sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Artistas avaliam cenârio cultural de MS


Neste sábado, comemora-se 37 anos do surgimento no mapa brasileiro de Mato Grosso do Sul. Para o setor artístico e cultural sul-mato-grossense, há motivos para fazer festa. “Acompanho a cultura nos últimos 40 anos e, sem dúvida, tivemos um crescimento ímpar”, avalia o presidente da Fundação de Cultura de MS, Américo Calheiros.

O desenvolvimento cultural, as conquistas, os avanços, as melhorias a serem feitas e o debate da existência ou não de uma identidade sul-mato-grossense são temas que despertam atenção na data. “Quanto à identidade, Campo Grande é uma cidade mesclada com gente que veio de todos os lados. A gente não tem ainda uma identidade muito formada. Já Corumbá tem uma identidade forte, bem marcada”, opina a escritora Lucilene Machado. “Estamos mais evoluídos que Mato Grosso na questão cultural. Eles ainda estão tentando se definir”, conclui o bailarino e coreógrafo Chico Neller, fundador e diretor do grupo Ginga.

O então estado de Mato Grosso foi dividido em 11 de outubro de 1977, mas a cena cultural em Campo Grande  clamava por independência antes do desmembramento oficial. “A parte do sul tinha um movimento cultural bastante forte”, recorda mais uma voz do cenário cultural sul-mato-grossense, o artista plástico Humberto Espíndola. “Tanto nas artes plásticas, como na  música e no teatro. Mesmo a cidade ainda não sendo uma capital, já tinha essa força artística e aqui se batalhou pela independência”.

A coreógrafa, bailarina e diretora do estúdio Isadora Duncan, Neide Garrido, recorda que seu grupo de dança viajou até Brasília no primeiro hasteamento da bandeira oficial do então recém-criado Mato Grosso do Sul. “Eu participei ativamente das comemorações”, diz. “Foram momentos históricos”.
Para Espíndola, a grande contribuição da criação de Mato Grosso do Sul para o setor cultural foi a consequente criação das instituições públicas. “O mais importante é que se cria a Fundação de Cultura e o arquétipo da Secretária de Cultura”, enumera. “Nós tivemos várias conquistas, praticamente todas as possíveis nessa área. A universidade federal, o Marco [Museu de Arte Contemporânea de MS], que é um museu representativo da arte brasileira e não só regional, o Museu Dom Bosco, o Mis [Museu da Imagem e do Som], e até na literatura e música nós nos consolidamos”, avalia Espíndola.

HOJE

“Ainda falta muito para se conquistar” é a opinião unânime entre os artistas regionais entrevistados, mas muito já se avançou, também defendem.

“As efervescências culturais dentro de Campo Grande e de Mato Grosso do Sul, isso era impensável 40 anos atrás”, afirma Calheiros. “Fundos culturais em plena ação e ampliação da plateia são coisas que eu não esperava em um espaço de três décadas e pouco”.

O presidente da Fundação de Cultura ressalta ainda o papel decisivo dos produtores culturais, artistas e “fazedores de cultura de um modo geral”.
“Acredito até que nós no sul estamos muito mais evoluídos que o Mato Grosso”, opina Chico Neller.  “Eu tinha apenas 12 anos quando aconteceu a divisão, mas hoje, pelas viagens que faço para Cuiabá, percebo que nós já temos uma identidade e toda essa questão política mais evoluída, como o movimento 1% para a cultura, por exemplo”.
Neller ressalta ainda o projeto “Palco Giratório”, do Sesc, em que grupos de dança do Mato Grosso do Sul fazem-se muito mais presentes, participando quase anualmente. “Falta mão de obra na dança em Mato Grosso”. 

Quais são as expectativas para o futuro da cultura do Estado? “Criação de um Teatro Municipal em Campo Grande, de uma orquestra estadual e ampliação da questão orçamentária, mais investimento de todos os setores. Além de mais espaços físicos para a cultura se apresentar no Estado”, resume.
“Precisamos evoluir para chegarmos no nível dos grandes centros”, reflete Chico Neller.
A escritora Lucilene Machado aponta que, na área literária, há um longo caminho para percorrer. “Muita coisa ainda precisa ser resgatada, escrita, estudada e repassada”, diz. “As pessoas não tem acesso à informação, à literatura regional”.

Para Humberto Espíndola, o potencial existe e até sobra. O que falta para continuar o avanço do desenvolvimento cultural de Mato Grosso do Sul é o investimento. 

“Instituições nós já temos; movimentos culturais temos; artistas temos – e com muito talento”, aponta. “Falta mesmo investimento e vontade política, seja do governo ou empresariado, para melhorar a cultura”, finaliza.

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