Filme: Palace II - 3 Quartos Com Vista Para o Mar

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O documentário de Rafael Machado e Gabriel Correa e Castro resgata um dos episódios mais contundentes de negligência, omissão e impunidade da história recente do Brasil - o desabamento parcial de um dos prédios do conjunto habitacional Palace II, na Barra da Tijuca, em fevereiro de 1998, que causou 8 mortes e deixou 170 famílias desabrigadas. Os moradores tiveram que abandonar seus apartamentos às pressas, não raro apenas com a roupa do corpo, para salvar as próprias vidas, quando uma das colunas cedeu.

Era Carnaval e os moradores foram acordados pelo balanço do prédio e rachaduras na parede. Um engenheiro constatou o dano na coluna e deu alerta para a evacuação do local. Alguns recusaram, ainda mais porque a Defesa Civil, que ali esteve, avaliou que o edifício não cairia naquele dia 22 de fevereiro. Mas caiu.

Desde o começo, foi ficando evidente para os proprietários dos imóveis, ouvidos em entrevistas recentes, que os materiais usados na construção pela construtora Sersan, de propriedade do ex-deputado Sérgio Naya, eram de baixa qualidade. Perícias posteriores constataram erros de cálculo, que comprometeram a estrutura do prédio. Mas suas reclamações foram em vão, até a tragédia de 1998.

Anos depois, o prédio foi implodido. O próprio Naya morreu, em 2009, resultando que as vítimas, que formaram uma associação, receberam apenas uma pequena parcela de suas indenizações. Tudo o que eles queriam era um apartamento com vista para o mar.

O pior é que tragédias semelhantes continuam repetindo-se no Brasil, como se observa no desabamento de um prédio em Muzema, Itanhangá, zona oeste do Rio, em abril de 2019, causando 24 mortes. Tudo indica que, uma vez, houve negligência criminosa. Ali havia cinco prédios irregulares, hoje demolidos, cuja construção e comercialização estaria associada a milícias.

Neusa Barbosa