e de Erika Araujo, surgiu a necessidade “de maior ampliação e aprofundamento da gama de informações financeiras”. A mulher é tida como “testa de ferro” do marido, que de fato administrava os negócios.


A PF aponta que uma das empresas, a Mais I Consultoria Empresarial Ltda, declarou à instituição financeira ter um faturamento de R$ 20 mil mensais. No entanto, ao verificar o montante que entrou nas contas entre junho de 2016 e o mesmo mês de 2018, constatou-se uma movimentação a crédito de R$ 1,072 milhão e a débito de R$ 1,141 milhão — valor mais de duas vezes superior ao faturamento esperado no período.


Testa de ferro do marido: esposa de Rivaldo Barbosa movimentou mais de R$ 7 milhões das empresas de fachada, segundo a PF


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Os investigadores também citam que, no que se refere aos débitos, “o montante sacado em espécie atingiu a quantia de R$ 760.659,30, que representa quase 70% do total de operações a débito”. “Foi registrado que Erika sacou o valor de R$ 155.300,00 e imediatamente depositou os recursos na boca do caixa. R$ 564.524.70 foram sacados nos terminais de autoatendimento e a quantia de R$ 40.834,79 foi sacada na boca do caixa e imediatamente uma conta foi quitada”.


Ainda no relatório, a PF afirma que “mais uma vez a empresa adota uma estratégia não usual e pouco recomendada: a preferência pelos saques em espécie diante das inúmeras outras possibilidades mais seguras e práticas, como a utilização de TED, DOC, transferência entre contas, entre outras”.


A PF também pontua que a prática “é comumente utilizada quando se deseja dificultar o rastreamento do dinheiro e, por consequência, realizar a lavagem de capitais, tendo em vista a maior dificuldade imposta na identificação do destino do valor sacado”.


“No que concerne ao produto financeiro de sua empreitada criminosa, Rivaldo lançou mão de tipologias antiquadas de branqueamento de capitais como, por exemplo, a utilização de parentes como pessoas interpostas e sócios de empresas de fachada, talvez por ter certeza da impunidade de seus atos, embora não seja esse o escopo da presente investigação. Ademais, Rivaldo e sua esposa Erika, pessoa sem qualquer qualificação para realizar as atividades das empresas constituídas, realizavam, em pleno 2016 e anos seguintes, grande parte de suas transações em espécie”, conclui a PF.


'Mudança abrupta' na evolução patrimonial


Os investigadores também apontam uma “mudança abrupta” na evolução patrimonial do casal a partir de 2015, ano em que a primeira empresa constituída iniciou as atividades e que Rivaldo assumiu a Delegacia de Homicídios da Capital.


“Recorda-se que é justamente quando está na DHC ou à frente da PCERJ que foram encontrados relatos, depoimentos e formalizadas denúncias envolvendo episódios de corrupção e outras atividades ilícitas praticadas por Rivaldo, dentre elas aquela formalizada por Ronnie Lessa em sede de colaboração premiada”, destaca a PF.


Delegado foi peça-chave para crime ser consumado


Ao narrar a dinâmica pré-crime, o ex-PM revelou que o delegado foi uma peça-chave para que o crime fosse consumado em 14 de março de 2018, a mando dos irmãos Brazão. A Rivaldo, caberia garantir uma espécie de imunidade aos envolvidos, ou seja, de alguma forma as investigações que se sucederiam ao fatídico dia não poderiam chegar nos responsáveis pela empreitada criminosa.


Na conclusão do relatório, a PF afirma que as alegações trazidas por Lessa na delação “encontram substrato probatório, ainda que indiciário, quando nos debruçamos sobre o histórico de Rivaldo à frente da Divisão de Homicídios e da Polícia Civil, sobretudo quando confrontamos tal histórico com sua evolução patrimonial e as atitudes tendentes a obstruir a apuração em tela”.

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