domingo, 18 de agosto de 2019

Em protesto, motoristas de Uber deixam povo com sacolas na mão







De forma velada e organizada em silêncio em grupos de redes socias e aplicativos de conversa pelo celular, motoristas que prestams erviços para o Uber em Campo Grande realizam um protesto velado que pode prejudicar - e muito - passageiros que utilizam o serviço principalmente para voltar das compras em supermercados e shoppings da cidade cheios de sacola.

Se tornou rotina que os motoristas cancelem as corridas ao observar os passageiros cheios de sacolas. O motivo, essencialmente, é uma crítica dos 'prestadores de serviço' do aplicativo ao fato dos colegas motoqueiros, que atendem restaurantes e lanchonetes em outra vertente do aplicativo, o 'Uber Eats', receberem um valor fixo além do preço determinado pela corrida.

A justificativa é simples: a maioria dos motoristas quer pagamento igual para o uso do porta-malas de seus veículos.

"Muita gente abusa, vai ao Centro, ao supermercado, shopping e enche nosso porta-malas, trazendo prejuízos. Quando eu vejo de longe o camarada cheio de sacola eu cancelo a corrida. Prefiro ter minha nota diminuída do que gastar com amortecedor no futuro", disse um motorista que atende o Uber ao Correio do Estado na última terça-feira (13).

Não é uma opinião isolada. No último dia 8, a reportagem acompanhou o drama da aposentada Sueli Calixto, 72 anos, para retornar de um loja de armarinhos na Avenida Afonso Pena para sua casa, no bairro Tiradentes, região leste. O trajeto de quase sete quilômetros apontava preço de cerca de R$ 12 no horário, por volta das 18h. A oferta de motoristas disponíveis era grande. Mas... A dificuldade foi encontrar um que aceita-se conduzir a idosa, repleta de compras.

O tempo passou, o trânsito se complicou, e entre buzinas e cansaço, foram três recusas. Em uma delas, um homem aparentemente jovem, chamado Douglas, em um chamativo Toyota Etios, carro avaliado em cerca de R$ 60 mil na versão zero quilômetro, para o veículo,pergunta à Sueli o destino final, mesmo não sendo a recomendação do aplicativo, e decide não levá-la. "A senhora tem que chamar a modalidade Select (mais cara)", avisou e partiu. Detalhe: apesar da desistência o motorista não cancelou a corrida, deixando a tarefa para a idosa, que assim pagaria a taxa de R$ 5 cobrada pelo Uber. E pior, o motorista em questão era da categoria mais cara, mas estava tendendo corridas da modalidade habitual. Alertado pela reportagem sobre esse pequeno detalhe, foi categórico. "Mas aí eu não ganho para isso (abrir o porta-malas)", disse.

"É um desrespeito, sim, mas não temos muito o que fazer. Infelizmente quem não tem carro próprio sofre bastante e se submete a esse tipo de conduta. Me deixa cansada, sabe", disse Sueli. "Mas é a opção que temos para fazer compras e voltar para a casa." Felizmente, para ela, um motorista em um simpático Fiat Uno aceitou a corrida e ainda ajudou a idosa a embarcar seus copos, tigela e panelas, indignado com a conduta profissional do colega.

INDIGNAÇÃO

O motorista do Etios faz parte de um movimento que cresceu nas últimas semanas. Ao descobrirem uma suposta tabela do Uber Eats divulgada em aplicativos de mensagens pelo celular, em julho, os 'prestadores de serviço' do Uber resolveram se organizar e iniciar o boicote aos passageiros lotados de sacola.

Em mais de um desses grupos é normal ver mensagens de alguns dos motoristas incentivando a recusa em corridas chamadas de atacadistas, supermercados grandes e dos três shoppings da Capital.

Não é uma opinião unânime, claro. E há os própriios motoristas de aplicativos que são 'vítimas' dos colegas quando estão do outro lado do balcão, como diz o ditado. José (nome fictício), 57 anos, era condutor de ônibus coletivo e há quatro meses aproveita o desemprego para faturar nos aplicativos. Na última semana, seu Corsa quebrou e foi para a oficina. Ele então resolveu aproveitar o tempo vago para fazer compras em um shopping no Jóquei Clube, região sul. A volta foi um pesadelo.

"Estava com quatro sacolas. Repito, quatro. Cheia de mantimentos. Dois motoristas que aceitaram minha corrida reclamaram quando pedi para usar o porta-malas. Achei que seria melhor avisar antes da chegada deles, por mensagem. Obviamente cancelaram. No terceiro resolvi ir no escuro e ele não teve como correr. Mas só melhorou o humor quando disse que também fazia Uber", disse.

José diz que nunca teve essa postura, que ser solícito lhe faz até ter clientes fixos no Jardim Los Angeles, bairro da região sul onde mora e que sofre constantemente com o descaso de motoristas desconfiados. "Para mim não era uma situção tão constante. Pelo jeito a tendência é todos eles começarem a ser excluídos. O aplicativo pune quem faz esse tipo de coisa, recusa muitas corridas, mas vai saber qual as intenções de cada um", disse.

Questionada sobre os temas abordados na reportagem na última quarta-feira (14) por meio de sua assessoria, o Uber não respondeu a reportagem até a publicação desta reportagem.
Com o Portal Correio do Estado

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