As Forças Armadas bolivianas e seus veículos blindados retiraram-se do palácio presidencial em La Paz na noite de quarta-feira (26), após o presidente Luis Arce denunciar uma tentativa de "golpe" contra o
governo e pedir apoio internacional.
Mais cedo na quarta-feira, unidades militares lideradas pelo general Juan Jose Zúñiga, recém destituído de seu comando militar, haviam se reunido na praça central Plaza Murillo, onde estão localizados o palácio presidencial e o Congresso. Uma testemunha da Reuters viu um veículo blindado
"Hoje o país está enfrentando uma tentativa de golpe de Estado. Hoje o país enfrenta mais uma vez interesses para que a democracia na Bolívia seja interrompida", disse o Arce no palácio presidencial, com soldados armados do lado de fora.
O povo boliviano está sendo convocado hoje. Precisamos que o povo boliviano se organize e se mobilize contra o golpe de Estado em favor da democracia."
Algumas horas depois, uma testemunha da Reuters presenciou a retirada dos soldados da praça, enquanto a polícia assumia o controle do local.
Dentro do palácio presidencial, Arce empossou José Wilson Sánchez como comandante militar no lugar de Zúñiga. Sánchez pediu aos soldados que retornassem aos quartéis e aos seus líderes que evitassem o derramamento de sangue.
Os Estados Unidos disseram que estavam monitorando de perto a situação e pediram calma e moderação.
As tensões têm aumentado na Bolívia antes das eleições gerais de 2025, com o ex-presidente de esquerda Evo Morales planejando concorrer contra o antigo aliado Arce, criando uma grande divisão no
partido socialista, no poder, e uma incerteza política mais ampla.
Muitos não querem o retorno de Morales, que governou de 2006 a 2019, quando foi deposto em meio a protestos generalizados e substituído por um governo conservador interino. Arce então venceu as
eleições em 2020.
Zúñiga disse recentemente que Morales não deveria poder retornar à Presidência e ameaçou bloqueá-lo caso ele tentasse, o que levou Arce a remover Zúñiga de seu cargo.
Zúñiga se dirigiu aos repórteres na praça e citou a raiva crescente no país, que vem enfrentando uma crise econômica com o esgotamento das reservas do banco central e a pressão sobre a moeda boliviana, uma vez que as exportações de gás diminuíram.
"Os três chefes das Forças Armadas vieram expressar nossa consternação", disse Zúñiga a uma estação de TV local, pedindo um novo gabinete de ministros. Ele não chegou a pedir a remoção de Arce.
"Parem de destruir, parem de empobrecer nosso país, parem de humilhar nosso Exército", disse, em uniforme completo e ladeado por soldados, insistindo que a ação era apoiada pelo público.
Reação
Morales, líder do partido governista socialista MAS, disse que seus partidários se mobilizariam em apoio à democracia.
Ele acusou Zúñiga de tentar dar um golpe de Estado, anunciou uma paralisação geral e uma convocação para bloqueio das estradas.
"Não permitiremos que as Forças Armadas violem a democracia e intimidem as pessoas", disse Morales.
O apoio público a Arce e à democracia boliviana foi manifestado por líderes regionais, e até mesmo opositores políticos conservadores na Bolívia, incluindo a ex-presidente Jeanine Anez, que está presa,
condenaram veementemente a ação militar.
Em nota, o governo brasileiro condenou "nos mais firmes termos" a tentativa de golpe na Bolívia e manifestou e solidariedade a Arce.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva utilizou uma publicação na rede social X para condenar o ato.
"A posição do Brasil é clara. Sou um amante da democracia e quero que ela prevaleça em toda a América Latina. Condenamos qualquer forma de golpe de estado na Bolívia e reafirmamos nosso
compromisso com o povo e a democracia no país irmão presidido por Luis Arce", afirmou.
O presidente mexicano Andres Manuel Lopez Obrador, também reagiu à mobilização militar em um post no X.
Agência Brasil
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