Desaprender Manoel de Barros oito horas por dia ensina os princípios. A frase não soa estranha para os leitores do poeta mato-grossense, que gosta de examinar as miudezas dos seres, dos objetos e do léxico. Em "Menino do Mato" (LeYa), que chega às livrarias em 22 de março, o poeta volta a diluir sua observação diante do minúsculo da vida.
Após três anos sem publicar uma obra --a última foi "Memórias Inventadas: a Terceira Infância", em 2007--, Manoel retorna agora com este volume. Nele, retoma o estado natural de sua escrita e utiliza suas ferramentas mágicas para descrever a realidade.
Dividido em duas partes --"Menino do mato" e "Caderno de Aprendiz"--, o livro transita por entre lírios vegetados em caracol, gorjeios de pássaros, absurdos divinos, borboletas amarelas, linguagem de rãs, encolhedores de rios, entre outros personagens avulsos e coletivos da poesia de Manoel.
O escritor atribui boa parte de suas infâncias reunidas em formato de versos à vivência que teve em uma fazenda em Corumbá, no Mato Grosso do Sul. Lá, descobriu a "chover na palavra" e a descortinar o léxico por birra. Era um moleque solitário e quieto, porque tinha um ermo dentro do olho, segundo o próprio. A chamada "oficina de desregular a natureza" acabou sendo construída nessa época e funciona até hoje em seus textos.
Passarinhos, pedras, rios, silêncios e solidões continuam a pautar os passos daquele menino, que também aparece na série sobre as infâncias inventadas do autor. De "O Livro das Ignorãças", permanece o garoto que desinventa a si mesmo em uma tentativa de criação mimética. Ele deseja fundir-se à natureza e completar o ciclo natural de pequenezas que a vida tenta lhe retribuir como abandono.
"Eu tinha mais comunhão com as coisas do que comparação", diz Manoel, na orelha de "Menino do Mato". Comunhão essa que o faz externar sua solidão e transfigurar o mundo por meio das palavras.
"Poesia Completa", que reúne toda a produção poética do autor, também será lançado dia 22, pela editora LeYa. O livro reúne desde os iniciais "Poemas Concebidos sem Pecado", de 1937, ao mais recente "Menino do Mato", de 2010.
Em janeiro deste ano, a vida do menino Manoel de Barros ocupou a grande tela com o documentário "Só Dez por Cento É Mentira", do diretor Pedro Cezar. O vídeo insere o cenário do Pantanal na obra do poeta e mostra como ele compôs os personagens de seus livros.
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