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O ano é 2014, e o mês é junho. O Brasil se prepara para a Copa do Mundo que começa dali a alguns dias. Existe no ar mais apreensão do que espírito de festa. Em suas primeiras imagens, o documentário “Futuro Junho”, de Maria Augusta Ramos (“Juízo”) mostra a “cidade que nunca para” no seu estado permanente de congestionamento e tensão, com ruas abarrotadas de carros e até uma manifestação discreta (para os padrões do que se viu antes e até depois).
Premiada no Festival do Rio 2015 por esse trabalho, a diretora acompanha então quatro homens: André Perfeito, analista financeiro; Anderson dos Anjos, metalúrgico; Alex Cientista, motoboy; e Alex Fernandes, metroviário e secretário-geral do sindicato da categoria. A construção da narrativa se dá pela alternância dessas personagens em cena e seu cotidiano.
Vemos cada um deles deslocando-se, no local de trabalho, com a família e em momentos de lazer. Logo fica claro como cada classe pauta cada um desses momentos. Com uma câmera que apenas observa e captura, Maria Augusta faz um documentário quase impressionista sobre a dinâmica social e de classes na cidade de São Paulo – por extensão, no Brasil.
O ambiente de trabalho de André é caótico: profissionais com um telefone em cada ouvido, olhando a tela de um computador, números incompreensíveis que pulam na tela, conversas incessantes, até gritos. Em algum momento, uma moça diz “Futuro Junho”. Mas que futuro é esse? Parece a pergunta que o filme faz silenciosamente a cada um dos seus personagens.
Alex, motoboy, acaba de comprar uma casa, e, por anos, pagará prestações. Anderson, que trabalha na linha de montagem, vê a empresa em crise, carros encalhados, e um sindicato que negocia para não haver demissões. Alex, metroviário, participa de uma das greves mais duras da categoria, que durou cinco dias e resultou na demissão de 42 funcionários, terminando apenas na antevéspera da abertura da Copa, em 12 de junho.
A organização do filme parece se dar em torno da paralisação dos profissionais do metrô. Do confronto com a polícia dentro da Estação Ana Rosa até o julgamento da greve, no qual o veredito custará o emprego a Alex, cujo filho nascerá em breve.
Pode-se dizer que “Futuro Junho” seja um documentário sobre o impacto da Copa, mas Maria Augusta vai além disso – realiza uma radiografia de relações sociais mediadas pelo trabalho, que, obviamente, consome a maior parte do dia de cada um dos personagens do filme.
(Alysson Oliveira, do Cineweb)
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