sexta-feira, 19 de junho de 2009

Quebra-cabeça de 'Loki' reconta trajetória de Arnaldo Baptista

Divulgação

Depois de fazer sua estreia na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e no Festival do Rio no ano passado, o documentário Loki - Arnaldo Baptista finalmente estreia nos cinemas nacionais. Dirigido por Paulo Henrique Fontenelle e produzido pelo Canal Brasil, o filme segue grande parte da trajetória pessoal e profissional do músico.

Com uma gama enorme de raras imagens de arquivo e depoimentos, Fontenelle não cria uma grande obra estética, mas consegue tocar até quem nunca conheceu a cultuada música de Baptista. O impecável trabalho da edição, que conta as histórias em uma cronologia quase didática, permite que o espectador navegue na cabeça do 'mutante', entendendo, em partes, o surto que o levou a tentar suicídio em 1982, quando se atirou do quarto andar da ala psiquiátrica do Hospital do Servidor Público de São Paulo e passou quatro meses e onze dias em coma, o que o levaria a ter sequelas permanentes.

Loki poderia se dividir facilmente em cinco momentos: a era pré-Mutantes, a ascensão do grupo, a paixão por Rita Lee, a fase das drogas e da depressão e a recuperação ao lado de Lucinha, uma fã que acabou se tornando não só sua companheira como uma espécie de mãe incondicional. No decorrer do filme, Arnaldo pinta um quadro mostrando todas essas transições. Rita Lee - a quem ele atribui a tentativa de suicídio - aparece no centro do desenho, acompanhada da frase "Sinto Muito".

Neste cenário, o espectador ainda acompanha depoimentos curiosos: a primeira vez que os Mutantes experimentaram drogas e como eles foram, aos poucos, se perdendo no trabalho do rock progressivo - que marcou o grupo na década de 70, já sem Rita Lee. Isso sem contar o caminho tortuoso que levou Baptista a lançar Loki, um dos mais belos e melancólicos discos da história da música brasileira.

Frases valiosas de músicos como Rogério Duprat - em uma estranha entrevista antes da morte - também aparecem para impactar ainda mais a importância de Arnaldo. "Ele é o músico mais importante do Brasil desde 1967", diz ele, sem pestanejar. Em outra aspa, Zélia Duncan, que participou da retomada dos Mutantes em 2006 e 2007, diz que "só agora Arnaldo teve o reconhecimento físico que merecia."

Uma coisa é certa: com Loki, Fontenelle consegue um feito raro: ampliar o interesse por Baptista além dos cinemas, o que a grande maioria dos perfis de artistas não consegue fazer.

Danilo Saraiva
Redação Terra

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