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A inflação dos alimentos pegou em cheio a ceia de Natal deste ano, que está quase 10% mais cara em relação a de 2023. Nos últimos 12 meses até novembro, os preços no varejo de 29 alimentos mais consumidos na data subiram 9,54%.
Essa variação é exatamente o dobro da inflação geral medida pelo Índice Geral de Preços Ampliado (IPCA-15) no período, que foi 4,77%, aponta levantamento feito pela Fecomércio-SP. Para um recorte da Região Metropolitana de São Paulo, a alta de preços é ainda maior: 12,07%.
Guilherme Dietze, economista da Fecomércio-SP e responsável pelo levantamento, diz que o pano de fundo da disparada de preços dos alimentos foi a alta do dólar, que está se consolidando no patamar de R$ 6.
Mas, somado a isso, ele pondera haver fatores climáticos, como seca, além de desarranjos setoriais como quebra de safra, caso do azeite afetado, por exemplo, pela baixa produção das oliveiras na Europa.
Quem liderou o ranking dos aumentos de preços na lista do 29 itens selecionados no levantamento foi a batata (30,82%), seguida pelo azeite de oliva (28,58%), leite longa vida (21,78%), arroz (19,58%), frutas (15,54%) e carnes (11,44%).
Apesar de as carnes não terem registrado a maior variação de preço na lista analisada, pela importância que o produto tem no gasto das famílias com alimentação, um aumento na casa de dois dígitos provoca grande retração nos volumes consumidos.
O economista observa que, no caso da carne, uma combinação de vários fatores fez o preço disparar. Do lado da oferta, houve redução da disponibilidade de produto no mercado interno por causa da entressafra, aumento das exportações em razão da alta do dólar e o movimento recente de abate de matrizes.
Do lado da demanda doméstica, houve um aquecimento na procura por carne provocado pelo ganho real da renda da população, especialmente no fim de ano, com a entrada do 13º salário.
A proprietária do açougue Invernada Grande que fica no Mercado Municipal de São Paulo, Sandra Maria Zuffo, tem presenciado no dia a dia a escalada do preço da carne. Ela diz que os cortes bovinos nobres (a parte traseira) estão subindo diariamente entre R$ 0,10 e R$ 0,15 por quilo no atacado. “No final de uma semana, é muita coisa”, afirma.
O quilo do filé mignon, por exemplo, era vendido no varejo por R$ 116 na última quinta-feira, 12, ante R$ 65 três meses atrás. É uma variação de quase 80%, que acompanha a valorização que houve do preço do mesmo corte no atacado em igual período: de R$ 50 para R$ 90 por quilo.
Sandra, que atua há 24 anos no açougue da família, estabelecido desde 1933 no Mercadão, observa que neste final de ano as vendas estão muito incertas pela disparada das cotações das carnes. Por isso, ela e outros comerciantes do setor estão cautelosos e têm evitado investir em grandes estoques do produto com medo do encalhe.
Filé mignon do Natal pago no carnaval
Um saída para tentar garantir o faturamento no período, que costuma ser o melhor do ano para o varejo de alimentos, tem sido oferecer parcelamento do pagamento. Nas compras acima de R$ 500, o açougue aceita dividir em duas vezes no cartão de crédito, conta Sandra.
A depender da data de fechamento da fatura do cartão de crédito, o filé mignon da ceia de Natal será pago quase no carnaval de 2025. Neste ano, Sandra notou que há mais clientes pedindo para dividir o pagamento, enquanto no Natal do ano passado o parcelamento era irrisório.
Apesar dos aumentos de preços, sobretudo das carnes, o economista da Fecomércio-SP observa que há itens que tiveram altas mais moderadas no período, como os pescados, que encareceram 1,32%. Isso abre a possibilidade de substituição de produtos.
Também aproveitar as promoções, especialmente as ofertas disponíveis em aplicativos, sobretudo de não perecíveis, pode gerar alguma economia. Outra dica dada pelo economista é usar o Pix, sistema de pagamento instantâneo. Essa modalidade de pagamento costuma abrir a possibilidade de barganhar preços e obter descontos.
Por Márcia De Chiara
Estadão
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