sábado, 31 de março de 2018

7 curiosidades sobre o cacau e a produção de chocolate

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Em função das mudanças climáticas, se a ciência agronômica não avançar, em poucos anos o cacau pode se transformar em um produto raro

A aproximação do feriado de Páscoa impulsiona o consumo de chocolates no mercado brasileiro. O produto, que é um derivado do cacau, ganha diferentes formas e sabores nessa época do ano. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab), a Páscoa é considerada para a indústria de chocolates a data mais importante do calendário anual. O período aquece a economia, movimenta as vendas no varejo e em lojas especializadas e gera milhares de empregos temporários.

Em 2017 foram produzidas quase 9 mil toneladas de chocolate, o equivalente a 36 milhões de ovos. Se comparado à produção de 2016, o volume foi 38% menor. Os chocolates que vão atender a demanda da Páscoa de 2018 ainda estão em produção, por isso não foram apresentados os resultados pela entidade. Segundo a Abicab, apesar da retração em 2017, o Brasil ainda é um dos países com maior volume de vendas de produtos para a Páscoa e a indústria preparou neste ano mais de 120 lançamentos de produtos.

“Nos últimos anos vimos um comportamento atípico do setor que, concomitante com uma forte crise econômica, obrigou as empresas a reverem suas estratégias e se adequarem ao novo cenário. Estamos otimistas que os números deste ano comprovarão o amadurecimento da indústria e sua capacidade de organização em uma economia mais estável”, afirma Ubiracy Fonseca, presidente da Abicab. Além de grande consumidor de chocolate, o Brasil é um importante produtor da matéria-prima. No Pará, estado que lidera a produção brasileira, a produtividade média é de 911 quilos por hectare, maior que a média mundial de 550 quilos por hectare. Confira outras curiosidades sobre essa cultura.

1 – Bebida exótica

Há milhares anos, o chocolate inicialmente era uma bebida exótica consumida por povos sul-americanos. De lá para cá, tornou-se um dos doces mais apreciados do mundo. Nos dois casos, o produto consumido é preparado a partir das amêndoas do fruto do cacaueiro. O nome científico da planta é Theobroma cacao (do grego theobroma, alimento dos deuses). Os frutos são fibrosos e contém amêndoas, cobertas por uma polpa branca adocicada.

2 – Variedades de cacau

As diversas variedades de cacau estão classificadas em três grupos:

crioulo: muito sensível a pragas, mas com excelentes amêndoas.
forasteiro: mais cultivado, porém com amêndoas de qualidade inferior.
trinitário: um híbrido das duas variedades anteriores.
3 – Cultura sensível

O cacau é uma cultura extremamente sensível a pragas, doenças, ao calor excessivo e à falta de umidade. Cresce somente em uma faixa 20 graus ao norte e 20 graus ao sul da linha do Equador. Ou seja, em ecossistemas com chuvas frequentes nos continentes americano, africano e asiático.

4 – Demanda por chocolate

A produção nacional do fruto não é suficiente para atender a demanda brasileira, mas há expectativa de que entrega da matéria-prima local à indústria aumente 10% neste ano. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o faturamento com cacau deve crescer 8% neste ano no Brasil. A demanda pelo doce é extremamente alta e deve continuar assim nas próximas décadas. Segundo relatório da consultoria Euromonitor, a demanda global por chocolate apresentou um crescimento de 10% nos últimos cinco anos.

5- Geração de empregos

Reconhecida como a principal data sazonal para o setor de chocolates no Brasil, a Páscoa gerou mais de 23 mil empregos temporários em 2018, tanto para a indústria como para os pontos de venda, garantindo uma oportunidade significativa de renda aos brasileiros. “O volume de empregos temporários desse ano é considerado positivo pelo setor. As empresas ainda se mostram prudentes nas contratações, mas confiantes nos sinais positivos de alguns indicadores da economia”, afirma o presidente da Abicab.

6 – O futuro do cacau

O cultivo do cacaueiro está sob a ameaça das mudanças climáticas e da crescente demanda por chocolate. De acordo com informações do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), cientistas acreditam que, em função desses fatores, o cacau pode tornar-se tão raro e caro quanto o caviar em poucos anos.

A Costa do Marfim e Gana, responsáveis por mais da metade do cacau do mundo, devem ter redução significativa da produção em 2018. As principais causas são a seca e o calor acima da média. O futuro do cacau e seu principal produto, o chocolate, estão em risco. “Mas esse quadro pode ser revertido graças aos esforços de cientistas que usam o melhoramento genético e a biotecnologia para encontrar soluções para o problema”, divulgou o CIB em comunicado.

7 – Cacau transgênico

Com o aumento gradual da temperatura global, a erosão e a contaminação do solo, o cultivo, que por si só é complexo, tem se tornado cada vez mais difícil. Especialmente porque 90% da produção é feita em pequenas propriedades da mesma forma há centenas de anos. Em consequência disso, o chocolate pode virar um produto raro nos próximos anos.

Apesar desse cenário negativo, pesquisas de melhoramento genético da planta estão sendo desenvolvidas para tentar reverter esse quadro. O primeiro passo foi dado em 2011, com o sequenciamento do genoma do vegetal. Um dos objetivos era encontrar genes responsáveis por características de interesse (a exemplo da resistência a pragas) na própria espécie e, assim, chegar a novas variedades. A principal meta é criar uma planta transgênica mais resistente ao calor e à umidade. Um desses trabalhos estuda inserir no genoma do cacaueiro genes de mandioca responsáveis por inibir a produção de toxinas em altas temperaturas.

8 – Brasil a favor do cacau

No Brasil, a ciência também tem sido uma aliada na busca por um cacau mais resistente. O intuito é desenvolver sementes que não sejam sensíveis ao fungo causador da vassoura-de-bruxa. Essa praga dizimou lavouras no fim dos anos 1980. Por conta dela, a produção brasileira, de 320 mil toneladas por ano em meados dos anos 1980, despencou para 190 mil toneladas em 1991.

Estudo do Instituto de Biologia e do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) descobriu o porquê de tamanha sensibilidade. Todos os cacaueiros baianos são originários de um número muito pequeno de sementes da variedade forasteiro.

Essas plantas, embora tenham amêndoas de excelente qualidade, são pouco resistentes às pragas. A boa notícia, segundo o CIB, é que recentemente foram identificadas árvores resistentes à doença e com maior variação genética do que aquela encontrada na maioria dos cacaueiros brasileiros.

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